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Usiminas interrompe atividades em Cubatão e deve demitir 4 mil

Empresa vai paralisar a produção de placas de aço, mas manterá as atividades das linhas de laminação a quente e a frio

Foto do author Fernanda Guimarães
Por Fernanda Guimarães , Marcelle Gutierrez , Mário Braga e Suzana Inhesta
Atualização:

Atualizado às 18h13

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SÃO PAULO - A Usiminas decidiu interromper temporariamente as atividades das áreas primárias da Usina de Cubatão, em São Paulo. Segundo comunicado da companhia enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o processo de desativação será gradual e deverá ser concluído num prazo de três a quatro meses.

"O referido ajuste objetiva reposicionar a Usiminas em um novo patamar de escala e competitividade perante um contexto econômico de deterioração progressiva do mercado siderúrgico", justificou a Usiminas, no documento.

A Usiminas, em nota enviada ao Broadcast, serviço de informações em tempo real da Agência Estado, informou que as demissões chegarão a 4 mil empregos devido ao processo de desativação das áreas primárias da usina de Cubatão (SP). De postos diretos serão 2 mil desligamentos e indiretos, embora ainda esteja sendo mensurado, também são estimadas 2 mil demissões.

A Usina de Cubatão já havia tido um de seus dois altos-fornos desligados em maio deste ano Foto: Divulgação

"Este ajuste no quadro funcional deverá ocorrer com mais intensidade no inicio de 2016, acompanhando o cronograma de desligamento dos equipamentos da usina, que deverá ser concluído em três ou quatro meses", esclareceu a empresa, no comunicado.

No início da tarde de hoje, o presidente do Sindicato dos Siderúrgicos e Metalúrgicos da Baixada Santista, Florêncio Rezende de Sá, disse que as demissões poderiam chegar a mais de 8 mil empregados diretos e indiretos e informou que a Usiminas comunicou a decisão de interromper as atividades da unidade apenas hoje, mas sem detalhar prazos e quantidade total. Ainda nos cálculos dele, a siderúrgica gera 10 mil empregos diretos e indiretos na região.

O sindicato vai aguardar que a empresa apresente um plano detalhado sobre as demissões, mas não descarta manifestações, greves e disputas judiciais.

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A Usiminas tem consciência do impacto social desta medida sobre a empregabilidade na região. "A desativação foi necessária para a própria sustentabilidade da Usiminas como empresa e, como tal, movimentadora de uma cadeia produtiva estratégica para a economia", destacou a Usiminas.

A Usina de Cubatão já havia tido um de seus dois altos-fornos desligados em maio deste ano, bem como seu laminador de chapas grossas em setembro. "No entanto, os estudos da Usiminas apontaram que a alternativa mais viável, no atual cenário, era a paralisação das áreas primárias da unidade", segundo nota da companhia. Hoje, cerca de 40% do aço bruto produzido pela Usiminas vem dessa unidade.

Com a desativação das áreas primárias, a usina de Cubatão deixará de produzir placas, mas serão mantidas as atividades das linhas de laminação a quente e a frio, bem como as operações relacionadas a seu terminal portuário. A linha de laminação de chapas grossas continuará temporariamente suspensa. A empresa destaca que ainda está avaliando como suprirá essas linhas com placas. Segundo apurou o Broadcast, o material deve vir de Ipatinga (MG) ou compradas da Companhia Siderúrgica do Atlântica (CSA).Balanço. Nesta quinta-feira, a Usiminas divulgou balanço no qual foi apontado prejuízo líquido de R$ 1,042 bilhão no terceiro trimestre do ano. No mesmo período de 2014, as perdas haviam chegado a R$ 24 milhões. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado foi negativo em R$ 65 milhões no período, ante um Ebitda positivo de R$ 357 milhões. Com isso, a companhia apresentou uma margem Ebitda ajustada negativa de 2,7%, sendo que era positivo em 12,3% no mesmo trimestre do ano passado e de 8,5% no trimestre imediatamente anterior.PARA LEMBRARCosipa foi privatizada em agosto de 1993Por Carlos Eduardo Entini (do Acervo Estadão)A privatização da Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa), em 20 de agosto de 1993, fazia parte do Plano Nacional de Desestatização, criado em 1990, durante o governo Fernando Collor. Com ela, outras siderúrgicas foram privatizadas, como CSN, Acesita e Açominas. As privatizações das siderúrgicas continuaram até o governo sair do setor, em 1994.O processo de privatização da siderúrgica paulista foi conturbado. No dia do leilão, estudantes enfrentaram policiais na porta da Bovespa. O conflito terminou com 20 feridos. Muitos deles ensanguentados, jogaram sangue nos policiais. Mas a confusão não terminou aí. Arrematada pela Brastubo, do empresário Aldo Narcisi, por quase o dobro do preço inicial, descobriu-se depois que ela fez a operação para o Banco Bozano, Simonsen.Na sequência, duas semanas depois, o controle da Cosipa passou para a Usiminas, também recém-privatizada. A transferência para o novo grupo levantou a questão de um possível monopólio no setor de aço. Na época, o grupo passou a controlar 62% da produção nacional de aços planos e 90% da produção de placas de aço.Outro fator que chamou a atenção no caso foi a atuação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o principal acionista da Cosipa desde a década de 60. Antes da privatização, o banco estatal emprestou ao Banco Bozano, Simonsen US$ 278 milhões que acabaram sendo usados no leilão da Cosipa.

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