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Siderurgia prevê mais um ano de retração em 2016

Movimento de demissões e desligamento de altos-fornos entre as fabricantes de aço deve continuar no cenário de contração da economia

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Por Fernanda Guimarães
Atualização:
Pessimismo. Siderúrgicas classificam a crise atual como a pior já vivida pelo setor no País Foto: Tasso Marcelo | Estadão

As siderúrgicas brasileiras enfrentarão em 2016 mais um ano de baixa demanda no mercado interno diante do cenário de retração do Produto Interno Bruto (PIB), na que já é considerada a pior recessão vivida pelo Brasil. Esse quadro é reflexo da situação de setores como o automotivo, de bens de capital e construção civil, que vêm sentindo o baque da crise política e econômica que colocou os investimentos no País em compasso de espera. Com isso, não está descartado que mais altos-fornos sejam desligados, à espera de alguma melhora do mercado.

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A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), por exemplo, é a próxima a suspender a produção de um de seus altos-fornos, na usina em Volta Redonda (RJ), o que reduzirá em 30% e produção de aço da empresa.

“O primeiro trimestre de 2016 já começará muito ruim, ainda mais na base de comparação, já que o primeiro trimestre de 2015 foi relativamente bom. O ano será difícil para as usinas, tendo em vista as projeções de queda da atividade industrial”, destaca o presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), Carlos Loureiro, que prevê para 2016 o segundo ano consecutivo de queda de vendas de aço, projetada pela entidade em 6% em relação a 2015, após retração de mais de 20% no ano passado, na comparação com 2014.

Em 2015, as usinas viram suas margens de rentabilidade cada vez mais comprimidas, com Usiminas e CSN amargando prejuízos trimestrais. Menos exposta ao aço plano e com maior diversificação regional, a Gerdau desponta como a mais bem posicionada, ancorada no fato de ter 60% de suas receitas vindas de fora do Brasil, benefício amplificado ainda pela desvalorização do real em relação ao dólar.

No entanto, até mesmo a siderúrgica gaúcha teve que se ajustar ao contexto do mercado. Além da paralisação de aciarias, a companhia já promoveu corte de pessoal e fez uso da suspensão de contratos de trabalho (lay off) e férias coletivas. A companhia já disse que, para a atual demanda, a Gerdau está ajustada, mas está monitorando o andamento do mercado.

O Instituto Aço Brasil (IABr) também prevê mais uma queda nas vendas internas neste ano, de 4% na relação anual. O cálculo é de que em 2015 as vendas de aço no mercado doméstico tenham queda de 16,3% na comparação com o volume de 2014, para 18,2 milhões de toneladas. O presidente executivo da entidade, Marco Polo de Mello Lopes, tem afirmado repetidamente que o setor vive atualmente a pior crise de sua história e que, por isso, o número de demissões deverá crescer.

Até aqui, o pior sintoma dessa crise foi a decisão da Usiminas em paralisar a atividade primária em Cubatão, na Baixada Santista. A siderúrgica mineira reportou no terceiro trimestre seu quinto prejuízo consecutivo, de R$ 1,042 bilhão, e um Ebitda ajustado (indicador de geração de caixa) negativo em R$ 65 milhões. O presidente da Usiminas, Rômel de Souza, disse, em reunião com analistas de mercado em novembro, que a companhia entende o impacto social com a paralisação temporária em Cubatão, mas que não há outra alternativa diante do atual contexto do mercado.

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Além da decisão que abateu Cubatão, a Usiminas já havia parado fornos diante da demanda enfraquecida. Para 2016, o mesmo caminho deve ser trilhado pela CSN, que deverá suspender a produção do seu alto-forno número dois em Volta Redonda (RJ), o que deverá provocar a demissões de cerca de três mil pessoas. Atualmente, a capacidade instalada de produção da CSN é de 5,6 milhões de toneladas por ano.

Com a paralisia do mercado interno, a estratégia das siderúrgicas deverá ser buscar espaço no mercado externo, na tentativa em encontrar apoio no real desvalorizado. No entanto, a ociosidade da indústria mundial, que chega em cerca de 700 milhões de toneladas anuais, de acordo com a Associação Mundial do Aço (WSA, na sigla em inglês), acaba pressionando os preços internacionais para baixo, trazendo desafios adicionais às siderúrgicas brasileiras.

Governo estuda elevar imposto de importação do aço

Para trazer algum alívio às fabricantes nacionais, o governo estuda aumentar a alíquota do imposto de importação do aço. Se a medida for confirmada, ela diminuiria a entrada do produto de fora do País, principalmente o chinês, e abriria algum espaço, mesmo que limitado, para que as usinas nacionais ampliem seus volumes de vendas no mercado interno. 

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Além da crise brasileira, que derrubou a demanda por aço na indústria, as siderúrgicas enfrentam uma competição internacional acirrada. Com a desaceleração da economia chinesa, a demanda por aço caiu e há hoje um excesso de oferta, que vem derrubando o preço da commodity no mercado internacional. Para se ter uma ideia, o preço da bobina a quente (HRC, na sigla em inglês) exportada pela China acumula queda de cerca de 40% em 2015, para US$ 259 a tonelada, de acordo com dados do índice The Steel Index.

O Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda) estima que, com o aumento da alíquota do imposto de importação do aço, o produto importado poderia passar a representar cerca de 5% do consumo aparente de aço no Brasil. Em novembro, esse porcentual foi de 9% e, de janeiro a novembro, ficou em 16%. 

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