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Contra a crise, Mantega evoca ‘espírito animal’ dos empresários

Ministro da Fazenda não poupa empresários e cobra investimentos mais agressivos do setor produtivo; Mantega também voltou a criticar os bancos

Foto do author Francisco Carlos de Assis
Por Francisco Carlos de Assis (Broadcast), e da Agência Estado
Atualização:

SÃO PAULO - O ministro da Fazenda, Guido Mantega, adotou novamente a postura de colocar contra a parede os banqueiros, cobrando o aumento do crédito e a redução dos spreads bancários (diferença entre as taxas de juros pagas pelas instituições financeiras na captação de recursos e a cobrada dos clientes nas operações de empréstimos). Mantega também não poupou os empresários do setor produtivo de cobranças. "É preciso que o setor empresarial desperte seu espírito animal e faça os investimentos, pois quem sai na frente tem vantagens", disse. "É preciso que haja mais crédito dos bancos, com o spread caindo", completou, durante o Seminário Econômico Fiesp-Lide, em São Paulo. No evento, Mantega rebateu críticas diretas feitas pelo presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setúbal, que representava os banqueiros, e do presidente da Nestlé, Ivan Zurita, um dos porta-vozes do setor produtivo. Setúbal atribuiu a redução do crédito ao aumento da inadimplência e à falta de um mecanismo de recuperação de perdas. Ele disse que só o Itaú Unibanco terá que arcar com uma perda de R$ 18 bilhões por conta de calotes neste ano. O ministro, por sua vez, disse reconhecer o aumento da inadimplência, mas lembrou que é da natureza dos bancos serem pró-cíclicos quando deveriam ser anticíclicos. "Não é sair dando crédito adoidado, mas se reduzir o spread a inadimplência vai cair. Quero dizer, doutor Setúbal, que o spread bancário no Brasil é muito alto", cutucou Mantega. Após o presidente da Nestlé criticar a alta carga tributária e citar que 50% do preço de uma garrafa de água é resultante de tributos, Mantega disse que o setor de alimentos é o mais desonerado de todos, e que o governo se preocupa com o impacto da área na inflação. Em seguida, alfinetou Zutita: "A Nestlé tem no Brasil o segundo maior mercado mundial e significa que deve ter crescido lucrado bastante". Logo na abertura do evento, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, cobrou de Mantega, que o governo amplie, "em mais 60 dias", o prazo de recolhimento de impostos para "dar fôlego", no curto prazo, ao setor produtivo no momento de crise internacional e de recuo no crédito. Para Mantega, uma coisa é propor uma agenda estratégica num cenário sem crise ea outra é propô-la em momentos de crise. O ministro lembrou que a crise europeia começou diferente da crise de 2008 nos Estados Unidos, mas que seus efeitos deletérios sobre a economia estão se assemelhando. "Temos de ter ousadia para superá-la e não pode ser só do governo. O setor privado também tem de ser ousado e tem de acreditar que vamos reverter o quadro", cobrou Mantega, acrescentando que o governo está fazendo a parte dele e garantiu que a Petrobras, por exemplo, vai investir R$ 83 bilhões neste ano. "Eu posso dizer isso porque sou o presidente do Conselho da Petrobras", assegurou Mantega. Para Mantega, os europeus apenas afastaram a crise bancária da financeira com a reunião da Cúpula da União Européia no final de semana, mas que a recessão no bloco continuará e afetará as economias emergentes como China e Brasil. "Os europeus são lentos e só resolvem problemas na beira do precipício", disse o ministro, desfiando o setor produtivo a ser mais ousado e a creditar que o País pode crescer 4%.Dólar Ao comentar a entrevista do diretor de política monetária do Banco Central, Aldo Mendes, que disse que defendeu ontem em entrevista à Agência Estado, um dólar acima de R$ 2 como um piso para a indústria, o ministro reiterou que o governo já tomou medidas para desvalorizar o real em 20%. "Fazemos a política correta, estamos com o câmbio com uma posição que valorize a economia brasileira", disse Mantega. O ministro da Fazenda se mostrou otimista com o desempenho da economia brasileira ao longo do segundo semestre. Ele diz achar possível um crescimento de 3,5% a 4% do PIB anualizado na segunda metade de 2012. "Estou olhando para o segundo semestre, o primeiro foi fraco e no segundo semestre podemos crescer 3,5% a 4%. É claro que depende da atitude de todos", disse Mantega. Indagado sobre uma projeção para o ano, no único momento em que Mantega desconversou, ele disse que "continuaremos lutando para ter o maior PIB possível para este ano".

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