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Dólar sobe para R$ 3,40, mesmo com três intervenções do BC; Bolsa cai mais de 3%

No 2º dia do 'efeito Trump' nos mercados, moeda chegou a bater R$ 3,50, mas diminuiu a alta para 1,3% com leilões; Bovespa perdeu o patamar dos 60 mil pontos e ações da Petrobrás, com prejuízo histórico no balanço, caíram quase 10%

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Por Redação
Atualização:

SÃO PAULO - Em dia de forte oscilação no dólar, o Banco Central fez três atuações no mercado de câmbio e conseguiu conter a valorização da moeda. O dólar chegou a bater R$ 3,50, mas diminuiu o ímpeto e fechou a R$ 3,4053 (+1,3%). É o maior valor desde 21 de junho de 2016. A valorização acumulada na semana é de 5,4%. A Bolsa também sofreu com o "efeito Trump" e perdeu o patamar dos 60 mil pontos, em forte queda pelo segundo dia seguido. O Índice Bovespa recuou 3,30% e fechou a 59.183,50 pontos, registrando queda de 3,92% na semana. Em novembro, o índice acumula perdas de 8,84%, e em 2016, alta de 36,53%.​

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O BC interveio duas vezes no mercado durante a tarde por meio de dois leilões de swap tradicional - que equivalem à venda de moeda no mercado futuro - quando a alta da moeda superou 4%. As atuações ocorreram paralelamente a uma declaração do presidente da autoridade monetária, Ilan Goldfajn, destacando que BC vai continuar atuando para dar liquidez a todos os mercados. Pela manhã, o BC já havia atuado uma vez.

De acordo com Peter Weiss, sócio-diretor da corretora SLW, o movimento do câmbio reflete, em parte, a insegurança de grandes exportadores e importadores sobre como ficará a política de comércio exterior a ser adotada pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump. "O limite é R$ 3,50 e já é pesado", afirmou.

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou nesta tarde que os mercados estão reagindo à possibilidade de uma guinada na política econômica dos Estados Unidos, mas que é preciso aguardar o que Trump vai fazer de fato. "Mas, diferentemente dos mercados, o governo tem de agir com tranquilidade e serenidade." 

O recém-eleito presidente dos EUA, Donald Trump Foto: Reuters

Teste. Para um profissional do mercado de câmbio, investidores estavam testando o BC para ver se um dólar mais perto do nível de R$ 3,50 atrairia medidas mais agressivas. "Há espera de intervenção mais forte do Banco Central, pode ser com mais swap tradicional ou até com venda de dólar no mercado à vista", afirmou a fonte.

Diante da volatilidade do mercado causada pela eleição de Trump, o Banco Central havia interrompido a oferta de leilões quase diários de swaps cambiais reversos, equivalentes à compra de dólares no mercado futuro. Depois do encerramento das negociações de ontem, porém, a autoridade monetária anunciou a retomada da oferta de contratos de swap cambial tradicional a partir desta sexta-feira. Em outras palavras, a casa deixou de comprar dólares no mercado futuro na quarta e passou a vender a moeda no mesmo mercado futuro nesta sexta.

'Risco Trump'. A eleição de Trump desencadeou um rali no mercado de ações norte-americano e fez subir fortemente os juros dos Treasuries (títulos do governo norte-americano) com prazos maiores, em meio a um aumento das expectativas sobre maior gasto fiscal e renovado protecionismo comercial no país com a chegada do novo presidente. Muitos esperam que a agenda de Trump leve a uma inflação maior, o que forçaria o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) a elevar os juros mais rápido que o antecipado e tornaria o dólar mais forte. Entre os emergentes, isso significa saída de capitais, depreciação da moeda e juros mais altos.

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Mercado de ações. A Petrobrás fechou entre os destaques negativos do Ibovespa, refletindo o prejuízo inesperado no balanço do terceiro trimestre da companhia, de R$ 16,5 bilhões. A ação PN fechou em baixa de 9,61%, e a ON caiu 5,82%, com a perspectiva de que a estatal não pagará dividendos referentes a 2016. O setor de infraestrutura também registrou quedas importantes por conta da perspectiva de desaceleração no ritmo de queda nos juros domésticos, com Copel PNB (-12,36%), Sabesp ON (-10,38%), Rumo Logística ON (-9,67%) e CCR ON (-8,22%) entre os destaques negativos. 

A Vale e as siderúrgicas também fecharam em queda. As ações da mineradora caíram 5,18% (PNA) e 3,31% (ON). Analistas apontam que os papéis passaram por uma realização de lucros. Mesmo com as baixas de hoje, Vale ainda acumulou altas de 15% e de 20% nesta semana, respectivamente. Hoje, o minério de ferro com pureza de 62% entregue no porto de Tianjin, na China, subiu 7,4% no mercado à vista chinês indo a US$ 79,7 a tonelada seca, de acordo com dados do The Steel Index, renovando o valor mais alto em quase dois anos.

Na ponta positiva, Marfrig ON subiu 9,89% depois que a companhia anunciou que não recomprará as debêntures obrigatoriamente conversíveis em ações detidas pelo braço de participações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a BNDESPar.

Segundo informações confirmadas pela assessoria de imprensa da Marfrig, com a conversão das debêntures em ações, que acontecerá em 25 de janeiro de 2017, o BNDES terá aproximadamente 33% das ações da companhia, enquanto os controladores ficam com cerca de 29% do capital. Mesmo tendo participação majoritária, o banco de fomento não será o controlador da Marfrig.

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Assim como na véspera, as empresas do setor de papel e celulose fecharam em alta hoje, com Fibria ON (+7,67%), Suzano PNA (+4,98%) e Klabin Unit (+4,29%), acompanhando a valorização do dólar frente o real. Na máxima do dia, a cotação chegou atingir R$ 3,50, e o dólar à vista fechou com alta de 1,30%, a R$ 3,4053.

Estácio ON foi outro destaque positivo do índice, com avanço de 3,96%. Kroton ON subiu 0,51%. Ontem, a Estácio reportou lucro líquido de R$ 135,7 milhões no terceiro trimestre de 2016, alta de 7,2% na comparação com o mesmo período do ano passado. O Brasil Plural, em comentário, avalia o resultado como positivo, com receitas crescentes e um bom controle de custos, que levaram a margem do Ebitda a atingir 25,5%. / SIMONE CAVALCANTI, LUCAS HIRATA, SILVANA ROCHA, LUCI RIBEIRO, SANDRA MANFRINI E RENATO CARVALHO

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