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Empresas ainda não estão preparadas para enfrentar crises

Estudo aponta que maioria das companhias não possui um plano para lidar com eventos críticos

Por Malena Oliveira
Atualização:

A crise política, a recessão econômica e a quebra de confiança gerada pelos desdobramentos da Operação Lava Jato levaram a uma preocupação maior dos empresários no Brasil com a forma como seus negócios são conduzidos. Esses fatores, no entanto, expuseram o despreparo das companhias em lidar com esses eventos.

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“A gestão de risco no Brasil ainda é imatura, mas ela existe e está crescendo à medida em que o mercado exige melhor governança. Já quanto à gestão de crise, as empresas ainda estão em um patamar inicial”, avalia Camila Araújo, sócia da consultoria Deloitte.

As práticas de gestão de risco são aquelas que buscam prevenir crises (que podem ser ambientais, financeiras, de imagem, ou envolverem questões legais), enquanto as de gestão de crise tratam de lidar com eventos inesperados que já estão em curso.

Prevenção. Bueno, da CPFL, diz que empresa revê modelos Foto: DIV

Uma pesquisa feita pela consultoria em parceria com o Instituto Ethos ouviu 95 líderes de companhias no Brasil. A conclusão foi que, embora mais de 60% delas tenham uma área de gestão de riscos, a maioria não possui um plano específico para gerenciar crises. A recomendação é de que as empresas tenham grupos de trabalho com profissionais de diversas áreas que estejam preparados para enfrentar essas situações.

Para o presidente do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon), Idésio Coelho, a gestão de crise no Brasil ainda é pontual. “As empresas respondem de forma reativa, de modo a apagar um incêndio de cada vez”, disse. Segundo o executivo, um dos motivos é o estágio de desenvolvimento do mercado de capitais. “No Brasil, existe a clássica figura do controlador que domina a empresa e não presta todos os esclarecimentos ao mercado. Em outros países, conscientização e cobrança são maiores e acontecem há mais tempo”, disse.

Lições. O atual cenário tem o efeito positivo de reforçar questões como ética, transparência e controles internos, ainda que pelo caminho mais doloroso. Na pesquisa da Deloitte, que está em sua quinta edição no Brasil, essas preocupações nunca foram tão urgentes como agora.

Diretor da CPFL Energia, Marco Antonio Bueno lidera um grupo de trabalho para prevenir diversos tipos de eventos, que englobam desde questões operacionais, como a interrupção no fornecimento de energia em determinada região, até questões financeiras, como o endividamento da empresa.

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Para lidar com temas tão diversos, a CPFL Energia criou há um ano um comitê executivo de riscos. Também passou a apostar nos chamados agentes de compliance: um grupo de 20 funcionários que atuam em diversas áreas da empresa, focados no monitoramento de riscos para o negócio. Esse modelo, porém, será revisado: “Queremos ampliá-lo em atribuições e escopo”, disse o executivo.

Já a gestão de crise não fica concentrada em uma divisão específica: “Cabe a cada área lidar com esses eventos”, disse Bueno.

Apesar de o cenário trazer diversas lições para quem faz negócios no Brasil, o discurso da classe empresarial não reflete totalmente a realidade. A avaliação é do consultor Ricardo Gambarotto, da RGF & Associados. “Falando institucionalmente, empresários e executivos são otimistas em relação à crise econômica, mas a foto é diferente em um ambiente mais íntimo”.

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