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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Tempo de semear

A safra de grãos de 2015-16 foi muito prejudicada pelo clima e o impacto nas contas bancárias impõe desafios para o próximo plantio

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O agronegócio levou algumas pauladas ao longo da safra de grãos de 2015-16. A falta de chuvas derrubou em nada menos de 10,3% a produção, a recessão que destruiu renda prejudicou os negócios e a queda das cotações das commodities atingiu as receitas.

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As consequências ruins não podem ser varridas dos relatórios. Mas, apesar dos pesares, a recuperação parece a caminho e, com ela, a cicatrização das feridas do setor.

Um dos impactos mais relevantes provocados pela quebra da safra passada aconteceu nas contas bancárias. “Os fornecedores de sementes e de insumos acusam atrasos de pagamento de cerca de 30%” – reconhece o presidente da Associação dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja), Marcos da Rosa. Isso mostra certa perda de fôlego financeiro.

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O professor Lucilio Alves, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo, não esconde sua preocupação com as margens apertadas: “Tem muito produtor que não conseguiu colheita suficiente para pagar as dívidas”.

Choradeira com as agruras do setor é acontecimento recorrente entre os produtores agrícolas, mas, desta vez, isso parece estar contando mais do que antes. Lucilio observa que, em 2016, o aumento de custos, entre 5% e 10% em relação a 2015, enfrentou a contramão da baixa das commodities e não pode ser compensado com mais faturamento, como em anos anteriores.

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As vendas de fertilizantes para o próximo plantio aumentaram em 10% no mês de agosto na comparação com o mesmo mês do ano passado, o que, em princípio, indica boa disposição de plantio. Mas isso, por si só, não garante a volta por cima. “Antes, é preciso equacionar o problema da inadimplência, fator que restringiu o acesso ao crédito” – observa Da Rosa. Não há fertilizante melhor para a safra do que crédito farto e barato. Se os problemas aí não forem equacionados, serão inevitáveis as quebras de produtividade.

O secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller, reconhece os problemas. Mas não acredita que estraguem o cenário à frente. “Quantidade considerável de soja e milho foi vendida no mercado futuro quando o câmbio estava bem mais alto.” Isso sugere que o pessoal continua animado.

Apesar dos problemas acima relatados, ele aponta como fator favorável a maior descentralização das operações de crédito rural. Este era tradicionalmente o terreiro em que dominava o Banco do Brasil. Mas os bancos privados vêm assumindo fatias cada vez maiores do mercado. Esse aumento da concorrência não deixa de ser saudável, porque aumenta as opções para o produtor.

O relativo otimismo é compartilhado pelos organismos que medem os resultados. A consultoria Céleres prevê aumento de 5% na produção de soja e de 20% na de milho de verão, por exemplo. Mas as projeções ainda são frágeis e, se forem confirmadas, mal tirarão o atraso produzido pelas quedas de produção deste ano. E ainda é preciso ver o comportamento dos preços futuros. / COM RAQUEL BRANDÃO

CONFIRA:

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O setor de serviços, que andava prostrado, parece em recuperação. Cresceu 0,7% em julho sobre junho. Na acumulada do ano até julho, ainda aponta um número ruim: queda de 4,8% e, no período de 12 meses terminado em julho, queda de 4,9%. 

Imigração na Alemanha

O Escritório Federal de Estatísticas da Alemanha informou nesta sexta-feira que a população de origem imigrante atingiu no ano passado o recorde de 17,1 milhões ou 21% da população.

O aumento em relação a 2014 foi de 4,4%, o que indica a força desse segmento demográfico.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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