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Mercado de trabalho volta a fechar vagas na 2ª semana de julho; 40,5 milhões estão sem emprego

Segundo o IBGE, resultado ficou acima dos 12,3% dos primeiros dias do mês; total de desempregados chega a 12,2 milhões

Por Vinicius Neder
Atualização:

RIO - O mercado de trabalho voltou a cortar vagas na segunda semana de julho, pela terceira vez seguida, enquanto o contingente de brasileiros sem emprego chegou a 40,5 milhões, na soma dos desempregados com as pessoas que estão fora da força de trabalho, mas gostariam de trabalhar. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Covid (Pnad Covid), divulgada nesta sexta-feira, 31, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a redução da população ocupada sinaliza para o fechamento de 2,813 milhões de postos, formais e informais, desde a primeira semana de maio, quando começou a nova pesquisa.

O contingente de trabalhadores ocupados em atividades tidas como informais somou 27,6 milhões na semana de 5 a 11 de julho Foto: Arquivo/Agência Brasil

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Na semana de 21 a 27 de junho, a Pnad Covid apontou o primeiro corte significativo de vagas de emprego após sete semanas de relativa estabilidade. Da primeira semana de maio até meados de junho, o total de ocupados vinha girando em torno de 84 milhões, sempre com variações pouco significativas. A estabilidade apontava para uma freada nas perdas de empregos – seja com demissões, seja com trabalhadores informais desistindo de trabalhar –, mas tudo mudou na terceira semana de junho, com o corte de 1,4 milhão de vagas em relação à semana anterior.

Os dados divulgados nesta sexta-feira, 31, confirmaram o movimento de piora. Houve cortes de vagas tanto na semana de 28 de junho a 4 julho (menos 752 mil postos) quanto na semana de 5 a 11 de julho (663 mil a menos). Quase a totalidade dos 2,8 milhões de postos de trabalho cortados na comparação com o início de maio foi perdida entre meados de junho e a segunda semana de julho, mostram os dados do IBGE.

Economistas vêm chamando a atenção para a forma inédita como o avanço da pandemia de covid-19 e as medidas de isolamento social para tentar contê-la atingiram o trabalho, com paradas abruptas nas atividades ou ao incentivo ao “home office”. Entre as características inéditas, o total de desempregados não explodiu – os estudos sobre mercado de trabalho, conforme padrões internacionais, só consideram desempregada a pessoa que está sem uma vaga, mas tomou alguma atitude para conseguir trabalho. Com a pandemia, num primeiro momento, quem perdeu o emprego ficou impedido de procurar uma nova oportunidade.

Economistas já vinham alertando que, à medida que a economia for reabrindo, o desemprego subirá, pois trabalhadores que vinham encontrando dificuldade para buscar uma vaga começarão a correr atrás. Esse processo vem sendo observado semana a semana na Pnad Covid. Na semana de 5 a 11 julho, eram 12,234 milhões de desempregados, levando a taxa de desemprego a 13,1%, ante 10,5% na primeira semana de maio. De lá para cá, são 2,417 milhões de desempregados a mais – o número é inferior ao de vagas cortadas, porque parte dos trabalhadores que perdeu o emprego pode ter desistido de procurar uma ocupação, saindo da força de trabalho.

Na segunda semana de julho, eram 28,265 milhões fora da força de trabalho, mas que gostariam de trabalhar, 1,212 milhão a mais do que na primeira semana de maio. Na soma dessa massa com o total de desempregados, se chega ao total de 40,5 milhões de trabalhadores sem empregos no País.

Só que, para além do esperado crescimento da fila de desocupados por causa do aumento do número de trabalhadores buscando uma oportunidade, as dados das últimas semanas da Pnad Covid apontam para uma piora via novas rodadas de demissões.

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Parte dos demitidos pode estar no grupo dos trabalhadores que mantiveram seus vínculos, mas estavam afastados por causa da pandemia. Na semana de 5 a 11 de julho, 7 milhões estava nessa situação, 1,249 milhão a menos do que uma semana antes. No início de maio, eram 16,589 milhões empregados afastados por conta da pandemia.

Enquanto o total de ocupados oscilava em torno da estabilidade, semana após semana, a queda no grupo de afastados sinalizava apenas para a reabertura das atividades. Com as novas rodadas de fechamento de vagas, entre meados de junho e meados de julho, em vez de voltarem ao trabalho, os afastados podem estar sendo demitidos. Na quinta-feira, 30, o IBGE mostrou que, da primeira para a segunda quinzena de junho, 411 mil empresas reduziram a quantidade de empregados.

Para piorar, o corte de vagas não está atingindo apenas os trabalhadores formais. Dos 2,8 milhões que perderam o emprego do início de maio à segunda semana de julho, 2,381 milhões estão em ocupações consideradas informais pelo IBGE. A redução desse tipo de vaga é atípica, pois, na maioria das crises, cresce o contingente de empregados na informalidade. Os “bicos” funcionam como uma alternativa ao desemprego, uma característica do mercado de trabalho brasileiro.

Diferentemente do trabalhador formal, que perde o emprego após a demissão, o informal deixa de trabalhar, talvez por falta de demanda. É o caso de vendedores ambulantes que desistem de ir trabalhar nos centros financeiros das cidades, vazios diante dos escritórios fechados.

“Talvez esteja mais difícil para o trabalhador dispensado conseguir arrumar uma outra coisa de forma informal”, afirmou a coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE, Maria Lúcia Vieira.

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