SÃO PAULO - O Ibovespa liderou o ranking de investimentos de março ao acumular alta de 16,97% no mês, o maior ganho mensal desde outubro de 2002, encerrando o primeiro trimestre do ano com valorização de 15,47% e acima do patamar de 50 mil pontos. O dólar, por outro lado, ficou no último lugar da lista ao perder 10,1% do valor em relação ao real neste mês, encerrando o último dia de março cotado a R$ 3,5913.
Segundo analistas do mercado, os desdobramentos da Operação Lava Jato e o andamento do processo de impeachment de Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados impulsionaram a Bolsa e a moeda brasileira, seguindo a interpretação de que um novo governo pode destravar o País e fazer a economia voltar a crescer.
"A Bolsa sempre antecipa o fato, não espera concretizar. O mercado percebeu uma chance grande de mudança de governo e vê que, com uma nova base, medidas vão ser tomadas para fazer o País andar", diz o administrador de investimentos Fabio Colombo.
No começo do mês, a Polícia Federal deflagrou uma operação tendo o ex-presidente Lula como o principal alvo, com base em investigações sobre a compra e reforma de um sítio em Atibaia frequentado pelo petista e a relação com empreiteiras investigadas na Lava Jato.
O mercado financeiro reagiu ao episódio, e o movimento de alta da Bolsa ganhou força com a divulgação do áudio de uma ligação entre Lula e Dilma, após o ex-presidente ter aceitado o cargo de ministro da Casa Civil sob acusações de interesse no foro privilegiado concedido pelo posto. Um impasse jurídico impede atualmente a nomeação de Lula como ministro.
Em meio às turbulências das investigações, o processo de impeachment ganhou força na Câmara com a formação da Comissão e a definição das primeiras datas para votação do processo. O PMDB, partido do vice-presidente Michel Temer, também decidiu deixar o governo Dilma.
Destaques. Na Bolsa, os principais destaques positivos ficaram com empresas estatais. Os papéis do Banco do Brasil tiveram valorização de 46,72% no mês, enquanto Petrobrás ON subiu 44,22% e PN, 61,87%, impulsionadas também pela recuperação do preço do petróleo no exterior.
Segundo o analista da Gradual Corretora Gesley Florentino, o bom humor dos investidores beneficiou o setor financeiro como um todo, assim como o setor siderúrgico. "A expectativa de mudança de governo e a entrada de fluxo estrangeiro foram alguns dos fatores que impulsionaram esses ativos", disse o analista.
Para o administrador Colombo, a Bolsa e o real têm espaço para continuar o processo de valorização caso o impeachment se concretize nos próximos meses, apesar dos contínuos sinais de fraqueza da economia. Na renda fixa, Colombo destaca que os fundos estão empatando ou até mesmo perdendo para a inflação, se considerar os descontos com as taxas de administração e imposto de renda.
Exterior. Para o economista-chefe da Gradual, André Perfeito, o movimento da Bolsa e do dólar no Brasil também foi sustentado pelos mercados internacionais diante da melhora do preço de commodities e da sinalização de que o Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, não vai subir os juros em abril. "Operar Bolsa e dólar olhando apenas para Brasília pode não ser a coisa mais sensata a se fazer agora", alerta.
Perfeito acredita que o Fed ainda deve subir os juros este ano e estima o dólar a R$ 4,04 no fim de 2016.