ATENAS - No dia seguinte ao plebiscito em que 61% dos gregos disseram “não” às condições para negociação de sua dívida com a União Europeia, Atenas acordou enfrentando os problemas anteriores à euforia vista no domingo à noite na grande praça em frente ao parlamento grego. Os bancos, previstos inicialmente para abrir hoje, devem ficar fechados. O limite de retirada de € 60 poderá ser reduzido nos próximos dias, à medida que o tique-taque do relógio aponta para a Grécia que seus bancos estão muito próximos do colapso. Para a população, não há nada a fazer senão esperar e tocar a vida normalmente. É o que todos tentam fazer em um cenário atípico. No centro de Atenas, a situação era muito parecida com a da semana passada. As filas seguiam grandes nos caixas eletrônicos - especialmente os do Banco Nacional da Grécia. Houve relatos de aposentados sem cartão de débito que tiveram dificuldade para sacar a pensão na boca do caixa. A população não parece esperar que a ameaça ao sistema bancário do país seja resolvido do dia para a noite. “Acho que os bancos, na melhor das hipóteses, vão abrir a partir de quarta”, disse um grego, que não quis se identificar, após retirar sua cota de € 60 de uma máquina automática.
Como não houve nenhum avanço claro em relação ao socorro para os bancos gregos - já que as renegociações com os credores recomeçam oficialmente hoje, com a apresentação de nova proposta do primeiro-ministro Alexis Tsipras -, os bancos gregos e seus correntistas deverão continuar a viver clima de suspense. Nesta segunda-feira, o governo não fez anúncio oficial, mas indicou que as agências podem ficar fechadas até sexta-feira. O Ministério dos Transportes estendeu até sexta a gratuidade do transporte público em Atenas - a medida foi inicialmente atrelada ao limite de saques, já que o orçamento das pessoas ficou mais apertado. Nesta segunda-feira, diversas agências bancárias de Atenas chegaram até a abrir as portas. Ao contrário do que ocorria na semana passada, os clientes podiam entrar - algumas unidades estavam lotadas -, mas a quantidade de operações disponíveis continuava bastante limitada. “O cliente pode fazer transferências para outros bancos da Grécia de até € 1,5 mil, pagar contas de cartão de crédito, por exemplo”, explicou um funcionário do Pirieus Bank ao Estado. Todas as operações permitidas tentam garantir que o dinheiro se mova apenas dentro do sistema bancário grego. A situação dos bancos é precária. A liquidez do sistema depende de um aporte do Banco Central Europeu (BCE) nos próximos dias. O ministro da Economia, Giorgos Stathakis, disse esta segunda-feira à BBC que é imperativo que o acordo para um crédito emergencial do Banco Central Europeu (BCE) saia em 48 horas. Já há notícias de caixas eletrônicos que só têm notas de € 50, o que reduz em € 10 a “ração” diária de dinheiro dos gregos que usarem as máquinas. Nos próximos dias, o limite pode ser reduzido oficialmente.Espera. Vivendo há oito anos na Grécia, o imigrante sírio Hayan Ajord, 30 anos, considera os tempos difíceis no país e não vê solução para os problemas no curto prazo, mas diz que o resultado das eleições pelo menos pode ser o indicativo de mudança. “A Grécia precisa pensar em si mesma, ter uma economia própria, assim como têm a França e a Alemanha”, disse. “Eu acho que o voto no ‘não’ foi correto. Pelo menos começou a luta por algo novo.” Caso as negociações abram espaço para a retomada do crescimento, como defende o governo atual, o arqueólogo desempregado Antonis Giannios, de 37 anos, não acredita que a permanência no euro vá trazer melhores condições de vida para a população. “Acho melhor que voltemos para o dracma e comecemos tudo do zero.”