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Brasil vira mercado emergente de iates

Crescimento da classe média atrai fabricantes estrangeiros de embarcações, que buscam fusões e parcerias com empresas nacionais

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A costa brasileira, com seus 7,3 mil km, nunca atraiu tanta atenção dos gringos como agora. E não se trata de turismo. Eles estão de olho no mercado náutico do País – um segmento que tem apresentado taxas de crescimento de 10% ao ano com um potencial de expansão que fez os fabricantes de iates desejarem se instalar por aqui. O que aconteceu com a indústria automobilística na década de 80 está se repetindo agora na indústria náutica, avaliam empresários do setor.

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O interesse pelo Brasil tem explicação e vai muito além da extensão do litoral. Com a crise financeira mundial, os maiores mercados dos fabricantes de barcos – Europa e Estados Unidos – despencaram em vendas. Em contrapartida, o mercado brasileiro segue em alta, com uma classe média que não para de receber novos integrantes, ávidos por um consumo mais refinado, que inclui – por que não? – iates e jet skis.

No ano passado, a venda de barcos no mercado nacional movimentou US$ 510 milhões – um crescimento de 20% em relação a 2006. No mesmo período, os importados dispararam: de US$ 13 milhões para US$ 80 milhões. O que anima os empresários é que, além de estar aquecido, o mercado brasileiro tem para onde crescer. Com uma frota de 650 mil barcos, o Brasil tem apenas 1,6% da população no grupo dos proprietários de embarcações de luxo. Nos Estados Unidos, onde a venda ultrapassa mais de 1 milhão de unidades por ano, o porcentual é de 12,5%.

"O momento é perfeito", diz Luca Morando, CEO no Brasil da italiana Azimut – que já anunciou investimentos de R$ 200 milhões no País nos próximos cinco anos. Também com sede na Itália, o estaleiro Sessa negocia desde o fim de 2009 uma parceria com fabricantes brasileiros.

"Eles não querem ficar de fora desse mercado", diz Eduardo Colunna, presidente da Associação Brasileira dos Construtores de Barcos (Acobar) e dono do estaleiro escolhido pela Sessa para conduzir a produção no Brasil. Representantes da inglesa Fairline e da americana SeaRay também têm visitado com frequência fábricas paulistas e catarinenses, segundo executivos do setor.

"Todo esse movimento deve culminar, a partir do ano que vem, numa série de fusões e aquisições nunca vista nesse segmento", diz Marco Antônio do Carmo, diretor executivo da Yatch Brasil. Algumas dessas parcerias devem ganhar contornos mais concretos a partir desta semana, num evento que vai reunir cerca de 150 empresas nacionais e estrangeiras na capital paulista. A 13.ª edição da São Paulo Boat Show, que espera movimentar R$ 190 milhões entre quarta-feira e domingo, será um termômetro das negociações que cercam a indústria náutica nacional.

Na frente

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Nessa onda de companhias internacionais com planos de se instalar em território brasileiro, a Azimut é a que está mais adiantada. A empresa vai construir em Santa Catarina sua segunda fábrica fora da Itália, com investimentos de R$ 200 milhões em cinco anos.

Os projetos são ambiciosos. Com um terreno de 200 mil metros quadrados em Itajaí, a italiana pretende instalar aqui o maior polo náutico da América Latina – um local que une, além da fábrica, áreas de lazer, manutenção de barcos e serviços.

Para não perder tempo, a empresa começou a produzir as primeiras unidades, de maneira improvisada, num galpão de 10 mil metros quadrados. As duas primeiras lanchas fabricadas em território brasileiro devem ganhar os mares no ano que vem. São barcos grandes, com mais de 38 pés, que não custam menos de R$ 1 milhão.

Público para isso, Morando garante que tem. Ao estudar o mercado brasileiro no último ano, o CEO da Azimut diz ter constatado uma preferência por barcos maiores e mais caros, embora hoje, cerca de 85% da frota não passe de 35 pés.

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A lista de vantagens do executivo para justificar o investimento no Brasil só esbarra nos problemas de infraestrutura enfrentados pela indústria náutica. Em Santa Catarina, por exemplo, ele diz que um iate de 60 pés da Azimut não consegue ser levado para terra. "Não há marinas que comportem uma embarcação desse tamanho lá", conta. "Se quisermos tirá-la do mar, temos de levá-la para o Rio de Janeiro."

O estaleiro italiano começou a exportar lanchas para o mercado brasileiro há 15 anos. Nesse período, chegou a firmar uma parceria com a paulista Intermarine, a maior construtora de barcos do País.

A empresa, com sede em Osasco, tinha licença para fabricar aqui alguns modelos da grife internacional. A sociedade terminou de forma conturbada no ano passado, depois da morte do empresário Gilberto Ramalho, fundador da Intermarine, num acidente de helicóptero.

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Desde então, a Intermarine tem perdido espaço para outra grife brasileira: a catarinense Shaefer, que produz os barcos Phantom, com preços que variam de R$ 300 mil a R$ 2,8 milhões. Com a venda de iates em alta no Brasil, a Shaefer briga desde o ano passado na Justiça para obter autorização ambiental para construir uma terceira fábrica no Estado.

A nova planta permitiria a construção de barcos maiores, de até 60 pés. O projeto desse novo modelo já está pronto e tem 10 compradores na fila de espera. "Tivemos de nos virar no espaço que temos hoje para atender esses clientes", conta Márcio Shaefer, fundador e empresa e até hoje, projetista dos iates. "Nosso maior meta hoje é ampliar a produção para atender o mercado brasileiro, que está em ebulição."

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