PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Economia e políticas públicas

Opinião|Visão neodesenvolvimentista

Grupo de economistas não vê com bons olhos a queda do dólar

Foto do author Fernando Dantas
Atualização:

O dólar fechou a R$ 3,19, a cotação mais baixa desde meados de julho do ano passado. Se a valorização do real se mantiver ou se aprofundar, talvez até seja possível para o Banco Central cumprir a promessa de levar a inflação para a meta de 4,5% no final de 2017.

PUBLICIDADE

Existe, porém, um grupo de economistas que não vê com bons olhos o real forte: os autointitulados novos desenvolvimentistas, como José Oreiro, Luiz Carlos Bresser-Pereira e Nelson Marconi. Os três estão lançando um livro de macroeconomia desenvolvimentista. 

Oreiro, da UFRJ, que já lançara outro livro sobre o tema há poucas semanas, tem sido um dos principais porta-vozes da sua corrente que, diferentemente de outros economistas heterodoxos, leva a sério o problema fiscal. A diferença entre os novos desenvolvimentistas e os economistas ortodoxos e liberais, que hoje dominam a equipe econômica do governo, aparece quando o tema é câmbio.

Para entender a divergência, é preciso recuar no tempo. Para os ortodoxos, a grande crise atual tem como raiz mais profunda o crescimento da despesa pública a um ritmo muito acima da expansão do PIB desde a redemocratização. Oreiro não contesta esse diagnóstico, mas faz um acréscimo. Segundo o economista, o tripé macroeconômico - o regime introduzido em 1999 que combinava metas de inflação, câmbio flutuante e expressivos superávits primários - “se mostrou historicamente incapaz de lidar com dois problemas da economia brasileira, o crescimento da despesa primária como proporção do PIB e a incapacidade de se manter a taxa de câmbio num nível estável e competitivo no médio prazo”. 

Assim, além dos problemas fiscais, a crise de hoje, para os novos desenvolvimentistas, deve ser debitada ao fato de que, durante os bons anos de Lula presidente na década passada, o governo deixou o real valorizar-se demais. E com isso, foi-se embora a competitividade das manufaturas brasileiras, levando a um processo de desindustrialização que inibiu investimentos e estancou o crescimento econômico.

Publicidade

É complexo o argumento sobre o governo Lula “ter deixado o câmbio se valorizar”. Afinal, a equipe econômica à época comprou dólares maciçamente, taxou a entrada de capitais e o ex-ministro Guido Mantega celebremente atacou a “guerra cambial” dos países ricos. Mas Oreiro explica que esses instrumentos não bastam, pois é preciso reorientar toda a política macroeconômica para trabalhar com uma “meta de câmbio real” competitiva. Não se trata de câmbio fixo, pois a meta não é de uma cotação nominal do dólar. A meta real é um parâmetro a ser mantido no médio prazo, não um nível a ser obrigatoriamente perseguido a todo instante. “É um câmbio administrado”, ele resume.

Fica mais claro quando o economista explica o que faria hoje. As metas de inflação de 2016, 2017 e 2018 deveriam ser redefinidas para cima, de forma a permitir uma convergência da inflação mais suave, que abrisse espaço para uma queda mais rápida e intensa dos juros. Essa redução de juros, por sua vez, diminuiria a diferença entre as baixas taxas internacionais e as elevadas taxas domésticas, que atrai capitais e valoriza o real. A política monetária levaria em conta não só o controle de inflação, mas também a meta real de câmbio. 

A política fiscal seria mais apertada quando a economia estivesse crescendo, e mais relaxada quando houvesse desacelerações. Outra medida seria um imposto de exportação sobre commodities como soja e minério de ferro, com alíquotas variáveis dependendo do preço - de zero na baixa e crescente a partir de certo nível.

“O que ocorre agora com esse câmbio abaixo de R$ 3,20 é que voltamos a usar a âncora cambial, e pode estar indo por água abaixo todo o ajuste macroeconômico do ano passado, que inclusive já está se refletindo nos primeiros sinais de reação da indústria”, lamenta Oreiro.  

Opinião por Fernando Dantas
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.