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Conselho da Petros aprova balanço financeiro de 2014

Déficit acumulado é de R$ 6,2 bilhões; contas do fundo de pensão dos funcionários da Petrobrás haviam sido rejeitadas na semana passada, o que poderia afetar o balanço da estatal

Por MÔNICA CIARELLI E ANTONIO PITA
Atualização:

Depois de ter as contas rejeitadas pelo conselho fiscal na semana passada, o fundo de pensão dos funcionários da Petrobrás (Petros) conseguiu nesta quinta-feira, 30, ter seu balanço financeiro de 2014 aprovado. Em reunião extraordinária, o conselho de administração, com voto de minerva do presidente do órgão, Antonio Sérgio Oliveira Santana, sancionou o resultado, que corresponde a um déficit acumulado de R$ 6,2 bilhões. Uma rejeição do balanço da fundação teria efeito em cascata sobre a Petrobrás, que também teria de revisar seu balanço do ano passado.

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Em entrevista à reportagem, o presidente da Petros, Henrique Jäger, garantiu que, apesar do resultado negativo em 2014, o segundo consecutivo, as contas da fundação permanecem saudáveis. O executivo admite que será um "grande desafio" trazer o balanço para azul este ano de crise. A estratégia será pisar no freio e adotar uma linha mais conservadora nos investimentos, com ampliação da fatia aplicada em títulos públicos. Os investimentos em renda variável, atualmente em 53% do patrimônio, vão caminhar para baixo de 50% ao longo dos próximos cinco anos.

Entre os principais vilões do fraco desempenho em 2014 está uma redução de R$ 1,1 bilhão no valor de contabilização da fatia da Petros na Vale por conta da queda livre no preço do minério de ferro. Outro ponto que contribuiu com R$ 2,9 bilhões no déficit foi o reajuste dos benefícios de aposentados e pensionistas do Plano Petros Sistema Petrobrás (PPSP) referente aos anos de 2004, 2005 e 2006 estabelecido no acordo coletivo de trabalho da estatal. Também foi provisionado cerca de R$ 650 milhões para ações judiciais referentes ao plano.

Os déficits acumulados pela Petros preocupam por conta da legislação atual do setor, que obriga um aporte adicional caso o fundo contabiliza três anos consecutivos de desempenho negativo. Segundo ele, esse é um tema que precisa ser rediscutido pela indústria. "Os fundos trabalham com um horizonte de longo prazo, mas são regulados por uma legislação de curto prazo", questionou. E completou: "O déficit é uma bandeira amarela, mas não se pode olhar só para ele, tem que se combinar com outros fatores.

Além dos desdobramentos da crise econômica, o resultado da fundação este ano deve ser influenciado negativamente também pelo imbróglio envolvendo a Sete Brasil, que já motivou uma desvalorização de 30% nas cotas dos acionistas. Jäger informa que o fundo está acompanhando com lupa a reestruturação da companhia, mas não pretende colocar mais dinheiro no ativo. "Não tem até o momento nenhum indicativo de novos aportes", revelou. A Petros detém 17% de participação no Fundo Sondas, criado para controlar a companhia.

"Nosso interesse é rentabilizar esse investimento. Essa é uma companhia muito atraente. Tem muita gente interessada nesse processo", afirmou o presidente, ao revelar que novos sócios não é uma estratégia descartada nesse momento de reestruturação.

Lava Jato. Jäger assumiu o comando da Petros em março. Além de adotar uma postura mais conservadora nos negócios, o executivo vem trabalhando em medidas para blindar a fundação da novas suspeitas de negócios irregulares. O fundo de pensão entrou no radar da Operação Lava Jato da Polícia Federal depois que o advogado Carlos Alberto Pereira Costa, um dos auxiliares do doleiro Alberto Yousseff disse em delação premiada que o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, intermediava negócios na Petros.

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Entre as medidas que estão adotadas está a contratação de um escritório internacional para investigar as operações dos fundos e da Ernest & Young para avaliar se todas as regras de análise de negócios foram compridas pelos antigos gestores da fundação. Outra decisão foi só aceitar operações que tenham como respaldo avaliações de ratings de empresas estrangeiras. "Todos os ativos que temos inadimplentes, nenhum tinha rating internacional, eram todos ratings nacionais", lembrou. A intenção não é só olhar para o risco de um ativo, mas para o impacto que esse negócio terá no risco na carteira do fundo. Ficou acertado ainda que auditorias internas também deixaram de ser subordinadas ao presidente e passaram a ser ligadas ao conselho deliberativo.

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