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Busca dos Correios por parceiro no Postal não será fácil

Com o fim da parceria com o Banco do Brasil, empresa de envio e entrega de encomendas publicou edital para substituir banco estatal

Foto do author Murilo Rodrigues Alves
Foto do author Aline Bronzati
Por Murilo Rodrigues Alves e Aline Bronzati (Broadcast)
Atualização:

BRASÍLIA e SÃO PAULO - Operando no vermelho, os Correios vão encontrar dificuldade para buscar um substituto para o Banco do Brasil na administração do Banco Postal. O fim da parceria, por causa do modelo do negócio, foi antecipado, em julho, pelo ‘Broadcast’, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.

Criado para aumentar a inserção dos brasileiros no sistema financeiro, o Banco Postal não é mais tão atrativo, segundo executivos de bancos, por causa da menor necessidade de as instituições financeiras estarem presentes fisicamente em meio ao avanço dos canais digitais e a dificuldade de tornar a rede física rentável.

Mais de 6 mil agências dos Correios oferecem os serviços do Banco Postal Foto: Estadão

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O edital para a escolha do novo operador foi publicado ontem no Diário Oficial da União. A apresentação da proposta comercial deve ocorrer até o dia 11 de novembro. O Estado apurou que o edital foi feito para dar oportunidade a bancos médios, como o mineiro BMG. Por exemplo: o documento exige que os interessados tenham um volume de ativos totais superior a R$ 17 bilhões e patrimônio líquido superior a R$ 780 milhões, valores considerados baixos. Também abre a possibilidade de um consórcio de dois bancos assumir o negócio, o que permitiria a participação de estrangeiros. Um executivo próximo ao BMG, porém, disse que o banco mineiro não tem interesse.

Outro candidato seria o Santander Brasil, já que possui capital excedente, precisa crescer no País e ainda não tem a capilaridade de seus pares, com presença muito concentrada na região Sudeste.

Pouco interesse. Os maiores bancos, dizem fontes, parecem estar pouco propensos a entrar na disputa pelo Banco Postal. Na iminência de comprar a operação Citi no País, o Itaú, por exemplo, dificilmente entraria na briga pelo Banco Postal, já que terá uma integração pela frente, caso o negócio com o banco americano saia. A Caixa Econômica Federal também não teria apetite, afirmam as fontes. Além de já ter a rede de lotéricas, para a qual também procura um parceiro, o banco estatal tem restrições de capital.

Já o Bradesco, que ficou com o Postal por uma década e abriu mais de mil agências após perder o banco para o BB, tem o HSBC para digerir. Além disso, está impedido pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) de fazer aquisições de outros bancos por 30 meses. Há, porém, uma exceção no caso de envolver grupos que sejam de interesse do sistema financeiro nacional, análise essa que será feita pelo Banco Central (BC) e pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). O que pode contar a favor do Bradesco é o fato de o Postal ser considerado um correspondente bancário e não uma instituição financeira. No entanto, no próprio edital os Correios citam a intenção de constituir uma instituição financeira, o que pode pesar na análise do Cade.

Um executivo diz que ainda não está claro se o Postal estaria dentre os casos impedidos, mas que o apetite do Bradesco dependeria das condições do edital. Procurado, o Cade explica que o Bradesco, caso participe da licitação pelo Postal, terá de comunicar imediatamente a ocorrência da operação e demonstrar no prazo de 60 dias que a mesma se qualifica nos termos do acordo.

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A dificuldade de encontrar um sócio pode complicar ainda mais a situação financeira dos Correios. Com rombo nos últimos três anos, sendo o de 2015 de R$ 2,1 bilhões, a estatal tem neste edital uma oportunidade de injeção de dinheiro.

Boa parte dos candidatos já avaliou o Postal na rodada em que o BB saiu vencedor e alguns nem fizeram proposta como, por exemplo, o Itaú. Agora, a probabilidade de mais instituições nem darem lances é ainda maior, na opinião de executivos. A rede do Postal, além de ir na contramão da tendência bancária global de digitalização das transações, também enfrenta problemas de assalto, que pesam nos custos operacionais dos bancos, dizem fontes.

O Postal foi importante, no passado, para ampliar o acesso aos serviços financeiros em municípios do interior. Dados do Banco Central mostram que 1.987 municípios brasileiros não têm nenhuma agência bancária, mas 1.633 desses contam com um ponto de atendimento, como os Correios, que prestam serviços bancários básicos, como transferências, abertura de contas, saques, consulta de saldos e recebimento do INSS.

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Regras. Na nova licitação, os Correios estabeleceram a possibilidade de que o comprador pague uma parcela inicial de, no mínimo, R$ 600 milhões e outra do mesmo valor no início do sexto ano de operação. Também está previsto o pagamento de R$ 2,4 bilhões ao longo do contrato, que terá prazo de dez anos e poderá ser prorrogado por mais dez. O vencedor terá ainda a preferência de fazer estudos para constituir uma nova instituição financeira própria para explorar os segmentos de seguros, consórcios e capitalização. Com o BB, esse projeto não saiu do papel.

Procurados, os bancos citados não comentaram.