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Verba extra liberada por governo quita só parte da dívida do País com organismos internacionais

O total que o País tem a pagar, até o fim deste ano, chega a R$ 6,7 bilhões, segundo cálculos do Itamaraty e do Ministério do Planejamento

Por Lu Aiko Otta
Atualização:

BRASÍLIA - Os R$ 3 bilhões que o governo deve liberar nos próximos dias para pagar dívidas do Brasil com organismos internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), não quitam nem metade da fatura. O total que o País tem a pagar, até o fim deste ano, chega a R$ 6,7 bilhões, segundo cálculos do Itamaraty e do Ministério do Planejamento. Desses, R$ 3,5 bilhões são para organismos e outros RS R$ 3,2 bilhões, para bancos multilaterais.

Essas dívidas se referem a mensalidades que o Brasil, como membro dessas organizações, tem de pagar. Mas, por causa da crise fiscal, os atrasos se acumularam. As consequências do "calote" variam conforme entidade. A punição mais drástica é a perda do direito a voto.

R$ 3,5 bilhões são para organismos internacionais e outros RS R$ 3,2 bilhões, para bancos multilaterais Foto: Jeff Belmonte/Flickr

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Segundo fontes, os R$ 3 bilhões serão suficientes para regularizar as situações mais graves. O dinheiro pode ser "esticado" porque, em alguns casos, não é preciso acertar integralmente a dívida para restabelecer os direitos do País. Basta um pequeno pagamento. Em outros, é possível acumular algum tempo de atraso até que comece a haver problemas. 

Paralelamente, o governo analisa se realmente é necessário o Brasil participar de todos os organismos dos quais é membro. Uma comissão formada por Itamaraty, Planejamento, Fazenda e Casa Civil faz um pente fino. Esse grupo elaborou uma primeira proposta de saída do Brasil de 33 dessas organizações internacionais, entre as quais uma que trata de pimenta do reino e outra, de astrofísica. 

Porém, ainda não há decisão tomada sobre ela. No Itamaraty, a avaliação é que a lista inclui organismos que são de interesse do País, como o do cacau. Por isso, a tendência é que as exclusões sejam pontuais. E a ordem do ministro das Relações Exteriores, José Serra, é que ela não ocorra antes de ser consultado o ministério setorial, se for o caso. 

Por outro lado, o enxugamento da estrutura de embaixadas e postos no exterior já começou. E, ao contrário do que se pensava, não começou pelos postos na África ou do Caribe criados durante os governos do PT. A tesourada começou pela Europa.

Em Genebra, a Representação junto à Conferência do Desarmamento será assumida pela Representação Brasileira em Genebra, retornando ao formato de antes do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Em Londres, a Representação Permanente do Brasil junto a Organismos Internacionais será fundida com a embaixada. Com isso, haverá economia com residência oficial, staff e verbas de representação dessas estruturas, que são semelhantes a uma embaixada.

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Por se tratarem de cidades com elevado custo de vida, esses cortes deverão trazer efeitos financeiros mais relevantes do que a supressão de postos na África, segundo se avalia no Itamaraty.

O fechamento de embaixadas e representações continua em análise e a ordem é avaliar custos e benefícios. O que não é simples, porque o custo de fechar uma embaixada é, principalmente, político. Os diplomatas se lembram que o ex-chanceler Luiz Felipe Lampreia tentou fechar a representação brasileira em Túnis e teve de recuar.

Além dos R$ 3 bilhões para os organismos, o ministério espera a liberação, nos próximos dias, de R$ 580 milhões para pagar despesas administrativas da pasta. O montante é inferior aos R$ 800 milhões solicitados, mas será suficiente para colocar as contas em dia por um período. 

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