O Aeroporto Internacional de Viracopos e a empresa de segurança Brinks fecharam uma parceria para erguer dentro do terminal de cargas do aeroporto de Campinas a primeira área ultrassegura para armazenagem de cargas de alto valor - em trânsito de importação ou exportação - da América Latina. Com uma dimensão de 2 mil m², a estrutura terá características de construção similares às de um caixa-forte, com paredes mais espessas, e controle rígido de acesso ao local. A Brinks já montou estrutura parecida no Aeroporto de Heatrow, em Londres, e no Charles de Gaulle, em Paris. A previsão é que a nova área do terminal passe a operar no segundo semestre. Segundo o diretor-presidente do aeroporto, Luiz Alberto Küster, desde a concessão, em 2012, é cada vez maior a necessidade de transporte de cargas de alto valor agregado como medicamentos, fórmulas químicas e componentes eletrônicos (tanto os relacionados a celulares quanto à indústria automotiva).
"Queremos privilegiar o transporte desse tipo de carga e abrir caminho para um transporte pouco explorado por via aérea, que é o de ativos financeiros e joias", diz Küster. A expectativa do aeroporto, que está investindo R$ 10 milhões nessa empreitada, é ganhar uma receita adicional de R$ 20 milhões ao ano. Hoje, a operação de carga responde por 60% da receita de Viracopos.
Negócio.
O transporte de cargas de maior valor agregado é especialmente interessante do ponto de vista financeiro. A tarifa cobrada pela armazenagem, em geral, leva em consideração o preço do produto. Portanto, quanto mais valioso ele for, maior é a taxa. A dona de Viracopos já vem priorizando o transporte de cargas com maior valor agregado há certo tempo e por isso não registrou queda nesse segmento, apesar da retração sentida no setor - o recuo, em toneladas, foi de 10% só em janeiro, nos aeroportos brasileiros, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil.
O terminal ultrasseguro habilitará o aeroporto a fazer procedimentos que hoje não são possíveis. Por exemplo: a aplicação de selos em relógios importados. Os relógios que vêm de fora têm de receber um selo da Casa da Moeda do Brasil antes de serem distribuídos. Trata-se de uma medida para evitar o contrabando, algo que geralmente é feito fora do aeroporto.
Outra situação em que uma área de alta segurança como essa pode ser útil é o processo de validação do quilate de uma joia, algo hoje feito no Aeroporto de Heathrow.
Estratégia.
Em geral, por questões estratégicas, os aeroportos não dão informações sobre a estrutura para cargas de alto valor. O aeroporto de Guarulhos, por exemplo, que lidera em movimentação de cargas no País, diz que tem cofres nos armazéns, mas não dá detalhes sobre o serviço. "Nossa estrutura de segurança será completamente distinta de tudo que nós conhecemos por aqui", diz Fernando Sizenando, presidente da Brinks Brasil. Em Viracopos, a empresa também terá serviços de monitoramento na importação, entrega e transporte.
Para o presidente da Associação Brasileira de Fornecedores de Equipamentos de Tecnologia para Aeroportos, Jorge Leal, a construção de um terminal para cargas de alto valor pode ser vista como um dos vários esforços dos aeroportos em oferecer mais que o serviço tradicional. "Assim, você faz do aeroporto não só um terminal de carga e descarga, mas um local de serviços de valor agregado." Leal lembra que esses serviços permitem receita importante, que vai além da taxa de embarque.