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Transporte de cargas emperra na hidrovia Tietê-Paraná por falta de água

Ao menos oito comboios, carregados com de 38 mil toneladas de produtos, tiveram de paralisar o transporte à espera de água suficiente para fazer a travessia na eclusa

Por Chico Siqueira
Atualização:

SÃO PAULO - O transporte de cargas voltou a emperrar na hidrovia Tietê-Paraná, em Buritama, no interior paulista nos dois últimos dias. Ao menos oito comboios - carregados com de 38 mil toneladas de soja, farelo de soja, madeira e celulose - tiveram de paralisar o transporte à espera de água suficiente para fazer a travessia na eclusa da hidrelétrica de Nova Avanhandava. O problema ocorre porque devido à estiagem e ao uso da água para fabricação de energia, a hidrovia fica sem profundidade suficiente para possibilitar a navegação de grandes comboios.

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A crise na hidrovia causou uma evasão de 3,9 milhões de toneladas de produtos, que tiveram de ser escoados por rodovia entre os meses de fevereiro, março e abril deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado, causando um gasto, só com fretes, de R$ 706 milhões, segundo o Departamento Hidroviário, que gerencia a hidrovia. No mesmo período, o número de eclusagens caiu de 757 para 283. A perda ocorre devido à demora das embarcações em completar o ciclo de viagens e à redução do volume de cargas que transportam.

Para evitar a paralisação total da hidrovia -- o que poderá ocorrer ainda nesta semana, se os operadores não tomarem medidas de emergência --, são realizadas as chamadas "ondas de vazão", operação especial que turbina a geração de energia na usina de Nova Avanhandava para aumentar o nível da hidrovia e viabilizar a travessia da eclusa. A operação possibilitou que dois comboios, carregados com 9 mil toneladas de soja, que estavam na fila desde segunda-feira, 5, conseguissem atravessar a eclusa na manhã desta terça-feira. 6. Mas no início da noite, outros seis comboios ainda aguardavam a realização de nova operação para fazer a travessia.

De acordo com Casemiro Tércio de Carvalho, diretor do Departamento Hidroviário (DH), responsável pelo gerenciamento da hidrovia, a expectativa era de que a AES Tietê, que opera a eclusa, fizesse nova onda de vazão, ainda na noite desta terça-feira ou manhã de quarta. Mas o problema é que outros seis comboios - com 27 mil toneladas de soja, celulose e madeira - ainda estão no trecho e para eles não há garantia de que haverá condições de fazer a travessia.

"Não temos como garantir a travessia porque a AES recebeu aviso do Operador Nacional do Sistema (ONS) de que não poderá mais fazer as ondas de vazão", afirmou. Se isso ocorrer, as cargas deverão ser retiradas e transbordadas para que os comboios, mais vazios, possam fazer a travessia. Segundo o Carvalho, o DH programou uma reunião de emergência, com operadores, ONS e Departamento de Águas e Energia (Daee) nesta quarta-feira para discutir a crise na hidrovia.

O fluxo do tráfego é programado por meio do Plano Mensal de Operação (PMO), que o Operador Nacional do Sistema divulga toda sexta-feira, estabelecendo os limites mínimos de navegação, baseados nas cotas marítimas. É pelos PMOs que as operadoras delimitam o volume de carga a ser transportado. O volume normal para a região é de 6 mil toneladas, mas está em 4,5 mil e vai ser a partir de hoje reduzido para 4,2 mil toneladas, isso porque o calado no trecho crítico, na usina de Nova Avanhandava, será rebaixo de 2,30 metros para 2,20 metros, isso com ondas de vazão.

De acordo com Carvalho, um dos problemas é que as previsões indicam que as cotas estabelecidas no PMO também estão reduzidas, e os reservatórios com o nível caindo a cada dia, o que indica que nos próximos dias o nível para navegação será ainda menor. "Se essas ondas de vazão não forem mais realizadas, o transporte para totalmente", diz o gestor da hidrovia.

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A assessoria da AES informou apenas que a empresa "alinhou com o ONS e com o Departamento Hidroviário o procedimento 'onda de vazão' para o translado das embarcações que ainda estão esperando a eclusagem". 

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