O contrato para montar a turbina do avião ARJ21 coloca a GE Celma na torcida pelo modelo da Comac, fabricante chinesa estatal. O ARJ21 conseguiu a certificação da autoridade aeronáutica chinesa em dezembro passado, mais de uma década após o lançamento do programa, e ainda não entregou nenhuma unidade. Mesmo assim, o modelo soma cerca de 300 pedidos em carteira, a maioria de empresas aéreas da China.
“A Comac é uma grande interrogação na indústria. O avião deles tem de provar que tem qualidade nas primeiras entregas para conseguir um espaço no mercado mundial”, disse o professor de economia da PUC-SP e da USP, Gilson Garófalo, especialista no setor aéreo.
O apoio estatal pode ser um diferencial na hora de disputar os contratos com a promissora indústria de aviação regional chinesa. “A renda dos chineses cresceu e eles querem viajar. Mas ainda não tem poder aquisitivo compatível com de europeus ou americanos. Então a demanda é por voos domésticos”, disse o coordenador do Programa de Estudos Asiáticos (ProAsia) da USP, Gilmar Masiero.
A China deve receber 1.020 aviões até 2034 no segmento que atende a aviação regional, que contempla modelos de 70 a 130 assentos, como o ARJ21 e os jatos da Embraer, segundo projeções da Embraer. Isso representa 16% das entregas mundiais esperadas na categoria.
O mercado chinês deve ser disputado por todas as fabricantes. “Há espaço para os nossos jatos e para os da concorrência, mas são as companhias aéreas que decidirão qual aeronave comprar. Hoje a Embraer detém cerca de 80% de participação de mercado na China no segmento de jatos de 100 assentos”, disse o presidente da Embraer Aviação Comercial, Paulo Cesar Silva. A Embraer tem 170 aviões na China, em operação ou encomendados.
Semelhanças. Do ponto de vista da turbina, há várias semelhanças entre o ARJ21 e o motor que move o Embraer 190. Na fábrica da GE Celma, só quem conhece bem os produtos consegue diferenciá-los. “Eles são bem parecidos. Só que o motor que vai no avião brasileiro é fixado pela parte de cima e o outro pela lateral. Por isso que a caixa de câmbio do motor ‘chinês’ vai embaixo”, explica o mecânico Gustavo Ferreira, de 25 anos, o primeiro treinado para montar a turbina para a Comac.
Ferreira está na GE Celma há quatro anos e estima que participou da montagem de um terço dos 250 motores entregues à Embraer. Ironicamente, nunca viajou de avião. “Nunca voei, mas muita gente voou nos jatos com motores que eu ajudei a montar”, diz, orgulhoso.