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Bolsa tenta fazer decolar índice de sustentabilidade

Criado há uma década, ISE ainda busca ter relevância no mercado financeiro e faz cruzada por mais transparência

Por Malena Oliveira
Atualização:
Retração da economia esfriou o interesse dos investidores por sustentabilidade Foto: Sérgio Castro/Estadão

A BM&FBovespa anuncia amanhã os novos objetivos do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), em uma tentativa de torná-lo mais relevante no mercado financeiro. Divididas em três esferas (empresas, investidores e sociedade), as metas valerão para os próximos cinco anos. Elas buscam atrair companhias para a listagem (que é facultativa) e fazer com que empresas financeiras apostem em produtos relacionados ao índice, como fundos, por exemplo.

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Outro ponto discutido pelo conselho que elabora as regras do ISE é a transparência. Entre março e abril, a Bolsa consultará o mercado sobre tornar obrigatória a divulgação das respostas das companhias ao questionário para integrar a listagem. “Esse caminho (a abertura das respostas) tomou a lógica de regra”, afirma Sonia Favaretto, presidente do Conselho Deliberativo do ISE.

Hoje, apenas 2 das 35 empresas listadas não divulgam respostas: a Cesp e a TIM. A empresa de telecomunicações diz que não abre as informações por questões estratégicas. A Cesp não se posicionou.

Coordenadora de responsabilidade social do Insper, Priscila Claro é a favor da divulgação e afirma que, com o tempo, haverá uma “seleção natural” no mercado: “Se a obrigatoriedade afastar companhias que não querem abrir informações, talvez elas não devam fazer parte do ISE.” 

Adesão. Desde 2005, quando foi criado, o índice vinha ganhando cada vez mais participantes até atingir o pico de 40 empresas em 2014 e 2015. O fato de o número ter caído em 2016 não é visto como um retrocesso pela Bolsa. “Às vezes, empresas optam por outros investimentos”, explica Sonia, que não comenta casos específicos.

Este ano, Gerdau e Vale foram duas das companhias que deixaram a listagem. A metalúrgica é investigada na Operação Zelotes, da Polícia Federal, que apura corrupção em um órgão do Ministério da Fazenda. A mineradora é acionista da Samarco, responsável por uma das maiores tragédias ambientais do País.

Outro motivo para a adesão menor é o cenário econômico. Ex-presidente da BB DTVM, a maior gestora de recursos brasileira, Carlos Massaru Takahashi afirma que a incerteza tira o foco da sustentabilidade: “O investidor precisa ser mais exigente”, defende o executivo, que faz parte de um grupo de trabalho sobre o tema na Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Segundo os dados da associação, atualmente há cerca de R$ 640 milhões investidos em fundos relacionados à governança e sustentabilidade, o que representa 0,02% do total de recursos que essa indústria movimenta no País.

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Investimentos. Se o índice de sustentabilidade da Bolsa precisa de mais atenção da parte dos grandes investidores, mais ainda da pessoa física. 

Analista da corretora Rico, Leandro Martins explica que o interesse pelo assunto esfriou desde a crise de 2008 e, no caso do Brasil, ganhou espaço a renda fixa. “Há oito anos, a Bolsa está ruim e ainda é um investimento especulativo.” Ele, que lida com esse público há oito meses, afirma: “Nunca recebi uma pergunta sobre governança ou sustentabilidade.”

Por outro lado, empresas do ISE foram mais resistentes às turbulências econômicas. Entre 2005 e 2015, seu ganho acumulado foi de 100%, ante pouco mais de 25% do Ibovespa, o principal índice de ações do mercado brasileiro.