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Após rebaixamento do Brasil, dólar tem maior cotação desde outubro de 2002

Moeda americana fechou em R$ 3,86, mas chegou a R$ 3,90 na abertura, o que fez o Banco Central intervir no mercado de câmbio

Por Paula Dias
Atualização:
Dólar reage à perda do grau de investimento do Brasil pela S&P Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

(Atualização às 17h30)

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Por mais que a notícia já fosse esperada, a retirada do grau de investimento do Brasil promovida pela agência de classificação de risco Standard & Poor's teve forte impacto nos mercados de câmbio nesta quinta-feira, 10. A puxada do dólar logo no início do dia acabou por levar a cotação à máxima de R$ 3,90 (alta de 2,82%), o que fez o Banco Central intervir no mercado, por meio da oferta de US$ 1,5 bilhão em dois leilões de linha. A oferta de dólares foi suficiente para abrandar os ânimos e limitar a escalada da moeda norte-americana. Ainda assim, a divisa terminou o dia com alta de 1,69%, aos R$ 3,86, no maior nível desde 23 de outubro de 2002. 

Já a Bolsa teve uma queda comedida. O Ibovespa terminou a sessão em baixa de 0,33%, aos 46.503 pontos. Na mínima, marcou 45.592 pontos (queda de 2,28%) e, na máxima, 46.819 pontos (alta de 0,35%). No mês, acumula perda de 0,26% e, no ano, de 7,01%. O giro financeiro totalizou R$ 7,9 bilhões. 

A S&P rebaixou ontem o rating soberano do Brasil de BBB- para BB+, mantendo a perspectiva negativa da nota, tirando do País o selo de bom pagador e colocando-o na categoria de grau especulativo. Para a decisão, pesaram principalmente as dificuldades do governo na condução do ajuste fiscal, que ficaram mais explícitas após o anúncio da previsão de déficit de R$ 30,5 bilhões no Orçamento de 2016. Em 2008, a S&P foi a primeira das três principais agências de classificação de risco a elevar o Brasil à categoria grau de investimento.

Apesar do rebaixamento, a diretora-gerente de ratings soberanos da S&P, Lisa Schineller, reconheceu o trabalho de Levy e do Banco Central na busca pelo ajuste fiscal. "Mas o cenário de baixo crescimento torna essa política mais desafiadora", ressalvou a diretora. Lisa disse ainda que "a política monetária do Brasil é comparativamente forte e um ponto a ser destacado" em relação a outros países com o mesmo rating. Ela ressaltou o esforço do Banco Central em "reancorar as expectativas de inflação".

Atualmente, as duas outras agências, Moody's e Fitch, ainda mantêm o Brasil como grau de investimento. A Moody´s não se manifestou sobre o assunto, mas a diretora de ratings soberanos para a América Latina da Fitch, Shelly Shetty, disse que o rating soberano do Brasil está "sob pressão" desde abril, sendo que alguns riscos no País têm piorado.

As declarações de Shelly Shetty reforçaram expectativas de que a agência poderá promover alguma mudança no rating brasileiro, o que levou as taxas de juros futuras a acelerarem levemente a trajetória de alta com que já vinham operando desde cedo. Vale lembrar que, pelos critérios da Fitch, o Brasil ainda está dois degraus acima do grau especulativo.

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No mercado de câmbio, a intervenção do BC foi considerada positiva não apenas pelos montantes ofertados, mas também pela sinalização da autoridade monetária de que está atenta ao mercado, podendo agir em momentos cruciais. Segundo operadores, o avanço da cotação também foi limitado pela percepção de que o custo de carregamento do dólar no patamar acima dos R$ 3,80 pode não ser vantajoso, diante de um elevado patamar de juros. 

'Otimismo'. A previsão do dólar a R$ 4,00 no fim deste ano agora parece otimista, afirmou João Pedro Ribeiro, economista da Nomura. Segundo Ribeiro, o corte na nota de crédito do Brasil para grau especulativo pela S&P provavelmente vai aumentar a pressão sobre o real.

Embora um rebaixamento já estivesse no radar do mercado, "nós ainda esperamos que o real se enfraqueça mais em razão do timing inesperado, da perspectiva ainda negativa e das possíveis implicações práticas para os investidores que podem ser forçados a se desfazer de ativos do governo brasileiro", afirmou Ribeiro. 

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