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Jornalista, escritor e palestrante. Escreve às quintas

Opinião|Zuck para presidente

Os empresários do Vale têm certeza de que podem resolver os problemas do mundo

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Em abril do ano passado, um grupo de acionistas minoritários do Facebook entrou com um processo contra o conselho da empresa. Reclamava de ter-se autorizado duas regalias para o presidente executivo e fundador da rede, Mark Zuckerberg. Regalias, dizem os acionistas, que não levam em consideração os interesses da empresa. Nas últimas semanas, conforme se aproximava a posse de Donald Trump, esta mudança estatutária da rede social passou a ser intensamente debatida na imprensa do Vale. E também na de fora.

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O conselho mudou as regras internas do Facebook para autorizar que Zuckerberg pudesse vender uma quantidade muito grande de ações sem, no entanto, perder o controle da empresa. É o tipo da coisa que deixa minoritários desconfortáveis. Afinal, Zuck é o sujeito que criou a coisa. Ele é o gênio. Se vende ações demais, pode estar perdendo interesse. Não seria o caso de mudar o comando? Mas é a segunda mudança que, quase um ano depois, chama mais a atenção. Ele pediu um favor: o direito de se licenciar por até dois anos para servir ao governo sem que isso afete seu poder na companhia.

Servir ao governo, pois é.

Existe um motivo que facilmente justifica a aflição para vender as ações. Seguindo o exemplo de Bill Gates, Zuckerberg e sua mulher, Priscilla Chan, decidiram doar 99% de sua fortuna para uma fundação que distribuirá os bilhões em projetos filantrópicos.

Mas servir no governo é mais complicado. Servir em que posição, fazer o quê?

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A página de Mark Zuckerberg, no Facebook, tem se tornado mais e mais diferente dos perfis nas redes de outros presidentes executivos do Vale. Sim, claro, novidades tecnológicas são apresentadas ali, mas não só. Zuck visita a polícia local, ou um festival de caubóis no Texas, conversa com operários noutro canto do país. Às vezes, parece um político. Sua promessa de ano novo é visitar todos os Estados americanos que não conheceu ainda.

No dia 10 de janeiro, Zuck e sua mulher anunciaram a contratação de dois nomes de peso para sua fundação. David Plouffe, o homem que dirigiu a campanha de Barack Obama em 2008. E Kenneth Mehlman, que foi responsável pela campanha de George W. Bush, em 2004. É só juntar os pontos: em 2020, ano da próxima eleição presidencial, o empresário vai ter 36 anos. Um a mais do que o limite mínimo para se candidatar a substituto de Trump.

Zuckerberg pode estar cogitando tornar-se presidente.

A teoria tem se mostrado resiliente e vem ganhando mais e mais adeptos. O suficiente para que, depois de muitas semanas, se tornasse digna de um desmentido oficial. Zuck garante que não está pensando nisso. Que só pensa no Facebook. É o que disse ao Buzzfeed.

Talvez. Mas qualquer político seria capaz de dar a mesma resposta.

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Há furos na teoria. O mandato presidencial é de quatro anos, Zuck pede licença de apenas dois. Além disso, o Facebook tem se tornado cada vez mais um espaço político. Um lugar onde política se debate, onde eleições podem se definir. Embora seu comportamento tenha sido apolítico durante muito tempo, é natural que esteja mudando. Faz sentido para a empresa que comanda esta sua mudança.

Mas há o contra-argumento.

Afinal, pedir dois anos pode ter sido só tática para levantar a bola sem muito agito. Faz-se o aceno de que Mark Zuckerberg está interessado em cargo público, mandato ajusta-se depois. Além do mais, se há uma característica marcante de empresários do Vale do Silício é a seguinte: eles, todos, têm certeza de que são capazes de resolver os problemas do mundo, um a um.

Além do quê, depois de Donald Trump, Zuckerberg é bênção.

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