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Após leniência, Andrade Gutierrez conquista 20 obras e volta a empregar

Com escassez de investimento público, empreiteira prioriza setor privado e vê carteira de projetos crescer em R$ 8,2 bi

Por Renée Pereira
Atualização:

Apesar da escassez de investimentos públicos e da turbulência decorrente da Operação Lava Jato, a Andrade Gutierrez conseguiu conquistar 20 novas obras nos últimos dois anos e até já voltou a contratar. A carteira de projetos da empreiteira cresceu R$ 8,2 bilhões até junho e somou R$ 11,1 bilhões – ainda distante dos R$ 30 bilhões de 2014, quando a construtora foi envolvida na Lava Jato, mas um alento em tempos de baixo crescimento econômico.

Com os governos federal, estaduais e municipais sem dinheiro para qualquer investimento, a alternativa foi virar a chave e apostar na iniciativa privada. Ao contrário do que ocorria no passado, quando quase 70% da carteira local de projetos era de obras públicas, atualmente 96% vêm do setor privado. No exterior, porém, alguns empreendimentos ainda são públicos.

Camargo foi contratada para reerguer Paracatu de Baixo, subdistrito de Mariana (MG) destruídopelo rompimento de barragem da Samarco Foto: Fred Magno/O Tempo

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Perspectivas

Por aqui, o portfólio é composto por projetos de transmissão de energia, usinas térmicas e eólicas, além da construção de Paracatu de Baixo, um subdistrito de Mariana (MG). Há ainda outros R$ 19 bilhões em obras que podem virar contratos até o fim do ano, dependendo da confiança do empresariado com os rumos da economia.

Para a agência de classificação de risco Fitch Rating, que melhorou a nota de crédito da empreiteira, a situação da Andrade hoje é melhor que a de sua concorrente Odebrecht, que ainda não conseguiu contratos relevantes para sua carteira. 

Um dos principais pontos para a revisão da nota da empreiteira foi a mudança no mix de obras. Para a agência, os novos projetos devem melhorar a previsibilidade de fluxo de caixa operacional da empresa. “Numa obra privada, os projetos são mais detalhados, não têm aditamentos e serão pagos no prazo”, diz o diretor da Fitch, Alexandre Garcia. 

A agência, porém, alerta que o caminho de retomada da companhia está apenas no começo. Segundo a Fitch, a empresa ainda tem o desafio de continuar recuperando suas operações e sua carteira de obras de forma sustentada, a fim de melhorar a qualidade geral do crédito. “Uma recuperação gradual também depende do cenário macroeconômico brasileiro e do crescimento dos investimentos em infraestrutura”, afirma. 

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Entrave

Outro ponto que assombra o grupo é seu endividamento. Garcia diz que, em novembro de 2020, começam a vencer as debêntures de R$ 1,8 bilhão da Andrade Gutierrez Participações (AGPar), que têm as ações da concessionária CCR em garantia. “Com base nos dividendos da CCR é possível cobrir os juros, mas não amortizar a parcela que vencerá”, diz.

Isso porque o fluxo de caixa da companhia será pressionado por pagamentos de dividendos anuais entre R$ 185 milhões e R$ 190 milhões para quitar multas relativas a acordos judiciais decorrentes de seu envolvimento na Operação Lava Jato. O grupo tem cerca de R$ 1,6 bilhão em obrigações legais decorrentes de acordos com o Ministério Público Federal, Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Advocacia-Geral da União (AGU) e Controladoria-Geral da União (CGU).

Em agosto de 2021, vencem outros US$ 356 milhões de uma emissão de bonds (uma espécie de títulos) internacionais. “Não acredito que a empresa tenha condições de amortizar tudo. Haverá necessidade de rolar esse vencimento”, diz Garcia, destacando que nesse ponto o avanço da carteira de obras pode ajudar nas negociações. “Mas é importante que essas conversas já sejam iniciadas e não deixem essa dívida virar uma dívida de curto prazo.”

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Desafios de uma empreiteira

  1. Lava Jato. A exemplo de várias empreiteiras, a Andrade Gutierrez viu seu nome envolvido na operação que investigou fraudes relacionados a obras e contratos com a Petrobrás 
  2. Riscos. Apesar da recuperação recente de seus negócios, um dos principais problemas da companhia é o pesado endividamento: em novembro de 2020 começam a vencer debêntures de R$ 1,8 bilhão da Andrade Gutierrez Participações (AGPar), que têm as ações da concessionária de rodovias CCR como garantia 
  3. Acordo. Dentro da leniência feita na esteira das investigações da Lava Jato, a Andrade Gutierrez teve de arcar com R$ 1,6 bilhão em multas, que serão pagas ao longo de 16 anos, com correção pela inflação. Trata-se de um acordo fechado em várias frentes, envolvendo órgãos como o Ministério Público Federal, a Controladoria-Geral da União (CGU) e a Advocacia-Geral da União (AGU) 
  4. Nova fase. Como a maior parte das empreiteiras brasileiras, a Andrade Gutierrez também dependia basicamente de obras públicas para sobreviver. Com o advento da Lava Jato e a crise fiscal, que reduziu consideravelmente a capacidade de investimento do governo federal, a empresa se viu obrigada a mudar o perfil de atuação. No passado, até 70% de seu portfólio de obras era composto por obras públicas. Hoje, 96% dos serviços que presta tem origem no setor privado. No exterior, porém, ainda há participação grande das públicas

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