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Brasil pode atingir PIB de 6% ou 7% nos próximos anos

Para o economista francês Jean-Paul Fitoussi, País deve focar crescimento sem perder de vista política social

Por Luciana Xavier e da Agência Estado
Atualização:

O Brasil não precisa crescer dois dígitos para ser um exemplo de desempenho econômico no mundo. Ao contrário, o País deve colocar o foco em crescer sem perder de vista as políticas sociais, analisa o economista Jean-Paul Fitoussi, professor do Instituto de Estudos Políticos (IEP) de Paris e presidente do Observatório Francês de Conjunturas Econômicas (OFCE). Segundo ele, o Brasil tem condições de atingir um crescimento de PIB de 6% ou 7% nos próximos anos.

 

 

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Como Fitoussi tem se dedicado a mostrar que o crescimento do PIB não é o melhor termômetro para progresso e desempenho econômico de um país, o economista ressalta que para crescer com mais vigor, o Brasil tem que continuar avançando na redução das desigualdades sociais. "O Brasil tem um longo caminho a percorrer. Ainda é um País com muita pobreza. Mas está na direção certa e não deveria se preocupar tanto com a velocidade de crescimento e sim com a qualidade", afirmou, em entrevista ao AE Broadcast Ao Vivo.

 

Fitoussi, o Prêmio Nobel Joseph Stiglitz e o professor de Harvard Amartya Sen encabeçam a Comissão Stiglitz-Sen-Fitoussi, como ficou conhecida, que foi idealizada pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy, para propor maneiras de se medir o desempenho econômico e progresso de um país.

 

O objetivo da comissão é mostrar a importância de se medir o sistema de riqueza de um país daqui por diante não somente pelo PIB, mas por outros indicadores que revelem o nível de bem-estar da população, acesso à educação e saúde.

 

Segundo Fitoussi, a China pode até crescer muito e retomar o ritmo de antes da crise, mas não é um modelo a ser seguido. "A China tem esses números espetaculares de crescimento que o governo apresenta, mas é um país ditatorial. Ela não pode ser um modelo porque o crescimento real é conseguido à custa da destruição do capital humano. No Brasil, há um sistema mais equilibrado de crescimento, primeiro porque é uma democracia e segundo porque (o País) vem adotando políticas sociais", explicou.

 

Perguntado sobre se o Brasil poderia ser um exemplo a ser incluído nos estudos da comissão, Fitoussi respondeu: "Sim, o Brasil poderia ser um exemplo porque aí há crescimento qualitativo, baseado na construção de políticas sociais".

 

Crises

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Ainda que o mundo tenha sofrido muito com a crise atual, não há sinais de que esteja agindo de modo a evitar outra crise daqui a alguns anos, disse Fitoussi. "Temo que não esteja havendo ação coordenada no mundo suficiente para evitar ou nos prevenir de outras crises", afirmou.

 

Fitoussi disse que o mundo está em recuperação, mas que esse processo será lento. "Levará muito tempo para se recuperar o que já perdemos", disse. Ele frisou que, apesar da retomada, o desemprego no mundo segue muito alto, a precariedade dos empregos aumentou, assim como a pobreza global.

 

De acordo com ele, sem uma ação coordenada, os países emergentes mais afetados pela crise, como os do leste europeu, devem sofrer muito ainda e tendem a adotar uma política de não-cooperação e aumento de reservas no longo prazo. Numa ação conjunta, explicou, os países ricos deveriam estar destinando um porcentual dos pacotes de estímulo aos países com menor capacidade para se reerguer. Isso até agora não ocorreu, afirmou Fitoussi, e as causas desta crise continuam sobre a mesa. Segundo ele, a proposta consta num estudo recente feito por ele e Stiglitz para as Nações Unidas.

 

O economista francês, de origem tunisiana, propõe ainda maior taxação sobre os bancos para reduzir lucros, adotar a progressividade do sistema tributário, especialmente para as rendas mais altas, e tentar combater os paraísos fiscais.

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