NOVA YORK - As denúncias de corrupção na Petrobras afetaram o interesse de investidores em Wall Street pelos papéis da empresa. Dos oito fundos de hedge – fundos que buscam alocar recursos onde possam ter ganhos expressivos – que mais tinham ações da companhia brasileira no começo de 2014, seis resolveram reduzir as apostas e venderam ações da petroleira. Além disso, o megainvestidor George Soros, que tinha voltado a apostar na empresa, também se desfez de parte das ações.
Um dos gestores de fundos de hedge mais conhecidos no mercado financeiro dos Estados Unidos, Jim Chanos, classificou recentemente a Petrobras não como uma empresa, mas como um "esquema" e afirmou que estava se desfazendo das ações da petroleira. Em uma apresentação fechada à investidores, Chanos ainda reclamou que a Petrobras está endividada demais e que a produção de petróleo não tem crescido. O Broadcast – serviço de notícias em tempo real da Agência Estado – procurou Chanos, que confirmou a participação no evento, mas preferiu não dar declarações.
George Soros também vendeu recentemente papéis da empresa. Ele aumentou a posição no começo do ano e chegou a deter 3,2 milhões de papéis em março, mas reduziu sua aposta para 2,4 milhões, de acordo com dados da SEC (Securities and Exchange Comission, órgão do governo norte-americano que regula o mercado de capitais).
Entre outras gestoras que resolveram vender Petrobras, estão a AlphaBet Management (agora chamada Saiers Capital), que administra US$ 2 bilhões e tinha no final de dezembro do ano passado 5,9 milhões de ações da Petrobras. Agora tem 400 mil papéis, de acordo com dados enviados para a SEC. Outra gestora, a Arrowstreet Capital, que administra US$ 25 bilhões, tinha 3,6 milhões de ações da petroleira brasileira, número que se reduziu para 1,1 milhão.
A Gruss Asset Management foi mais radical e resolveu zerar suas posições, vendendo as 1,4 milhão de ações que tinha da Petrobras. Um levantamento do site especializado em fundos de hedge, o InsiderMonkey, mostra que, das oito gestoras que mais tinham ações da petroleira, apenas duas aumentaram a posição este ano na comparação com final de dezembro de 2013. As outras seis reduziram as apostas. O Broadcast procurou todas as principais gestoras, mas elas preferiram não se pronunciar.
Um gestor em Wall Street, que preferiu não se identificar, disse que a empresa brasileira "é um dilema", pois oferece boas perspectivas de produção, sobretudo depois das recentes descobertas no pré-sal, mas que as denúncias de corrupção e lavagem de dinheiro "mancham" o nome da Petrobras e elas precisam ser investigadas. Além disso, ele reclamou da demora no reajuste dos preços dos combustíveis no Brasil, que complica a situação da empresa para fazer face aos investimentos - nesta quarta-feira, a estatal anunciou aumento de 3% nos preços de venda da gasolina e de 5% no diesel, nas refinarias.
Assim, alguns gestores avaliam que, dependendo de como forem conduzidas as investigações e da transparência da Petrobras, o movimento de venda pode ser reverter. Uma das expectativas é que as duas empresas recentemente contratadas pela petroleira para a investigação do esquema de corrupção ajudem a esclarecer melhor a história. Uma delas, a Gibson, Dunn & Crutcher, é dos Estados Unidos e tem ampla experiência em investigar problemas no setor. Um de seus clientes mais conhecidos é a Chevron, segunda maior empresa norte-americana de petróleo.
Pelas regras dos Estados Unidos, os fundos precisam informar à SEC a cada trimestre como estão suas carteiras no fechamento do período, com a quantidade de ações e as empresas em que investem. Uma das formas de os fundos em Wall Street aplicarem em Petrobras é por meio dos American Depositary Receipts (ADRs, recibos que representam ações e são listados em Nova York). O ADR da Petrobras costuma ficar entre os dez papéis mais negociados diariamente em toda a Bolsa de Valores de Nova York (Nyse). No ano, o papel acumula queda de 25%.