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Jornalista, escritor e palestrante. Escreve às quintas

Opinião|Um Face de novos Curtires

O principal segredo por trás do Facebook é sua simplicidade

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O dilema não é novo, todos o vivemos no cotidiano de convívios no Facebook. Alguém morreu, daí o filho, o irmão, a mulher avisa num post. E, entre 2009 e esta semana, o que a rede social oferecia era um singelo Like. Curti, polegar acima. Ou isso, ou a caixa de comentários, perante a qual muitas vezes ficamos sem ter palavras para escrever. As cinco novas alternativas ao Curti começaram a aparecer para os usuários brasileiros no final da tarde de quinta-feira. Quem não as viu, verá em breve. Basta pousar o mouse sobre o Curti ou, no celular, pressionar por segundos o dedo.

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A mudança não vem sem críticas. Serviços muito populares na internet, todos eles, enfrentam o mesmo problema quando mudam. As pessoas reclamam, reclamam alto, se fazem ouvir. Ninguém gosta de mudanças. Às vezes é a resistência natural de quem não quer o trabalho de se adaptar ao novo. Mas não é raro que os usuários tenham razão. O principal segredo por trás do Facebook é sua simplicidade. Tecnologicamente é muito complexo. Para quem usa, no entanto, as poucas regras a dominar já são ato reflexo.

A turma do Facebook sabia que há momentos nos quais um Curti não é adequado. E o problema nunca foi simples de resolver. O botão inverso, polegar abaixo, Não Curti, era a pior alternativa. Por dois motivos. O primeiro é evidente para quem gastar dois minutos pensando no assunto. Estaríamos, todos, sujeitos às torrentes de ódio que explodem de hora em hora na internet. Uma avalanche de Não Curti na foto do perfil ou em algo mais pessoal é agressão em estado puro.

A segunda questão é financeira. O Facebook gastou muito tempo para convencer grandes empresas de que vale a pena ter uma página na rede e que o número de fãs e curtidas lhes fará diferença. Afinal, ele está no ramo da propaganda. É a veiculação de publicidade que lhe financia. Ninguém vai correr o risco de lançar um novo automóvel, tênis ou refrigerante se expondo a uma campanha de Não Curtires múltiplos por parte dos consumidores.

À Bloomberg, Chris Cox, o diretor responsável pelas características do produto no Facebook, explicou o processo para definir as opções.

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São, além do habitual Curtir, Amei, Haha, Uau, Triste e Grr. Um coração, seguido de rostos, o que ri, o outro boquiaberto, de feição cabisbaixa e, por fim, vermelho de raiva.

Desde o ano passado estes e outros vinham sendo testados por usuários na Espanha e na Irlanda. Cultura é questão delicada para empresas de comunicação globais. O símbolo que vale num canto do mundo será interpretado diferentemente noutro. Uma das possibilidades, por exemplo, era o americano Yay. Talvez algo tipo um “dá-lhe” brasileiro. Um misto de encorajamento com aprovação. Foi pouco usado ou compreendido na fase de testes, daí abortado.

Todos são expressões de empatia. Um sentimento solidário, na alegria ou na tristeza. Foram feitos para isso, para que nenhum agrida. Tornam o ambiente mais agradável. E, com o tempo, farão mais dinheiro para o Facebook.

O maior concorrente do Facebook no ramo da publicidade barata da internet é o Google. O valor do que oferecem aos anunciantes cresce conforme têm a capacidade de dar informações a respeito de cada usuário, direcionar o anúncio certo para o consumidor adequado. No conjunto de nossos Curtires e seus irmãos mais moços, alimentaremos todos a rede com informação cheia de nuances a respeito de nosso estado emocional a cada momento de nossas vidas. É uma máquina simples de usar, afinal, assim como tecnologicamente complexa. O Facebook terá mais sinais a respeito de nós e nossas relações, que processados por algoritmos sofisticados serão capazes de nos pôr perante publicidade mais e mais adequada.

E assim funciona a internet.

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