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TRF abre 5 sindicâncias contra ex-juiz de Eike

Processos disciplinares investigarão uso indevido dos bens do empresário e desvio de dinheiro; magistrado pode ser demitido do serviço público

Por Mariana Durão
Atualização:
Flavio Roberto de Souza, em seu apartamento de R$ 1 milhão, no Rio de Janeiro Foto: MARCOS DE PAULA/ESTADÃO

RIO - O Órgão Especial do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2) decidiu ontem instaurar cinco processos administrativos disciplinares contra o juiz federal Flávio Roberto de Souza, afastado do caso Eike Batista após ser flagrado dirigindo um Porsche Cayenne apreendido pela Polícia Federal na casa do empresário. Os procedimentos foram abertos com base nas sindicâncias conduzidas pela Corregedoria Regional e em uma varredura realizada na 3ª Vara Federal Criminal, da qual Souza era titular.

Além dos fatos envolvendo a ação penal contra o ex-bilionário, o TRF apura outras irregularidades, como o desvio de recursos de outros dois processo criminais. O tribunal confirmou o afastamento do juiz por tempo indeterminado.

O advogado de Souza, Renato Tonini, chegou a pedir a aposentadoria de seu cliente por invalidez, alegando problemas psiquiátricos, informou o tribunal. Segundo a defesa, isso explicaria as irregularidades praticadas nos processos que conduzia na 3ª Vara Criminal do Rio. Tonini citou licenças médicas sucessivas concedidas ao juiz.

Em reportagem publicada no início da semana, o juiz disse ao Estado que não tinha medo de ser preso e que, desde seu afastamento, tem se dedicado à práticas budistas e composição de músicas, para sair da depressão, embora nenhum dos laudos médicos até aqui tenha constatado problemas psiquiátricos.

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O primeiro processo disciplinar é relativo ao uso indevido do carro e do piano de Eike Batista pelo juiz. O segundo trata das declarações prestadas por Souza à imprensa após o episódio com o Porsche, quando afirmou que o uso de bens apreendidos por magistrados seria uma prática normal. Um terceiro julgará o desvio de R$ 830 mil (US$ 150 mil e de 108 mil), apreendidos em um processo por tráfico internacional de drogas.

Será analisada ainda a acusação de apropriação de recursos de Eike e, no quinto processo, desvio de dinheiro da venda antecipada de bens apreendidos em outra ação penal. Os relatores dos processos serão os desembargadores federais Ivan Athié, Marcus Abraham, André Fontes, Reis Friede e Nizete Lobato.

O Órgão Especial decidiu suspender o sigilo nos processos administrativos porque as diligências nas sindicâncias já foram cumpridas, assim como as medidas para rastrear os valores desviados pelo juiz. O corregedor regional Guilherme Couto acredita que a maior parte dos recursos será recuperada nos próximos dias, mas o juiz poderá ser obrigado a ressarcir o que não tiver sido devolvido.

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Os processos deverão ser concluídos em 140 dias. Souza poderá sofrer sanções como advertência, remoção forçada, aposentadoria compulsória e até mesmo demissão do serviço público.

Além de ter dirigido o carro de luxo de Eike, Flávio Roberto de Souza levou para o seu condomínio outros veículos e um piano de cauda. Os bens foram bloqueados para garantir indenizações caso Eike fosse condenado por crimes contra o mercado de capitais. O juiz também é alvo de um inquérito em que o MPF apura, entre outras coisas, crimes como peculato e lavagem de dinheiro.

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