A atual crise econômica mundial é tão grave que não será possível nos próximos anos uma recuperação até os níveis prévios a esta, apesar da melhora de alguns indicadores financeiros no primeiro trimestre de 2009. Este é o alerta da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) em seu relatório 2009 dedicado à crise, no qual destaca que foi a excessiva liberalização e falta de regulação dos mercados financeiros seu principal causa.
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O estudo constata que os "brotos verdes" que se deram em alguns países no primeiro trimestre "não significam que o inverno da economia chegou a seu fim". "Esta aparente melhoria pode ser temporária e não devemos nos apressar em afirmar que estamos saindo da crise", disse o secretário-geral da Unctad, Supachai Panitchpakdi, ao apresentar o relatório.
Ele prevê que em 2009 o Produto Interno Bruto (PIB) mundial se reduzirá mais de 2,5%, e inclusive as economias que crescerão, como as da China e Índia, sofrem um arrefecimento. E embora considere "possível" que o PIB mundial volte a ser positivo em 2010, "dificilmente superará 1,6%". Segundo ele, o ritmo do consumo e do investimento não será suficiente para reativar a economia de maneira significativa.
Incentivos
Apesar das medidas de estímulo à economia decididas por governos de diversos países, Panitchpakdi recomenda "manter e reforçar as políticas monetárias e fiscais expansivas". O relatório da Unctad aponta que um ano após a eclosão da crise já se sabe que o Brasil gastou o equivalente a 5,6% de seu PIB em incentivos para tirar a economia da recessão.
Em termos porcentuais, o Brasil gastou mais que Estados Unidos, França, Reino Unido ou Japão em pacotes de incentivos para o setor produtivo, mas muito menos em incentivo e resgate de bancos e dos setor financeiro, onde a taxa do mundo rico ficou acima de 20%, chegando a mais de 200% na Islândia. O gasto do brasileiro ficou em 1,6% do PIB com esse setor.
Apesar dos gastos, a economia brasileira sofrerá uma queda de 0,8% em 2009, contra um crescimento de 5,1% em 2008. O tombo será mais suave que a média latino-americana, de 2%. A pior situação na região é do México, com uma contração de 7%.
Já os países ricos vão fechar o ano com quedas importantes, mesmo com o fim da recessão em algumas economias. No total, esse bloco de países terá uma redução de 4,7% em seu PIB. Nos Estados Unidos, a retração será de 3%, contra 6,1% na Alemanha. A estimativa é de que não existe a possibilidade de que os países ricos voltem a crescer nesse ano a uma taxa suficiente para tirar a economia mundial da crise.
Setor financeiro é o principal problema
Os especialistas acham que a alta dos indicadores financeiros na primeira metade de 2009, refletem "um renovado interesse por assumir riscos por parte dos agentes financeiros, e não um fortalecimento dos parâmetros macroeconômicos fundamentais", por isso que - advertem - "poderia acontecer uma mudança de tendência de um momento para o outro".
O relatório destaca que a atual crise "não foi uma coisa caída do céu", mas explodiu após vários anos de enormes desequilíbrios entre as maiores economias nacionais e dentro de cada uma delas.
"Os desequilíbrios mais ostensivos eram os grandes déficits por conta corrente dos EUA, Reino Unido, Espanha e várias economias da Europa Oriental, por uma parte, e os grandes e crescentes superávits da China, Japão, Alemanha e os países exportadores de petróleo, por outra", assinala.
Apesar de todas as medidas, a ONU alerta que as reformas prometidas no sistema financeiro internacional ainda não são profundas suficientemente para evitar uma nova crise no futuro. A entidade defende um novo regime de câmbio, novas regras para os bancos e mecanismos para evitar vulnerabilidades.