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Combustíveis entram na lista de congelamento de preços na Argentina

Supermercados e lojas de eletrodomésticos estão com preços congelados desde fevereiro; executivos de empresas que não acatarem a nova ordem podem ser presos

Por Ariel Palacios e correspondente
Atualização:

BUENOS AIRES - O governo da presidente Cristina Kirchner aplicará a partir de quinta-feira o congelamento de preços de combustíveis em todo o país. O autor da decisão é o secretário de comércio interior, Guillermo Moreno, o homem-forte do governo Kirchner na área econômica.

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A princípio, o congelamento ordenado por Moreno terá vigência por seis meses, coincidindo com as eleições parlamentares de outubro, decisivas para a presidente Cristina, que almeja conseguir dois terços do Congresso Nacional, de forma a implementar uma reforma constitucional que permita reeleições presidenciais indefinidas. As empresas que não acatem o congelamento ordenado pela Casa Rosada serão punidas com a "Lei do Abastecimento", a última norma decretada pelo presidente Juan Domingo Perón, uma semana antes de morrer, em 1974. A lei permite que o governo argentino aplique multas às companhias, além de prender os Ceos das empresas que violem a norma, o confisco de seus produtos, e até a expropriação das empresas.

Segundo o secretário Moreno, o congelamento de preços na gasolina e gás para automóveis pretende evitar "desajustes nas quantias que os consumidores devem pagar". O valor máximo dos combustíveis será igual ao preço mais elevado do dia 9 de abril, indica a resolução número 35 publicada ontem no Diário Oficial.

A Federação de Postos de Gasolina e Afins (Fecac) criticou a ordem do governo Kirchner. Segundo o secretário-geral da entidade, Raúl Castellano, o congelamento "complicará as negociações salariais com os sindicatos, que exigem aumentos de 30%". Castellano sustenta que a lucratividade do setor "é bem escassa".

Congelamento

O governo Kirchner - que paradoxalmente nega a escalada inflacionária alertada por economistas independentes e sindicatos - já aplica um polêmico congelamento de preços desde fevereiro a supermercados e lojas de eletrodomésticos. Segundo os analistas econômicos, o governo tenta chegar até as eleições sem altas inflacionárias que compliquem a popularidade da presidente Cristina Kirchner, em baixa gradual ao longo do último ano.

No ano passado a inflação oficial foi de 10,8%, embora os economistas indiquem que esse índice foi "maquiado" e que a alta real foi superior a 25%.

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Com o congelamento de combustíveis as empresas petrolíferas sofrem um novo revés na Argentina. Nos últimos anos, pressionadas pelo governo Kirchner, partiram do país várias companhias, entre as quais a Esso (cujos ativos na Argentina foram comprados pelo grupo argentino Bridas em associação com a chinesa Cnooc). A espanhola Repsol não pretendia partir. Mas, foi removida do controle da YPF por intermédio da expropriação desta empresa por parte do governo Kirchner no ano passado.

A Petrobrás, depois de vários momentos de tensão desde 2002, ano em que comprou a energética Pérez Companc, vendeu mais da metade de seus postos de gasolina ao empresário kirchnerista Cristóbal López. Embora a empresa não confirme, as fontes do mercado sustentam que estaria a ponto de vender mais ativos ao mesmo empresário que possui fortes laços de amizade com a presidente Cristina.

A Shell permanece na Argentina, embora tenha sido alvo de persistentes pressões da administração Kirchner. Em 2005 foi alvo de um boicote convocado em rede nacional pelo próprio Nestor Kirchner (2003-2007), quando era presidente. Na ocasião, Kirchner tornou-se o primeiro presidente argentino a convocar uma campanha em rede nacional de TV contra uma empresa estrangeira. "Não compremos uma latinha de óleo sequer da Shell", disse aos gritos na época. A medida de Moreno provocou uma queda de 3,7% das ações da YPF na Bolsa de Nova York e de 3,1% em Buenos Aires.

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