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É correto BC nem pensar em inflação no curto prazo

"Assumindo uma conjuntura mundial péssima, o Brasil pode fazer política monetária expansionista sem causar um grande aumento no consumo e na inflação", afirmou Vitoria Saddi, da RGE Monitor

Por Luciana Xavier
Atualização:

O Banco Central fez bem em não mexer nos juros na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de outubro e deve mesmo manter o foco no ritmo da economia e não na inflação, avaliou Vitoria Saddi, economista-chefe para América Latina e mercados emergentes da consultoria Roubini Global Economics ou RGE Monitor em Nova York. "Hoje em dia, da mesma forma que o banco central americano e da Europa, é correto não pensar em inflação no curto prazo. A decisão (do BC) foi sábia, porque o cenário mundial chama muito mais atenção para o problema de recessão", afirmou ao AE Broadcast Ao Vivo. Para Vitoria, o BC brasileiro é o que tem mais espaço entre os BCs da América do Sul para cortar juros. Segundo ela, os juros e compulsórios altos no País acabaram se mostrando "uma grande vantagem". E "dada a dimensão da crise", Vitoria avalia que o Copom deveria reduzir a Selic já na próxima reunião, em dezembro, em 0,25pp, para 13,50% " "O Brasil é hoje o melhor país da América do Sul não só para se viver e para fazer política econômica. É visto como um País extremante sólido, com alto nível de reservas, com capacidade de fazer tanto política fiscal como monetária em termos críveis. E ao cortar juros, o Brasil ainda oferece ao investidor estrangeiro um prêmio muito alto", disse a economista. "Assumindo uma conjuntura mundial péssima, o Brasil pode fazer política monetária expansionista sem causar um grande aumento no consumo e na inflação", acrescentou. A economista avalia que o cumprimento da meta de inflação de 4,5% em 2009 deve ser uma "preocupação secundária" nesse momento. "Não estou falando para esquecer a meta de inflação. Acho que a preocupação em atingir a meta tem de ser secundária neste momento. Acho que a inflação não é um problema grande. Se ficar em 5% ou 5,5% no ano em 2009, está bem". Vitoria acredita que o Brasil não será tão afetado como outros países da América do Sul, mas também não irá crescer mais 5%, como ela esperava. Sua estimativa para PIB brasileiro em 2009 está agora em 2,8%. A economista elogiou as atuações do Banco Central até agora, disse que o a autoridade monetária tem mostrado disposição em agir preventivamente e não espera que haja quebradeira de bancos ou empresas no Brasil. Vitoria disse também que no curto prazo o dólar deve continuar valorizado em relação a outras moedas, mas que o BC está "defendendo o real" e que a moeda deve se acomodar perto do nível atual, de R$ 2,10 ou R$ 2,15, o que segundo ela, é um bom patamar. Confiança A economista afirmou que não se pode dizer ainda que o pior já passou ou que o mais pesado da saída de investidores das bolsas, especialmente a brasileira, já ocorreu. Muito menos que a crise de confiança global começa a ser resolvida. "A crise de confiança ainda não está debelada. Não é uma crise mais só dos Estados Unidos e não simples de ser resolvida. Isso pode levar um ano, dois", avaliou. "Tanto Wall Street, como Brasil e demais praças do mundo continuam sobreaviso, mais perdas poderão ser registradas e deve demorar até que concluída a reestruturação da economia mundial", acrescentou. Vitoria disse que os EUA estão em recessão e a queda de 0,3% do PIB no 3º trimestre em comparação ao segundo, corrobora essa avaliação. Segundo ela, o 4º trimestre será ainda pior. "Mesmo com a aprovação do pacote fiscal, mesmo assumindo o melhor dos mundos, o 4º será pior", disse, que estima que o PIB possa cair 1% no último trimestre deste ano. O próximo ano será de crescimento mais baixo e recessão em vários países, conforme observou. A América do Sul deve crescer 2,7%, enquanto a economia mundial deverá cair 0,2% e a dos Estados Unidos recuar 0,5%, de acordo com suas projeções.

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