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Trichet pede a governos europeus que cumpram o combinado em julho

Presidente do BCE alertou que a crise pede uma governança econômica sólida entre os países do bloco 

Foto do author Cynthia Decloedt
Por Cynthia Decloedt (Broadcast) e da Agência Estado
Atualização:

O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, pediu aos governantes na zona do euro que implementem imediatamente as medidas concordadas na reunião de cúpula de julho, para conceder à Grécia um novo pacote de ajuda, já que algumas nações agora questionam as propostas.

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Trichet disse também que a crise financeira global revelou a necessidade de governança econômica sólida entre os 17 países da zona do euro, por meio de advertências e sanções automáticas para países que não cumpram as regras fiscais.

Os comentários seguem-se ao efeito extremamente negativo da crescente deterioração fiscal na Grécia, enquanto os governos da zona do euro debatem o segundo programa de ajuda ao país. A disputa entre a Finlândia para obter garantias da Grécia em troca da participação do país no pacote criou um grande impasse no debate sobre a segunda ajuda, potencialmente atrasando o desembolso dos recursos.

As dúvidas sobre o segundo pacote de ajuda à Grécia foram também realimentadas pela suspensão na sexta-feira da visita de avaliação das metas da Grécia pelas equipes de inspetores do FMI, BCE e União Europeia em consequência da falta de consenso sobre os números. A avaliação faz parte do processo para que a Grécia receba mais uma tranche da ajuda aprovada no ano passado para o país.

Durante uma conferência organizada pelo Instituto Montaigne, sediado em Paris, Trichet afirmou haver "necessidade imediata" de implementação das decisões tomadas na cúpula de 21 de julho para dar à Grécia o segundo pacote de ajuda.

Observando que a crise financeira global ressaltou a "extrema fragilidade" do sistema financeiro global, Trichet disse que as reformas para que o setor seja mais resistente são apenas metade do caminho. "Muito resta a ser feito" para melhorar a regulação dos bancos sistêmicos e das instituições não bancárias, disse Trichet.

Ele repetiu que é preciso acelerar as reformas estruturais na zona do euro para favorecer o crescimento potencial do bloco, acrescentando que a falta de progresso está escondendo a expansão e a criação de emprego. Trichet usou o exemplo das reformas do mercado de trabalho da Alemanha do início da década de 2000, que permitiram a queda da taxa de desemprego no país durante a crise.

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"A crise revelou claramente a necessidade de forte governança econômica na zona de moeda única. Sob a pressão da crise global, há consenso sobre fortalecer substancialmente o Pacto de Estabilidade e Crescimento", observou.

Como a zona do euro pagou um "preço elevado" pelo enfraquecimento do Pacto de Estabilidade e Crescimento em 2005, Trichet disse que o BCE está discutindo com o Parlamente Europeu como ampliar a supervisão fiscal no bloco.

Os países da zona do euro tentam fechar um acordo sobre regras mais rígidas de supervisão econômica e fiscal no bloco, mas a aprovação das propostas está emperrada por conta de discordâncias entre os governos e o Parlamento Europeu. O Parlamento quer introduzir mais consequências automáticas para países que não cumpram as metas de déficit e dívida, enquanto os governos dizem já terem negociado o máximo possível.

Trichet reiterou defesa à proposta de um ministro das finanças para o bloco no médio ao longo prazo, o qual seria responsável pela disciplina fiscal de todo o grupo e também monitoraria o sistema financeiro da zona do euro.

"Acredito que as nações europeias irão criar uma confederação e poderão então ter um ministro das finanças, cuja missão seria a supervisão de toda a zona e poderia impor decisões" aos governos que quebrem as regras, afirmou Trichet.

Ele disse que no médio prazo, medidas corretivas devem ser decididas unilateralmente pelas instituições europeias para países que repetidamente rompam as regras de déficit orçamentário e endividamento.

"No futuro, podemos imaginar que se um país não implementar medidas de correção, apesar de repetidas advertências para fazê-lo, essas medidas serão tomadas pelo centro do mercado único europeu, de modo que entrem em vigor imediatamente", disse.

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Trichet também lembrou que tal evolução irá exigir mudanças nos tratados na zona do euro. As informações são da Dow Jones.

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