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Varejo vê desaceleração na venda de materiais

Comércio reduziu projeção de crescimento das vendas de material de construção de 6,5% para 3% no ano; Copa e eleições atrapalharam desempenho do setor

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Por Márcia De Chiara
Atualização:
"Formiga". Com orçamento reduzido, Santos paralisou obra Foto: Márcio Fernandes/Estadão

Enquanto a indústria de materiais de construção sente a retração da demanda e pesquisas com consumidores confirmam a diminuição da fatia dos que planejam reformar a casa, a associação do setor varejista afirma que não houve queda nas vendas, mas diz que já reduziu a estimativa de crescimento para este ano.

"Não percebemos a retração", diz Claudio Conz, presidente da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco). Segundo ele, a Copa e as eleições atrapalharam bastante as vendas porque houve menor número de dias úteis.

Com isso, Conz conta que a projeção inicial era que as vendas tivessem expansão de 6,5% neste ano, mas a estimativa recuou para 3%. Com a expectativa de que a inflação feche o ano na casa de 6,5%, um crescimento de 3% no faturamento significa, na prática, uma queda.

Jorge Letra, diretor-geral da Dicico, rede com 58 lojas no Estado de São Paulo, diz que a expectativa inicial da rede era ampliar em 20% o faturamento este ano, mas a projeção foi reduzida para 5%. Mas, com um inflação na casa de 6%, pode ocorrer um empate técnico ou queda de 1%, prevê. "Com a Copa e crise de confiança, será o nosso pior ano dos últimos cinco."

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Em 2014, a rede registrou queda nas vendas de itens básicos, como cimento, portas e janelas, na casa de 10%. Já em produtos de maior valor, caso do porcelanato, houve crescimento de 20%. Letra atribui essa retração ao consumo de pequenas construtoras ou mesmo profissionais que constroem moradias para vender ou alugar e compram materiais na sua rede. "Eles representam entre 15% e 20% do nosso faturamento e têm um tíquete médio maior."

Já Oswaldo Leivas, diretor-geral da C&C, rede com 45 lojas, diz que as vendas do primeiro trimestre foram muito boas, com crescimento de dois dígitos, mas houve um enfraquecimento no segundo por causa da Copa. Com isso, o ano deve fechar com crescimento, porém na casa de um dígito. "As incertezas e o aumento dos juros podem ter tido impacto no pequeno consumidor, que deve ter adiado a reforma para 2015."

Mudança de planos.

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A queda na renda fez o motorista Benedito Carlos dos Santos, de 43 anos, casado e pai de três filhos, paralisar as obras de ampliação da sua casa em Osasco. Em novembro do ano passado, seus rendimentos despencaram. A primeira providência foi suspender a construção de mais cômodos e o acabamento da casa.

"Fiquei com uma casa semiacabada. Dentro as paredes estão rebocadas, mas falta azulejar o banheiro, a cozinha, colocar o piso e rebocar a garagem e fazer a escada", conta Santos. A freada nas obras ocorreu porque, como motorista de táxi, ele chegava a tirar R$ 7 mil por mês. Mas o taxista que era dono do veículo vendeu o carro e saiu da atividade. Com isso, Santos perdeu o emprego e alternativa foi trabalhar numa cooperativa, porém com rendimento bem menor. Hoje ele ganha R$ 1,3 mil.

O motorista conta que comprava o material de construção no crediário ou parcelava no cartão de crédito e ia pagando o pedreiro aos poucos. "O pedreiro era um irmão da igreja que fazia um preço bom." Santos gastava R$ 200 por semana com a mão de obra e nos dias de folga também colocava a mão na massa.

Santos é um típico consumidor "formiga" de materiais de construção, aquele que adquire os insumos aos poucos para erguer, reformar ou ampliar a casa e executa a obra por conta própria ou contrata terceiros. "Tenho planos de terminar a casa, mas agora não consigo juntar dinheiro." Ele conta que tem vizinhos em situação semelhante e que também pararam as obras.

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