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Alvo da Lava Jato, Mendes Júnior entra com pedido de recuperação judicial

Empresa estava em crise desde que o então vice-presidente Sérgio Cunha Mendes foi preso em 2014 pela Polícia Federal

Por Renée Pereira e Leonardo Augusto
Atualização:
Sérgio Cunha Mendes (à esq.) foi condenado a mais de 19 anos de prisão Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputado

SÃO PAULO/BELO HORIZONTE - A empreiteira Mendes Júnior Trading e Engenharia, alvo da Operação Lava Jato, entrou na segunda-feira com pedido de recuperação judicial na Justiça de Minas Gerais. Desde 2014, quando o então vice-presidente, Sérgio Cunha Mendes, foi preso pela Polícia Federal, a empresa enfrenta uma grave crise financeira. O caixa, debilitado pela falta de novas obras e crédito escasso, ficou mais enfraquecido com inadimplência do poder público, segundo o pedido de recuperação.

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A empresa teria cerca de R$ 500 milhões a receber da União e do Estado de Minas Gerais por obras em andamento – ou concluídas –, entre elas a Transposição do Rio São Francisco. O advogado da Mendes Júnior, José Murilo Procópio de Carvalho, afirma que esse montante é o dobro da dívida da empreiteira, de R$ 250 milhões. Desse total, R$ 160 milhões são débitos fiscais. O restante é relativo a financiamentos bancários.

Apesar das dificuldades, a companhia resistiu durante mais de um ano ao processo judicial. Com o crescente aumento dos pedidos de falência por parte dos fornecedores, no entanto, a construtora aderiu ao movimento iniciado em 2015 por Alumini, Galvão, Schahin e OAS. “Embora tenha buscado incessantemente reverter a situação, a Mendes Júnior viu na recuperação judicial a opção adequada para reequilibrar sua situação econômica e financeira de modo a preservar os interesses dos credores, clientes, fornecedores, colaboradores e demais parceiros”, argumentou a empresa por meio de nota.

A construtora terá 180 dias para apresentar um plano de pagamento dos credores. Nesse período, todos os compromissos da companhia, que tem 3 mil funcionários, ficam suspensos, o que deve dar fôlego para a empresa se recuperar, afirma o advogado. Embora não seja o objetivo, ele diz que a recuperação pode até preparar a empresa para uma futura venda.

Hoje um dos principais projetos tocados pela construtora é o lote 1 do Rodoanel Norte, do governo do Estado de São Paulo. O empreendimento, com 50% das obras concluídas, não deve ser afetado pelo processo judicial. Isso porque a Sociedade de Propósito Específico (SPE), responsável pela construção, não entrou na recuperação, afirma Carvalho. O governo paulista, no entanto, está de olho. A sócia da Mendes Júnior nessa SPE é a espanhola Isolux, que está em recuperação extrajudicial.

Duro golpe. O envolvimento da Mendes Júnior na Operação Lava Jato e a prisão de seu principal executivo foi um duro golpe para a construtora, que começava a superar os efeitos de outra crise. Depois de participar da construção de hidrelétricas como Furnas e Itaipu e da ponte Rio-Niterói, além de ter forte participação no exterior, a empreiteira praticamente quebrou na década de 80. Em 1998, pelas mãos do fundador da companhia, Murilo Mendes Júnior, a construtora voltou a disputar obras com o nome Mendes Júnior Trading e Engenharia. A unidade ficou com os atestados técnicos (exigidos para obras) da construtora, que tinha pendências na Justiça e não podia disputar licitações. 

Em 2013, já era a 13ª maior empreiteira do País, com faturamento de R$ 1,7 bilhão. Nessa época, conta uma fonte do setor, a empresa começou a montar uma nova unidade para disputar concessões. Contratou advogados e especialistas para compor a estrutura. Mas a Lava Jato desfez os planos. Em novembro, seu vice-presidente foi condenado a 19 anos de prisão e a construtora a pagar multa de R$ 31,5 milhões. A justificativa para a punição foi o pagamento de propina, em valor equivalente, à diretoria da Petrobrás. 

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