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Usinas pedem mais atenção ao etanol

Política de incentivo ao biocombustível foi abandonada, gerando grave crise no setor

Por ANA COSTA
Atualização:

Em um universo de 435 usinas de açúcar e álcool no País, 44 foram fechadas na últimas 5 safras e outras 12 podem encerrar a moagem de cana em 2014/2015, extinguindo 100 mil postos de trabalho. "O endividamento dessas empresas equivale ao valor da produção de uma safra. Mais de 50 estão em recuperação judicial", aponta a Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) complementa, dizendo que "a dívida líquida média das empresas sucroalcooleiras supera seu faturamento bruto anual; além disso, quase 15% da receita está comprometida com o pagamento de juros". É este o panorama desde que o setor sucroalcooleiro - e seu principal produto, o etanol combustível - foi preterido nas políticas energéticas.

Endividamento das usinas preocupa Foto: Daniel Teixeira/Estadão

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Sem lucro.

Segundo a Unica, companhias de grande porte já sinalizam a disposição de deixar a atividade. "O que atrai o empresário é o lucro, e para que isso volte a acontecer tem que resolver a questão do etanol hidratado (aquele vendido ao consumidor nos postos de combustível)", afirma Antônio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da Unica. Para ele, políticas que definam e mantenham a participação do etanol hidratado na matriz nacional de combustíveis resolveriam 90% dos problemas do segmento. O caso do etanol anidro (que é misturado à gasolina), justifica Pádua, já é um mercado regulado e inserido na matriz de combustíveis do Brasil. Para resolver a questão do hidratado, o diretor comenta que "a primeira regra é transparência na formação do preço da gasolina. Sem uma regra clara de como a gasolina - que concorre diretamente com o hidratado - vai se comportar nas próximas décadas, fica difícil investir nesse mercado", diz.

Imposto.

A partir do conhecimento da política de preços da Petrobrás, a Unica defende um imposto que diferencie o etanol da gasolina, como foi o caso da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico). O tributo, que vigorou até 2008, inseria R$ 0,28 por litro na venda da gasolina pura pela refinaria. A volta da Cide é a principal reivindicação do setor. "Esses R$ 0,28 é que fizeram com que fossem instaladas de 2004 a 2008 mais de cem usinas no País. A política de valorização do etanol hidratado foi abandonada", diz.

Segundo o diretor, tendo mais canaviais, a cogeração de energia é consequência, tornando a matriz energética brasileira mais renovável ainda."É muito difícil, porém, expandir a oferta de energia a partir da biomassa da cana, sem expansão de canaviais", diz Pádua. "E essa expansão só ocorrerá com incentivo ao etanol hidratado."

Biodiesel.

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Já o setor de biodiesel - outro biocombustível, feito a partir de óleo de soja, sebo bovino, óleo de algodão, e óleo de cozinha - propõe que a mistura do biodiesel ao diesel atinja 10%, ante 7% atualmente. "Isso reduziria enormemente o custo da saúde pública, por causa da poluição menor", defende o diretor superintendente da Associação dos Produtores de Biodiesel do Brasil (Aprobio), Júlio Minelli.

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