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Incertezas com economia elevam dólar, apesar de medida cautelosa do BC

Após o Banco Central surpreender o mercado com a manutenção dos juros em 6,5%, o dólar encostou em R$ 3,70 e a Bolsa teve o maior recuo em um ano

Foto do author Luciana Dyniewicz
Por Luciana Dyniewicz , Paula Dias e Ana Paula Ragazzi
Atualização:

O dia seguinte à decisão do Banco Central de manter a taxa básica de juros (Selic) em 6,5%, surpreendendo os analistas, foi de tensão no mercado financeiro. O dólar atingiu R$ 3,6994, sua maior cotação em pouco mais de dois anos, e a Bolsa registrou o maior recuo em um ano: o Ibovespa, principal índice da B3, fechou com queda de 3,37%, a 83.621,94 pontos.

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Esse nervosismo é reflexo de uma enorme incerteza que ronda tanto a economia global – o que vem derrubando as moedas dos países emergentes – quanto o mercado local, às voltas com um cenário que conjuga uma recuperação muito frágil da atividade econômica e uma enorme indefinição em relação às eleições de outubro.

Alta da moeda americana é sustentada por fatores externos e internos Foto: Epitácio Pessoa/Estadão

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Com isso tudo, nem a medida cautelosa adotada pelo BC ao decidir não mexer na taxa Selic, quando praticamente todo o mercado esperava um corte de 0,25 ponto porcentual, foi capaz de segurar o real.

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Na teoria, uma taxa de juros de 6,5% tem mais capacidade de atrair capital externo que uma de 6,25%, o que fortaleceria a moeda brasileira. E, na manhã desta quinta-feira, 17, até chegou a parecer que decisão surtiria efeito: o dólar chegou a cair 0,57%, para R$ 3,6544. Logo depois, porém, a tendência se inverteu e a moeda americana passou quase todo o pregão negociada acima de R$ 3,70, para fechar o dia aos R$ 3,6994, uma alta de 0,65%. Foi a maior cotação desde 16 de março de 2016, quando a crise pré-impeachment de Dilma Rousseff atingia seu auge, com a nomeação do ex-presidente Lula para a Casa Civil.

“Está prevalecendo a dinâmica de fortalecimento global do dólar, que anula qualquer efeito que a decisão do BC pudesse detonar”, disse o economista-chefe da Guide Investimentos, João Mauricio Rosal.

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Para o estrategista de private banking do Banco Votorantim, Marcos de Callis, o cenário externo vem prevalecendo. Segundo ele, apesar dos problemas internos no Brasil, como o ajuste fiscal e as eleições, os emergentes, em bloco, estão sendo enxergados com risco maior pelos investidores e, assim, suas moedas acabam se desvalorizando.

Ações. Na Bolsa, o recuo do pregão desta quinta foi o maior, em termos porcentuais, desde 18 de maio de 2017, quando o índice caiu 8,8% após a divulgação da gravação feita por Joesley Batista, da JBS, com o o presidente Michel Temer. Para analistas, nesse caso, mais do que o cenário externo, pesa a recuperação lenta da economia.

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“A redução na taxa de crescimento da economia do País afeta as perspectivas de lucro das empresas, tendo um impacto negativo (no preço dos papéis)”, disse Rosal. O economista acrescentou que os juros “um pouco mais altos” também aumentam o custo de financiamento das empresas, reduzindo o lucro futuro.

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Para o economista-chefe da Modalmais, Alvaro Bandeira, a Bolsa “tinha de ceder”, porque não houve mais uma queda nos juros. “Foi também um momento de realização de lucro. A própria Petrobrás (cujos papéis ordinários caíram 4,49%) tinha subido mais de 20% (em maio).”

O estrategista-chefe da XP Investimentos, Karel Luketic, lembrou que apenas a Bolsa vinha apresentando resultados positivos nas últimas semanas, enquanto o cenário interno e externo era negativo. “A mudança no tom do BC indicou que a percepção de risco é maior do que há uma semana. Os investidores acabam reduzindo sua exposição ao risco”, disse. Nesta quinta, o risco Brasil, medido pelo Credit Default Swap (CDS), derivativo que protege contra calote da dívida soberana, chegou a ser negociado a 193,2 pontos, em alta de 4,27 pontos em relação ao final de quarta-feira.

Luketic destacou também que o dia de resultados negativos no mercado refletiu ainda a divulgação, na quarta-feira, do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que apontou para retração de 0,13% no 1.º trimestre. 

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