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Acusado de sonegar R$ 1 bi diz que feriu interesses

Paulo Cavalcanti diz desconhecer a origem das acusações, mas sugere ter esbarrado em interesses comerciais de concorrentes

Foto do author Fausto Macedo
Por Fausto Macedo
Atualização:

Alvo maior da Operação Alquimia - investigação da Polícia Federal sobre suposto esquema de sonegação de R$ 1 bilhão -, o empresário Paulo Sérgio Costa Pinto Cavalcanti, de 52 anos, afirma que desconhece a origem das acusações que pesam contra si, mas sugere que pode ter esbarrado em interesses comerciais concorrentes ao adotar estratégia ousada para escapar da crise que ronda o setor em que atua, distribuição de produtos químicos e termoplásticos.

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Há um ano ele adquiriu a Varient Distribuidora de Resinas da Braskem S/A e ingressou com força no Sudeste, que detém 67% dos negócios desse segmento. A Sasil Industrial e Comercial de Produtos Químicos Ltda, que reúne 26 empresas sob sua direção, é o terceiro grupo do País, o 30.º no ranking mundial. A Varient estendeu seus tentáculos para São Paulo, Rio e o Espírito Santo.

Esse avanço, ele supõe, pode ter incomodado rivais: "Entramos em São Paulo porque a gente estava andando de lado. O mercado atravessa um momento bastante ruim. A gente vem sofrendo há 5 anos, principalmente com a invasão dos importados."

Em sua sala de trabalho, na sede da Sasil, em Campinas de Pirajá, nos arredores de Salvador, ele recebeu o Estado para falar sobre Alquimia. Revela inconformismo, indignação. O tempo todo desafia que provem a super sonegação que lhe é atribuída. Usa de cautela e prudência quando indagado sobre oponentes que pode ter contrariado em sua escalada : "Será apenas uma coincidência? Essa investigação (Alquimia) estava parada desde 2002. Mas não consigo imaginar (ação de concorrentes por trás do cerco a que é submetido), não quero ver fantasmas. Não dá para ficar imaginando assombrações, imaginar o uso de instituições que existem para nos proteger. Agora, isso tudo é muito estranho, muito estranho, porque nossa empresa está crescendo, o grupo se desenvolvendo, contribuindo com o País, empregando mais. Pedi ao meu advogado que procure identificar de onde é que tiraram essa história de sonegação de R$ 1 bilhão."

A Sasil faturou R$1,67 bilhão, de 2005 a 2010, informa o empresário. Ele ficou preso em regime temporário por cinco dias no Centro de Observações Penais (COP), em Salvador, de segunda a sexta-feira da semana que passou. ‘Vou quebrar’. A Justiça confiscou cautelarmente seus bens e ativos. Diz que prevê o pior, para a saúde da Sasil e de seus 600 funcionários: "Com minhas contas bloqueadas vou quebrar, vou me tornar inadimplente, não vou poder pagar meus fornecedores, meus empregados, os impostos."

Sobre a mesa, mais números. Em 2010, ele registra, a Sasil recolheu R$ 15,23 milhões em tributos. "O que eu faço é empregar gente e pagar impostos. Está nas auditorias."

Filho de motorista de caminhão pernambucano e professora baiana, Cavalcanti diz que "saiu do fundo de quintal para crescer na vida com orgulho".

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A Sasil foi construída na própria residência em que ele passou sua infância. Com o tempo, o imóvel recebeu puxadinhos, e foram muitos, para lá e para cá, que hoje abrigam as repartições da empresa. "Nossa vida agora é destruída por uma ação desastrosa, irresponsável."

Seu advogado, Gamil Föppel, que acompanha a entrevista, afirma que contra a Sasil não existe lançamento definitivo de tributo. "Eu nunca fui intimado para responder sobre qualquer tipo de denúncia ou de irregularidade", desabafa o empresário. "Minhas empresas estão sempre sob fiscalização, nossa regularidade fiscal está atestada", afirma.

Seu advogado peticionou à Justiça Federal em Juiz de Fora (MG), onde está concentrada a investigação, para que "sejam exibidos os autos sobre a sonegação que alegam existir."

"Se existe sonegação de R$ 1 bilhão é óbvio que alguém se beneficiou", argumenta o empresário. "Mas onde está esse dinheiro? Quem é que se beneficiou? Eu conheço todas as minhas empresas, os meus negócios. Não sou sonegador. Nunca fui autuado, minhas empresas estão em situação regular perante o Imposto de Renda."

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Rebela-se contra a extensão da Alquimia, que entrou até na casa de sua mãe, de 81 anos. " Meu filho foi preso porque tem o meu sangue? Isso é democracia? E os deireitos dos cidadãos?"

Ilha da fantasia. Fala sobre a Ilhota de Itapipuca, que a PF confiscou na grande operação deflagrada há duas semanas. Vinte hectares na Bahia de Todos os Santos, piscina, quadras de tênis e quetais. A PF diz que lá encontrou ouro, 2,5 quilos em barrotes. A propriedade, informa , foi adquirida em 1986 por 300 cruzados, a moeda do Sarney. Ele mostra a documentação, primeiro o registro de compra e, depois, a escritura, passada em 1992.

"Está tudo declarado, como tudo o que possuo. O ouro que eles dizem ter achado na ‘ilha da fantasia’ foi comprado em prestações de carnê por minha mãe, no governo Collor." Ele mostra notas fiscais da compra do ouro. "Não sei do que estou sendo acusado, mas já fui preso, já me liquidaram. Na verdade, já estou condenado", queixa-se o empresário.

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