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Transgênicos. Comida! Comida!

Por Luiz Gonzaga Bertelli
Atualização:

É provável que, num futuro distante, 17 de maio de 2016 seja considerada uma data histórica. Nesse dia, a Academia de Ciências dos EUA informou oficialmente que os alimentos transgênicos não fazem mal à saúde, conclusão baseada em meticulosa investigação que somou 900 estudos científicos, dos quais participaram 50 especialistas. O trabalho se concentrou principalmente em milho, soja e algodão, que se tornaram produtos essenciais para atender às necessidades de sobrevivência da humanidade, em preocupante expansão demográfica, já que hoje 800 milhões de pessoas passam fome no mundo.

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Nesse sentido, os números da Food Agriculture Organization (FAO), órgão da ONU que zela pela segurança alimentar, confirmam as apreensões. Conforme projeções, em 2050 seremos cerca de 9 bilhões de pessoas, com a possibilidade de chegarmos a 10 bilhões até o fim do século. Hoje, em média, 83 milhões de seres humanos chegam ao planeta por ano. A megamultidão exige que a produção de alimentos seja duplicada ou triplicada nos próximos 40 anos. Hoje, a mesma FAO estima a existência de 800 milhões de famintos em todo o mundo.

Atender à demanda alimentar prevista é tarefa hercúlea, mas não impossível. A principal barreira está na limitação da exploração de solo, esclarece o pesquisador Harald von Witzke, da Universidade Humboldt, de Berlim. Portanto, a chave da solução, aliás, bem conhecida, está na produtividade, isto é, mais comida por metro quadrado cultivado. Apenas 40% dos 140 milhões km²da superfície da Terra – os outros 370 milhões km²estão cobertos pelo mar – são aproveitados principalmente para cereais (16 milhões de km²) e pecuária (30 milhões de km²). Acresce que são mínimas as possibilidades de avanço, seja pela extrema infertilidade de muitas áreas, seja pela necessidade de preservar florestas e mangues. Além disso, lembre-se de que a agricultura é responsável por 30% da emissão dos gases que provocam o efeito estufa.

A história da agricultura mostra, desde as primeiras experiências genéticas com sementes feitas a partir de 1865 pelo austríaco Gregor Mendel, que a produtividade sempre foi alavancada pela ciência. A propósito, é agradável lembrar que o Brasil responde por 60% da produção de suco de laranja do planeta, façanha que devemos ao agrônomo Sylvio Moreira, autor de pacientes estudos e enxertos sucessivos durante os anos 1950. A realidade é que o avanço da ciência traduzido em alimentos transgênicos dá novas esperanças à procura do aumento de produtividade para suprir a carência de comida. Acresce que a tecnologia de modificar sementes propicia vantagens adicionais à produção pura e simples. Basta lembrar que as culturas, além de ganhar resistência a pragas e fenômenos naturais adversos, como carência de água e mudanças climáticas, podem ser enriquecidas com elementos nutricionais indispensáveis ao organismo humano, como ferro, zinco e vitamina A, combatendo simultaneamente o perigo silencioso da subnutrição.

Finalmente, o novo modo de cultivar reduz custos, aumentando o acesso de populações carentes à mesa. Convém lembrar, a título de enriquecer o debate sobre o tema, que entidades ambientais respeitáveis, como o Greenpeace, se opõem aos transgênicos, utilizando argumentos ecológicos e econômicos. No primeiro caso, suspeitam que poderá haver efeitos danosos sobre o meio ambiente; no segundo, desconfiam da possibilidade de monopólio da produção de comida em escala pelas empresas detentoras de patentes relativas às sementes modificadas.

O parecer da Academia de Ciências dos EUA paira acima dessa discussão, trazendo um aceno de alívio. Ao isentar transgênicos, aponta um caminho concreto para resolver a questão crucial da fome futura. Os eventuais problemas decorrentes do novo manejo agrícola, embora relevantes e merecedores de atenção, oferecem a chance de serem remediados pela mesma ciência, caso venham a ser confirmados.

*É presidente do Conselho de Administração do CIEE-SP, presidente do Conselho Diretor do CIEE Nacional, diretor e conselheiro da FIESP-CIESP

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