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Twitter vende dados de seus usuários

Duas empresas, Boulder Gnip e DataSift, vão oferecer para terceiros o histórico de informações publicadas no serviço de microblogs

Por REUTERS
Atualização:

Os usuários do Twitter estão prestes a contribuir enormemente para as pesquisas de marketing em todo o mundo. Isso porque o serviço de microblogs vendeu o acesso ao seu banco de dados para duas empresas de pesquisa, que vão revender as informações dos usuários (de perfil, de localização, tweets, tudo que tiver sido postado como público na rede) para clientes que estejam dispostos a pagar pela exploração desses dados.As empresas Boulder Gnip, sediada no Colorado, e DataSift, com base no Reino Unido e em San Francisco, foram licenciadas pelo Twitter para analisar tweets arquivados e informações básicas sobre os usuários, como dados de localização. A DataSift anunciou esta semana que vai oferecer para empresas informações do Twitter em pacotes que vão abranger os dois últimos anos de atividade na rede, enquanto a Boulder só poderá divulgar dados de até 30 dias atrás.Mais de 700 empresas estão em uma lista de espera para experimentar o que a companhia tem a oferecer, disse o presidente da DataSift, Rob Bailey. Aqueles que comprarem as informações poderão ver tweets sobre tópicos específicos e até isolar mensagens baseando-se na localização do usuário. Bailey, que vive em San Francisco, disse que o efeito é algo como ter em mãos grupos reflexivos esporádicos sobre marcas e produtos.Por exemplo, a Coca-Cola poderia olhar o que as pessoas em Massachusetts estão dizendo sobre a Coca Zero, ou a Starbucks poderia descobrir o que as pessoas estão dizendo sobre suas bebidas de caramelo. As empresas também podem ver como elas responderam a reclamações de consumidores.A Boulder, que oferece um pacote de dados de curto prazo, afirmou que as informações coletadas - que envolvem consultas em tempo real - também podem ser usadas durante desastres naturais para ajudar equipes de resgate, ou podem monitorar doenças como um surto de gripe, ou analisar o comportamento do mercado de ações.Preocupação. "Coletar o que alguém publicou há um ano ou mais é algo que muda o jogo", diz Paul Stephens, diretor de política e advocacia da Privacy Rights Clearinghouse, em San Diego. Conforme detalhes sobre o tipo de informação que serão explorados aparecem, ele e outros especialistas em direitos de privacidade se mostram preocupados com as implicações de informações de usuários sendo divulgadas para empresas que esperam para passar um pente fino nelas."Conforme vemos o Twitter crescer e as mídias sociais se desenvolverem, isso começa a se tornar uma questão cada vez maior", disse Graham Cluley, consultor sênior da empresa britânica de segurança Sophos. "Empresas online sabem em quais sites nós clicamos, quais propagandas vemos, o que compramos. Cada vez mais, eles estão aprendendo o que nós estamos pensando. E esse é um pensamento bem assombroso".O Twitter optou por não comentar a venda e repassou as questões para a DataSift. Em 2010, o Twitter concordou em compartilhar todos seus tweets com a Biblioteca do Congresso Americano. Detalhes de como essas informações ficarão disponíveis para o público ainda estão em desenvolvimento, mas há algumas restrições estabelecidas, incluindo um atraso de seis meses e a proibição de uso dos dados para propósitos comerciais.Tweets privados ou apagados não poderão ser acessados, disse Bailey. As empresas querem agregar dados, não tentar descobrir quem disse o que para quem. "A única informação que oferecemos é aquela que é pública", acrescentou. "Não queremos vender dados para anúncios direcionados. Nós nem sabemos como isso iria funcionar".Um especialista em análises digitais disse que o maior impacto será para os comerciantes. "O único risco de privacidade é os comerciantes serem capazes de fazer mais do que análise de mercado com os dados", disse Thomas Bosilevac, diretor de análise da empresa de marketing digital Digitaria.Isso não significa que todos estão felizes com a situação. "É frustrante que agora comerciantes têm um melhor acesso aos meus tweets antigos do que eu", disse Rebecca Jeschke, porta-voz da Electronic Frontier Foundation. "No entanto, isso é perfeitamente legal."

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