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Jornalista e colunista do Broadcast

Opinião|Um soluço na Bolsa?

No Brasil, as eleições presidenciais podem provocar tosses e espirros mais fortes

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Até a semana passada, antes de ter fechado na segunda-feira em razão do feriado do Dia do Presidente, o S&P 500, um dos principais índices acionários dos Estados Unidos, havia subido por seis pregões consecutivos, levando muitos analistas a fazer a seguinte pergunta: “A forte correção no início deste mês foi apenas um soluço ou o fim, de fato, da forte tendência de alta observada desde o ano passado?”.

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No dia 5 deste mês, as bolsas americanas registraram uma das suas piores perdas da história, com o S&P 500 tombando 4,1%. A correção já havia começado no pregão anterior, quando dados do relatório de emprego nos EUA para o mês de janeiro deflagraram o temor de que o Federal Reserve (Fed) poderia elevar os juros básicos americanos mais do que o previsto pelos investidores.

Segundo o estrategista-chefe da corretora Brown Brothers Harriman, Marc Chandler, muitos analistas acreditam que, sim, a queda recente das bolsas americanas marcou o fim do “bull market”, ou seja, quando as cotações estão em alta no mercado.

“O argumento é que os mercados de capitais entraram numa nova era e muitos atribuem isso ao fim das extraordinárias políticas monetárias de bancos centrais”, diz Chandler.

Ou seja, com a recuperação mais sustentada das economias, os bancos centrais dos países mais ricos, em particular o Fed, estão encerrando a política de estímulos – via taxas de juros ao redor de zero ou negativas, além de compra de ativos para injetar dinheiro na economia – e começam a introduzir um maior aperto monetário.

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Para Chandler, uma correção nos preços das ações, após um rali de várias semanas, já passava da hora. Mas o que aconteceu, na visão dele, foi apenas uma correção. “Os catalisadores (do rali) ainda persistem”, diz Chandler. Ele crê que a correção no início deste mês pode ser comparada com a que ocorreu durante a quebra das bolsas americanas em 1987. Naquela ocasião, o S&P 500 levou dois anos para atingir novas máximas. “Mas agora, novas máximas do S&P 500 vão ser atingidas bem antes.”

Só para lembrar, em janeiro, o S&P 500 subiu 5,62%, após ter encerrado 2017 em alta de 19,34%, no seu melhor ano desde 2013. Em fevereiro, mesmo após a alta consecutiva de seis pregões até a sexta-feira passada, o S&P 500 tinha perda de 3,24%, reduzindo o ganho acumulado em 2018 a apenas 2,19%.

Qual o impacto para a Bolsa brasileira se a correção no início do mês dos índices acionários americanos, em particular o S&P 500, se provar temporária? “Agora que nós perdemos a reforma da Previdência, o Brasil vai ficar bem atrelado ao cenário externo, pois ainda estamos muito longe da eleição, que vai ser o principal fator a influenciar o Brasil este ano”, explica Ronaldo Patah, estrategista de investimentos do UBS Wealth Management.

Para ele, o que aumentará no curto prazo será a volatilidade, uma vez que a correlação da Bolsa brasileira com os índices acionários americanos será maior. “A inflação tende a dar mais sustos nos EUA e as bolsas americanas tendem a ter mais movimentos de correção como o recente”, diz Patah. “No segundo semestre, quando as eleições no Brasil tiverem mais próximas, teremos vida própria novamente.”

Já o estrategista para mercados emergentes do fundo britânico Legal & General Investment Management, Simon Quijano-Evans, lembra que, em razão de o rali global das bolsas em janeiro ter sido muito forte e rápido, os investidores ficaram bem mais cautelosos.

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“O desempenho dos preços dos ativos americanos deve provavelmente permanecer como o principal catalisador dos mercados, mas o Brasil claramente tem riscos idiossincráticos adicionais por conta do ambiente de incerteza política”, explica Quijano-Evans.

Será menos improvável ver nas bolsas americanas um novo rali como o observado na virada de 2017 até o fim de janeiro. Mas, com a perspectiva de um crescimento da economia dos Estados Unidos em 2018 melhor do que o esperado pelos analistas, impulsionado por corte de impostos e gastos fiscais, é possível dizer que a direção do S&P 500 ainda é de alta. Essa trajetória, porém, não será sem soluços. E, no Brasil, as eleições presidenciais podem provocar tosses e espirros mais fortes.

* COLUNISTA DO BROADCAST

Opinião por Fábio Alves

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