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Temer quer ser pop

O presidente vai entregar seu governo com o ajuste fiscal incompleto

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Por Adriana Fernandes
Atualização:

O governo já trabalha internamente com a possibilidade de a economia crescer 3,4% em 2018. É bem mais do que os 2,5% previstos no final de 2017 e dos 3% estimados agora no início deste ano. Os números – mantidos ainda em caráter reservado – animaram o Palácio do Planalto.

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Esse ritmo mais quente da atividade econômica deve ficar mais claro para a população justamente na véspera da eleição. É com essa melhora do crescimento, foco na agenda de segurança pública e a retirada da impopular reforma da Previdência da pauta de votação da Câmara que setores do MDB renovaram a aposta numa candidatura do presidente Michel Temer. O plano “A” do presidente desde o início do seu governo em maio de 2016.

Sem a indigesta reforma da Previdência no caminho, o sentimento foi de alívio geral. Foram meses jogando na retranca sobre os ataques dos movimentos contrários e generalizados contra a reforma que fragilizaram o presidente. Ninguém fala abertamente, mas o governo estava refém da pauta emergencial da Previdência e agora se livrou dela para focar numa agenda de apelo popular.

É preciso que fique claro que essa agenda popular não é a mesma que o governo enviou ao Congresso com 15 projetos apontados como prioritários. Boa parte dessas propostas já tramitando na Câmara e no Senado há algum tempo e sem avanços significativos.

A agenda pop é aquela que os ministérios trabalham para garantir medidas positivas e de forte apelo junto à população. Uma receita muito bem conhecida. Ela deve sair do forno a partir de maio, quando, se espera, o nome do candidato do governo nas eleições já estará decidido.

É a agenda que realmente conta e que prevê reajuste dos benefícios do Bolsa Família, tabela do IRPF, recursos adicionais aos Estados com a bandeira da segurança e tantas outras medidas pontuais para agradar setores específicos que estão em gestação.

A série de eventos que podem influenciar no trabalho do Parlamento, como feriados, janela para troca de partido, reforma ministerial, Copa do Mundo, São João, convenções partidárias e o início da campanha eleitoral, vão reduzir as semanas de trabalho no Congresso.

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O tempo útil é muito pequeno e a falta de consenso em muitas dessas propostas impede um esforço concentrado de votação, como quer o governo. Sem falar na resistência aberta à agenda dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Eunício Oliveira. Eles não vão dar moleza ao Palácio e já deixaram isso bem claro com a desculpa de sempre da necessidade de protagonismo do Congresso na definição da sua pauta de votação.

Portanto, não se deve esperar muito da Agenda 15 divulgada no atropelo do anúncio do adiamento da reforma. Ela cumpre muito mais a tarefa de funcionar como um “ancora” para o discurso pós-Previdência e que manterá agitando o Congresso enquanto nos bastidores o jogo político eleitoral se apresenta.

Como mostrou levantamento do pesquisador Manoel Pires, do Instituto Brasileiro da Economia (Ibre), o Congresso, de 2015 até 2018, não deu apoio às medidas de ajuste permanentes para reduzir as despesas. Não será agora, na véspera das eleições, que o fará. Pode-se dizer que o teto de gasto foi aprovado. Mas ele, como muito já se disse, não resolve o aumento acelerado das despesas obrigatórias.

Temer vai entregar o seu governo com o ajuste incompleto. E é por essa razão que a tração do crescimento de agora pode não durar muito mais do que dois anos e se resumir a mais um voo de galinha. Os políticos continuam achando que o aumento das receitas tudo salva. A ladeira abaixo da nota do Brasil dada pelas agências de classificação de risco – ratificada ontem com mais um rebaixamento da Fitch – mostra que a confiança no futuro já não é mais a mesma de 15, 18 meses atrás. Péssimo começo para o próximo presidente.

* É COLUNISTA DO BROADCAST

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