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Dólar sobe com ação do BC, mas fecha semana em queda de 4,35%

Autoridade monetária interviu no mercado após moeda cair mais de 11% em junho; Bolsa teve quarta alta seguida e ficou no maior patamar desde o afastamento de Dilma Rousseff

Por Lucas Hirata , Silvana Rocha e Paula Dias
Atualização:

dólar fechou a primeira sessão de julho em alta e o Ibovespa subiu 1,37%, aos 52.233,04 pontos, em seu quarto dia consecutivo de alta. A valorização da moeda predominou na abertura e durante toda a tarde e refletiu a realização do primeiro leilão de swap cambial reverso da gestão Ilan Goldfajn hoje e expectativas de que o Banco Central continuará atuando para conter o ritmo de queda das cotações.

Essa percepção se consolidou após o presidente do BC, Ilan Goldfajn, declarar à imprensa que pretende usar os instrumentos para reduzir as posições em swap tradicional da autoridade monetária. Essas operações equivalem à compra de dólares. Elas servem como meio para o desmonte do estoque de outras operações feitas anteriormente pelo BC, os swaps tradicionais.

BC decidiu intervir no mercado após o dólar cair mais de 11% em junho Foto: André Dusek/Estadão

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O ajuste do dólar durante a sessão também se sustentou após a desvalorização de 11,09% da moeda americana ante o real no mercado à vista em junho - a maior desde abril de 2003. No mercado à vista, a moeda americana encerrou em alta de 0,63%, aos R$ 3,2307. Na mínima, atingiu R$ 3,1965 (-0,44%) e na máxima, R$ 3,2480 (+1,17%). O volume de negócios somou cerca de US$ 1,643 bilhão. Na semana, a queda acumulada foi de 4,35%. A taxa Ptax de hoje fechou aos R$ 3,2298 (+0,62%).

Além da entrada de recursos observada hoje, o mercado trabalha com a perspectiva de que o fluxo cambial deve continuar positivo. Essa leitura é alimentada pelos números de exportações e importações brasileiras em junho. O superávit comercial somou US$ 3,974 bilhões no mês passado, ficando dentro das expectativas. Com isso, o saldo comercial positivo no primeiro semestre foi o mais elevado para o período da história, ao atingir US$ 23,635 bilhões. 

O cenário externo de liquidez abundante e possível adiamento da alta de juros nos EUA também está no radar e ajuda a apoiar o recuo do dólar no exterior. Hoje a China anunciou queda dos indicadores do setor de manufatura (PMIs) em junho, sustentando expectativas de novos estímulos de Pequim. Também são esperadas medidas do Banco da Inglaterra (BoE). O mercado financeiro aposta que o juro deve voltar a cair no Reino Unido e o programa de relaxamento quantitativo (QE, na sigla em inglês) será reforçado. Grandes bancos não descartam, inclusive, a chance de juro zero já em agosto no país.

Bolsa. Em quatro dias consecutivos de alta, a Bovespa acumulou ganhos de 6,07%. O movimento mais uma vez foi garantido pela melhora do humor dos investidores estrangeiros. Uma nova rodada de ganhos nas bolsas da Europa e Estados Unidos e a alta dos preços do petróleo beneficiou também os países emergentes.

Além de anular os efeitos negativos gerados pelo Brexit, a alta de hoje levou o Índice Bovespa ao patamar mais alto desde 12 de maio, dia em que Dilma Rousseff foi afastada da presidência e Michel Temer assumiu o comando do País. Naquele dia, o índice terminou em 53.241,31 pontos, mas passou por uma correção logo em seguida.

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Uma semana após o resultado do plebiscito que decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia, os investidores se mostram bem mais seguros quanto aos efeitos dessa decisão inédita. A percepção de que os bancos centrais se mobilizarão em favor de uma transição tranquila, concedendo estímulos à economias na zona do euro, reduziu sensivelmente o nervosismo e restabeleceu o apetite por risco.

As declarações desta quinta-feira, 30, do presidente do Banco Central da Inglaterra (BoE), Mark Carney, sinalizando para novas medidas de estímulos nos próximos meses, continuaram a animar os investidores. O otimismo, ainda que cauteloso, foi reforçado hoje por indicadores econômicos positivos na Europa e nos Estados Unidos. O PMI industrial da zona do euro ficou em 52,8 em junho, o maior patamar em seis meses. Nos EUA, o mesmo indicador subiu para 53,2 em junho, o maior nível em 16 meses. A alta das bolsas americanas foram consideradas tímidas, mas foram justificadas pela proximidade do feriado do Dia da Independência, que manterá fechadas as bolsas locais. 

Entre as ações que compõem o Ibovespa, um dos destaques mais importantes ficou com os papéis da Petrobrás, que avançaram 4,78% (ON) e 4,23% (PN), apoiados na alta do barril do petróleo nas bolsas de Nova York (+1,36%) e de Londres (+1,28%). Além da valorização do petróleo, operadores afirmam que as ações da Petrobrás e outras blue chips foram alvo de recomposição de carteiras de investidores estrangeiros.

O setor de mineração e siderurgia também se destacou, tendo CSN ON (+12,02), Usiminas PNA (+5,97%) e Gerdau PN (+5,09%) entre os maiores ganhos do Ibovespa. As ações da Vale subiram significativamente (+2,15% a ON e +1,61% a PN), apesar do preço do minério de ferro ter recuado 0,4% no mercado à vista chinês. Além da maior procura por parte dos investidores estrangeiros por ações de alta liquidez, as ações desses setores também refletiram o bom desempenho de seus pares no exterior.

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As ações ordinárias do frigorífico JBS operaram na contramão da tendência predominante na Bovespa e lideraram as quedas do Ibovespa durante todo o dia. Os papéis fecharam com perda de 5,00%, depois de terem caído até 7,90%. A queda foi uma reação à informação de que a Eldorado Brasil foi alvo da nova fase da Operação Lava Jato deflagrada hoje. A empresa é controlada pela J&F Investimentos, que tem entre seus empreendimentos a JBS.

O volume de negócios totalizou R$ 7,35 bilhões, superior à média diária de junho, que foi de R$ 6,528 bilhões. No acumulado da semana, o Ibovespa subiu 4,25%. No ano, a alta é de 20,49%. 

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