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Parentesco na gestão é comum em metade das empresas listadas

Em grande parte das companhias há relações familiares entre diretores e conselheiros, aponta levantamento da KPMG

Por Malena Oliveira
Atualização:

À medida em que esse mercado cresce, é natural que surjam novas preocupações quanto à boa governança. Sidney Ito, sócio da KPMG e líder da área responsável pela pesquisa, dá o exemplo de uma prática que se tornou comum nos últimos anos e que pode ser decisiva para empresas atraírem novos investimentos: "Hoje, a composição do conselho de administração e o que se discute em suas reuniões são pontos questionados por acionistas". A maneira como as decisões desse colegiado são tomadas e sua influência nos negócios são pontos a serem observados de perto por quem investe. O executivo complementa: "A empresa que tem uma boa estrutura de governança corporativa coloca o ágio na mesa". Olhando para a qualidade da composição do conselho, Robert Juenemann destaca que é importante que as organizações deixem claras as suas políticas e que sejam justas quanto a aceitar ou não parentes trabalhando juntos e tomando decisões. Ele frisa a importância de as mesmas regras valerem tanto para a alta cúpula quanto para as demais posições na hierarquia: "Isso deve estar explícito no acordo de sócios e no código de conduta da empresa, essa é a forma adequada de tratar o tema". O executivo defende que familiares mantenham relações estritamente formais no ambiente corporativo e reforça: "O mais importante é que as pessoas tenham o discernimento de suas atribuições". Ele conclui: "Boa governança não tem início e fim, é uma jornada". "Dependendo da situação, relações de parentesco na gestão até dão mais credibilidade à empresa", argumenta Marcelo Lico, diretor da consultoria especializada em governança corporativa Crowe Horwath Brasil. Ele explica que uma companhia pode se valer dos laços familiares entre gestores para atrair a confiança de investidores, mas tudo depende de sua estrutura de governança: "Para ocupar um cargo na gestão de uma empresa é preciso ter competência, independente de ser parente ou não de seu fundador. É preciso ter experiência, de preferência fora da companhia". Entretanto, o executivo chama atenção: "Obviamente, em uma empresa listada não pode haver somente parentes na gestão, é preciso que haja pessoas de fora da família também". Marcelo Lico estende o conselho a empresas que não têm ações negociadas em bolsa de valores e reforça a importância da visão do agente externo. Para Fred Ronflard, diretor da consultoria especializada em recrutamento Robert Walters, as relações familiares nas companhias se tornam menos frequentes à medida em que essas empresas se internacionalizam. Na outra ponta, o investidor estrangeiro também dá mais credibilidade à organização em que a família não é preponderante: "Parentesco não é necessariamente ruim, mas o estrangeiro vem de um ambiente de negócios muito mais maduro", analisa.

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