Enquanto parte dos acadêmicos e analistas considerou a greve um sucesso, outros consideraram a mobilização fraca, por falta de gente na rua
Por Alexa Salomão
Atualização:
Acostumados aos recentes protestos, com milhares de populares tomando avenidas pelo País, a greve geral com “clima de feriado” provocou reações dúbias entre acadêmicos e analistas acostumados a observar – e interpretar – fenômenos econômicos, sociais e políticos que emergem das massas. Enquanto alguns avaliaram o “silêncio das ruas” como um sinal de baixo engajamento, outros consideraram o ato um sucesso, alegando que uma greve pressupõe a parada que se viu.
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Para uma parcela dos observadores, os piquetes pontuais em ruas vazias deixaram a impressão de que a maioria das pessoas não foi trabalhar por pura falta de opção para se locomover ou medo de represália, já que na véspera se espalhou a informação de que manifestantes iriam interditar avenidas de grandes cidades e rodovias.
A GREVE FOI FRACA Samuel Pessôa, Pesquisador do Ibre
“Fazer greve é parar porque você quer impor prejuízo para o patrão (...). Essa foi uma greve política, contra algumas medidas do governo Temer: não ir para rua, nesse caso, não é greve, é feriado.”
A GREVE FUNCIONOU Carlos Melo, Cientista político/ Insper“Podemos dizer que as corporações, seja de metroviários ou professores, deram um sinal de força. (...) Há, agora, um argumento a mais: O povo é contra as reformas.”
Nesse caso, o movimento estaria restrito a ação organizada de alguns sindicatos, corporações, grupos estudantis. Teria faltado a adesão espontânea da população, como se viu nos protestos contrários ao aumento da passagem do transporte público, em 2013, e em favor do impeachment, no ano passado.
Veja fotos da greve geral de abril
1 / 39Veja fotos da greve geral de abril
Largo da Batata foi a concentração em São Paulo
Ato Paulistano percorreu ruas e avenidas da zona oeste até a casa de Michel Temer Foto: Nilton Fukuda/Estadão
Ato contra reformas em SP
Polícia armou barreira próxima à casa de Michel Temer em São Paulo Foto: Alex Silva/Estadão
Polícia dispersa ato em São Paulo
Manifestantes saíram do Largo da Batata em direção à casa de Temer em São Paulo. Policiais usaram bombas de gás após algumas pessoas tentarem ultrapas... Foto: Nilton Fukuda/EstadãoMais
Ato no centro do Rio teve vandalismo
Manifestantes incendiaram diversos ônibus após início de confronto com PMs Foto: Wilton Júnior/Estadão
Polícia do Rio
PMs fizeram barreira em frente à Alerj para impedir que prédio fosse invadido Foto: Wilton Júnior/Estadão
Manifestação do Rio teve confronto e vandalismo
Mulher foi ferida por bala de borracha da políciano Rio Foto: Wilton Júnior/Estadão
Black blocs em Goiânia
Em Goiânia, black blocs foram monitorados o tempo todo por um cordão da PM; com grande parte do comércio fechado, inclusive os bancos, não houve incid... Foto: Marília Assunção/EstadãoMais
Faria Lima vazia
Incomum em um dia útil, a Avenida Faria Lima, na altura do largo da batata estavavazia devido àgreve geral. Foto: Foto: Amanda Perobelli/Estadão
Santos Dumont
Manifestantes protestam no salão principal do aeroporto Santos Dumont, na manhãdesta sexta-feira, 28, no Rio de Janeiro. Foto: FOTO WILTON JUNIOR/ESTADÃO
ctv-z1p-confusao-sts-dumont
Um pequeno grupo de manifestantes fecha a via de acesso ao Aeroporto Santos Dumont, no Centro do Rio, impedindo a passagem de veículos aos terminais d... Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃOMais
Manifestante no Rio
Manifestante durante protesto no Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Foto: FOTO WILTON JUNIOR/ESTADâ
Niterói
Manifestantes fazem protesto em frente à Estação das Barcas em Niterói. Foto: FOTO FABIO MOTTA/ESTAD?O
CUT
Manifestantes fizeram um cordão para bloquear a entrada da estação, perto das barcas de Niterói. Foto: FABIO MOTTA/ESTADÂO
Confusão
Membros da CUT participam da manifestação na Praça Araribóia, na cidade de Niterói. Foto: FABIO MOTTA/ESTADÂO
Zona leste de São Paulo
Manifestantes bloqueiam a Ragueb Chohfi na zona leste da capital paulista na chamada Greve Geral Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO
Ragueb Chohfi
Manifestação daz parte da greve geral em todo território nacional, organizado por inúmeras entidades e sindicatos Foto: Werther Santana/Estadão
Bloqueio
Manifestantes colocam fogo para impedir a passagem. Foto: Werther Santana/Estadão
Faixas
No protesto contra as reformas trabalhista e da Previdência, manifestantes levaram faixas com os dizeres "Não somos máquinas, somos seres humanos e te... Foto: Werther Santana/Estadão Mais
Brasília
Manifestantes também queimaram pneus e bloquearam via de acesso ao centro de Brasília. Foto: Luci Ribeiro
Avenida Francisco Morato
Estudantes secundaristas fecham a Avenida Francisco Morato sentido centro Foto: Amanda Perobelli/Estadão
Estudantes secundaristas participam da manifestação
Estudantes protestam contra as reformas trabalhista e da Previdência Foto: Amanda Perobelli/Estadão
Manifestantes dificultam a passagem de carros
Na Francisco Morato, motoristas encontram dificuldades devido às manifestações. Foto: Amanda Perobelli/Estadão
Fortaleza
Estudantesligados ao Levante Popular da Juventudefazem passeata ao longo da avenida Domingos Olímpio, no Centro de Fortaleza. Eles conduzem uma faixa ... Foto: Carmen Pompeu/Estadão Mais
Goiânia
Na marcha em Goiânia os manifestantes carregam cartazes com fotos dos deputados federais goianos que estão apoiando os projetos do governo Temer. Foto: Marilia Assunção
VLT no Rio de Janeiro
Black blocs puseram barricadas na linha do VLT na Rua Sete de Setembro, no centro Rio de Janeiro, para impedir a passagem. Os homens mascarados chegar... Foto: Constança RezenteMais
Terminal Bandeira
Foto aérea do Terminal Bandeira sem ônibus e fumaça ao fundo (à direita) de queima de pneus Foto: Enviada pela leitora Angelica Barros
Avenida Giovani Gronchi
Bombeiros começam o trabalho de desbloqueio da Avenida Giovani Gronchi, na zona sul de São Paulo Foto: Amanda Perobelli/Estadão
Bloqueio
A via foi bloqueada durante o protesto contra as reformas da Previdência e trabalhista Foto: Amanda Perobelli/Estadão
Rio de Janeiro
Um pequeno grupo de manifestantes fechoua via de acesso ao Aeroporto Santos Dumont, no Centro do Rio, impedindo a passagem de veículos aos terminais d... Foto: Marcio Dolzan/Estadão Mais
Avenida João Dias
Cerca de 30 pessoas atearam fogo em pneus na Avenida João Dias sentido centro Foto: GABRIELA BILO / ESTADAO CONTEUDO
Policiamento
Policiais tentam conter o fogo na Avenida João Dias Foto: Gabriela Biló/Estadão
Congonhas
Membros da Força Sindical se manifestam dentro do aeroporto de Congonhas Foto: Hélvio Romero
Washington Luiz
Integrantes do Sindicato dos Aeroviários fecham a Avenida Washington Luiz e a área interna do Aeroporto Foto: Hélvio Romero/Estadão
Policiamento
Polícia acompanha manifestação na AvenidaWashington Luiz Foto: Hélvio Romero/Estadão
Manifestação
Após protestar pelo Aeroporto de Congonhas, manifestantes do Sindicato dos Aeroviários bloqueiam parte dos balcões de check-in da Latam. O grupo chego... Foto: Celso FilhoMais
Estação Itaquera
Categorias que representam os trabalhadores do sistema de transporte público da capital paulista aderiram àgreve geral Foto: Felipe Rau/Estadão
Itaquera
Trabalhador faz uma selfie na estação Itaquera Foto: Felipe Rau/Estação
Bancos protegem suas fachadas no Rio
Na noite da quinta-feira, bancos cercaram suas fachadas com tapumes no Centro do Rio Foto: Wilton Junior/Estadão
Consolação
Na rua da Consolação, agências bancárias também fecharam suas fachadascom tapumes contra depredação que podeocorrer durante manifestações Foto: Nilton Fukuda/Estadão
“Não poderia haver silêncio nas ruas porque essa greve teve uma natureza diferente das greves por salários, como a dos metalúrgicos”, diz o pesquisador Samuel Pessôa, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).
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E Pessôa explica o ponto de vista: “Fazer greve é parar porque você quer impor um prejuízo para o seu patrão; é usar um instrumento de barganha na relação conflituosa entre capital e trabalho, mas essa foi uma greve puramente política, contra algumas medidas do governo Temer: não ir para rua, nesse caso, não é greve, é feriado.”
Essa também foi a percepção do economista-chefe da Rio Bravo, Evandro Buccini, que teve ontem um dia de trabalho comum. Ficou para ele a percepção de que a mobilização deixou a desejar. “Pareceu um movimento isolado, com impacto baixo, mas se mobilizações similares se repetirem nas próximas semanas, posso reconsiderar a avaliação”, disse Buccini.
Sinal de força. O cientista político Carlos Melo, professor do Insper e colunista do Estado, tem a análise oposta. “Podemos dizer que as corporações, seja de metroviários, motoristas de ônibus ou professores, deram um sinal de força”, diz ele. Como essas são as categorias com capacidade de articulação e pressão política, avalia Melo, a greve tende a ecoar negativamente sobre a votação das reformas, em especial da reforma da Previdência, que sofre mais resistência.
“Deputados que já criavam problemas para o governo, com medo de votar, percebem que as corporações estão organizadas. Na base, elas podem pressioná-lo ainda mais: colocar a foto, o nome e o voto dele em cartazes. Há, agora, um argumento a mais: o povo é contra as reformas.”
CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE
O “feriadão” nacional também seria um alerta. Foi sinal de adesão. Seja por falta de transporte público, vontade ficar em casa ou protesto de fato, para os padrões desse tipo de mobilização, gente demais aderiu.
“Não deixa de ser até certo ponto surpreendente que o movimento tenha se estruturado nacionalmente, algo que não é frequente na história do Brasil: á última greve nacional do gênero ocorreu em 1996”, diz Ruy Braga, chefe do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP).
Braga lembra que greves gerais são difíceis de construir em qualquer lugar do mundo, porque exigem um nível elevado de integração entre movimentos sociais, sindicais e instituições muito diferentes. “O consenso é sempre complicado, mas aparentemente o consenso foi alcançado na reação a mudanças na lei trabalhista e, principalmente, na Previdência”, diz ele.