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China suspende mecanismo que impede grandes oscilações no mercado de ações

Em vigor há menos de uma semana, sistema de circuit breaker interrompeu dois pregões e será suspenso já a partir da sexta-feira, 8; regulador chinês fala em aprender com a experiência

Por Danielle Chaves
Atualização:

O regulador do mercado acionário da China anunciou a suspensão do novo mecanismo de circuit breaker das bolsas do país, que havia sido elaborado para ajudar o mercado de ações. Segundo o órgão, o sistema não funcionou como esperado e em vez disso exacerbou perdas. O mecanismo interrompe as negociações em caso de fortes altas ou baixas e, nesta quinta-feira, 7, fez com que o pregão na bolsa de Xangai fosse encerrado 30 minutos depois da abertura devido à forte onda vendedora. 

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A Comissão Regulatória de Ações da China informou que o sistema de circuit breaker será interrompido já a partir desta sexta-feira, 8. O órgão não informou durante quanto tempo essa suspensão vigorará. O mecanismo, anunciado no mês passado, começou a operar na segunda-feira e foi acionado duas vezes em quatro dias de negociações.

O circuit breaker tinha originalmente como meta proteger os pequenos investidores num momento de flutuações do mercado, disse o regulador. Mas, baseando-se na experiência desta semana, ele não conseguiu acalmar os mercados e em vez disso piorou a onda de vendas, disse a comissão. O regulador se comprometeu a aprender com essa experiência e "melhorar constantemente" o sistema.

Mecanismo interrompeu pregão na bolsa de Xangai nesta quinta-feira, 7, após 30 minutos de negociação Foto: Chinatopix/AP

Reação adversa. Para o professor de Gestão Estratégica da Warwick Business School e especialista em China Kamel Mellahi, a eficácia do circuit breaker era questionável em um ambiente "altamente volátil guiado por mentalidade de manada". 

Mellahi afirma que os investidores de varejo chineses, que respondem por uma grande parte das operações no mercado de ações do país, não fazem investimentos de longo prazo e são inclinados ao pânico. "É de se esperar que eles reajam a informações de curto prazo sobre a saúde da economia chinesa. Um yuan mais fraco torna menos atrativo para eles possuir ações", destacou.

Uma análise mais técnica foi feita por Steven Sun, diretor de pesquisa de ações para Hong Kong e China do HSBC, para explicar porque o sistema de circuit breaker adotado pelo governo chinês poderia não surtir o efeito desejado. As regras determinavam que os negócios fossem suspensos por 15 minutos sempre que o índice CSI 300 - que engloba as 300 ações mais negociadas na China - caísse ou subisse 5% e que a sessão fosse interrompida quando a variação chegasse a 7%.

No entanto, de acordo com Sun, durante 2015 o mercado de ações "A" da China teve queda de mais de 5% em 33 ocasiões e de mais de 7% em 11 casos. "Isso significa que as novas regras poderiam ser acionadas para 15% das sessões durante este ano", disse o analista. O sistema foi suspenso no começo desta tarde, já madrugada na China.

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Mas o circuit breaker sozinho não esclarece a forte onda de vendas de ações observadas nos três primeiros pregões de 2016 na China. Essas incertezas se somaram à transição econômica que o governo chinês tem promovido recentemente. Além de defender que um crescimento abaixo de 7% é suficiente para a economia local, o governo vem abrindo gradualmente algumas áreas e decidiu permitir, por exemplo, que o yuan oscile mais de acordo com as tendências cambiais internacionais - o que também colaboraria para melhorar o desempenho do comércio externo do país, embora o governo afirme que esse não é o objetivo do movimento.

"Usar a desvalorização cambial para estimular o crescimento é uma faca de dois gumes. Um yuan mais fraco vai ajudar a impulsionar as frágeis exportações do país e ajudar no crescimento econômico, mas também vai aumentar o risco de fuga de capital da China, o que torna o investimento no mercado de ações menos atrativo", observou Mellahi, acrescentando que a economia chinesa está passando por uma transição delicada que exige muitos ajustes difíceis.

Sun, do HSBC, concorda que essa dificuldade em implementar a transição ajuda a explicar as preocupações com a economia da China. "Embora seja fácil falar sobre a doutrina do livre mercado, é muito mais difícil encontrar o equilíbrio correto entre reforma, desenvolvimento e estabilidade, que é o que a China está se esforçando para conseguir", comentou. "Tentativa e erro é parte dos esforços de reforma da China", afirmou. (Com informações da Dow Jones Newswires)

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