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Velho uma ova

Do turismo de aventura a sites de namoro, consumidores idosos exibem inclinações decididamente jovens

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Por Redação
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“Não temos nada contra bingo ou carteado”, diz Tom Kamber, antes de explicar por que o visitante não vai encontrar nem um nem outro no centro para idosos que ele administra em Manhattan. O Senior Planet Exploration Centre garante a diversão de seus frequentadores com óculos de realidade virtual e outras engenhocas digitais. Se bem que, ao chegar ao local, a maioria prefira ir diretamente para a bancada de computadores e acessar o Facebook ou fazer compras online. Numa sala, um grupo de 15 idosos, alguns deles na casa dos 80, vestidos com roupas esportivas, reúne-se em volta de um professor de ginástica. Há também quem venha fazer cursos que ensinam a começar um negócio próprio, usar smartphones, comprar passagens e fazer reservas em hotéis pela internet e até criar perfis em sites de relacionamentos. “A gente desmistifica a tecnologia e eles botam para quebrar”, diz Kamber.

As empresas fariam bem em observar o que se passa em lugares assim. Vivendo mais, com mais tempo livre e dinheiro no bolso, os idosos de hoje constituem um filão de ouro pouco explorado. Nos Estados Unidos, segundo projeções da Nielsen, os indivíduos com mais de 50 anos em breve concentrarão 70% da renda disponível. O consumo global em domicílios onde o principal responsável é alguém com mais de 60 anos deve chegar a US$ 15 trilhões até 2020, o dobro do registrado em 2010, prevê a Euromonitor. Grande parte desse dinheiro será gasta com lazer.

Aula em escola gratuita de tecnologia para idosos em Nova York Foto: PRWEB.COM

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Os indivíduos nascidos entre o fim da 2.ª Guerra e meados dos anos 60 estão chegando à terceira idade em maior número, em melhores condições de saúde e com mais recursos para gastar do que qualquer outra geração anterior. É comum que se sintam muito mais jovens do que seus pais se sentiam quando tinham a idade que eles têm hoje. “A aposentadoria costumava ser um período curto, entre os cruzeiros marítimos e as cadeiras de rodas”, diz Joe Coughlin, que comanda o AgeLab no Massachusetts Institute of Technology. Agora tornou-se uma nova fase da vida, tão extensa quanto a infância ou a meia-idade, e essas pessoas querem estruturá-la de forma diferente. “Apesar disso, continuamos a oferecer a elas a mesma vida de aposentado que o meu avô levou.”

O turismo de aventura para pessoas acima de 60 anos é um negócio promissor. Nos EUA, segundo a Adventure Travel Trade Association, mais de 40% dos turistas que fazem viagens desse tipo têm mais de 50 anos. No Reino Unido, os idosos são os que mais gastam com turismo, e em nenhuma outra faixa etária a expansão do segmento de aventuras é tão acelerada quanto entre os indivíduos que têm entre 65 e 74 anos. Esses velhinhos intrépidos estão em busca de ação, das expedições ao Ártico às viagens culturais pela Ásia.

Jane Dettlof mora em Minnesota, tem 73 anos e acaba de passar duas semanas viajando de bicicleta pelo Chile. Voltou encantada com “a cultura, a culinária, as praias e, ah meu Deus, o vinho dos Andes!”. Durante o dia, 16 mulheres, com idades variando entre 61 e 87 anos, pedalavam e conversavam. À noite, bebiam vinho, “sem ficar reclamando de ter que tomar remédio para isso e remédio para aquilo”. A agência que organizou a viagem, a VBT, não diz explicitamente ser especializada em turismo para idosos, mas seu material publicitário contém algumas dicas sutis: “cada um no seu ritmo”, “desde 1971”, “bons vinhos”. Mais de 90% dos clientes da empresa têm mais de 50 anos.

Outro mercado que promete é o de relacionamentos. Apesar de as taxas agregadas de divórcio estarem caindo em alguns países, como EUA, Austrália e Reino Unido, as separações entre os idosos estão em alta. Os divórcios entre americanos e britânicos com mais de 60 anos são, respectivamente, duas vezes e três vezes mais frequentes hoje do que eram em 1990. Mais de 25% dos usuários do site de relacionamentos Match.com têm entre 53 e 72 anos. É também nessa faixa etária que o site mais conquista novos usuários.

As pessoas de mais idade parecem se preocupar mais com os riscos da paquera online, o que levou ao surgimento de sites especializados, como o Stitch, que conta com 85 mil usuários. “A diversão começa aos 50”, anuncia um vídeo promocional, acrescentando que o site oferece “muita segurança”. Os idosos parecem ter maior propensão a pagar por esse tipo de serviço do que os usuários jovens, desde que recebam algo em troca. O Stitch submete cada novo usuário a uma pré-avaliação e organiza eventos sociais, explica Andrew Dowling, um de seus fundadores.

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Jody, de Nova Jersey, resolveu seguir o exemplo das sobrinhas, que são usuárias assíduas dos aplicativos de paquera, e foi parar num coquetel organizado pelo Stitch num bar elegante de Nova York. O evento acabou reunindo apenas dez mulheres, que, entre uma margherita e outra, desandaram a falar sobre suas desastrosas experiências de namoro online, avaliando, em meio a gargalhadas, se não teriam mais sorte se participassem de atividades predominantemente masculinas, como golfe ou ciclismo de montanha.

As mulheres gastam mais do que os homens para tentar encontrar um parceiro, já que são mais numerosas nas faixas etárias mais avançadas (em países desenvolvidos, elas vivem cinco anos a mais que os homens, em média) e é maior a probabilidade de que estejam solteiras. Nos EUA, em 2014, quase 75% dos homens com mais de 65 anos estavam casados e só um em cada dez era viúvo. Entre as mulheres da mesma faixa etária, menos da metade estava casada e uma em cada três era viúva. Na Europa, entre os indivíduos acima de 65 anos, a ausência de um cônjuge é duas vezes mais comum entre as mulheres do que entre os homens. Isso gera demandas com as quais ninguém sonhava algumas décadas atrás.

Uma delas diz respeito a moradia. Com mais anos para viver do que os avós de antigamente, a mocidade idosa de hoje quer trocar a solidão das casas bolorentas por algo que lembra os apartamentos em que vivem diversos jovens solteiros. “Garota aposentada procura duas pessoas sofisticadas, de bem com a vida e com um senso de humor insano para dividir sua casinha delícia”, diz um anúncio publicado no goldengirlsnetwork.com, site para idosos solteiros que se sentem atraídos pela ideia de viver em comunidade.

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Mas fica a advertência: as empresas que desejam entrar no mercado dessa terceira idade jovem precisam ter em mente que a clientela é exigente e tem lá suas manias. Esses consumidores não se veem como velhos e reagem negativamente a anúncios publicitários voltados especificamente para o público idoso (como a marca de dentifrícios Crest descobriu ao lançar um creme dental para pessoas acima de 50 anos). Depois dos 50, as pessoas também tendem a se mostrar particularmente intolerantes com serviços e aparelhos que não cumprem o que prometem, diz Martin Lock, da Silversurfers.com, maior comunidade online do Reino Unido voltada para indivíduos com mais de 50 anos: “Se a coisa não funciona direito, eles são os primeiros a abandonar o barco”.

© 2017 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. TRADUZIDO POR ALEXANDRE HUBNER, PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM

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