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Depois da Lava Jato, Camargo Corrêa troca comando e 3ª geração assume

Vitor Hallack deixa a presidência do conselho da holding do grupo e conglomerado busca se transformar em uma companhia de investimentos; Camargo Corrêa foi a primeira das grandes empreiteiras a assinar acordo de leniência e a admitir participação em cartel

Por Monica Scaramuzzo
Atualização:

Depois de dez anos à frente do conglomerado Camargo Corrêa, Vitor Hallack deixará a presidência do conselho de administração da holding do grupo. Ainda não há um substituto para o cargo. A companhia busca uma mudança nos rumos de seus negócios e caminha para se tornar uma holding de investimentos.

Sob o comando de Hallack, a construtora – fundada em 1939 por Sebastião Camargo, que deu início ao império da família – foi a primeira a admitir participação nos esquemas de cartel e propina na Petrobrás e no setor elétrico e a fechar um dos maiores acordos de leniência do País com o Ministério Público e com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), no qual pagou R$ 804 milhões, por causa de seu envolvimento na Lava Jato, operação que investiga corrupção na Petrobrás. Agora tenta virar a página. O executivo também coordenou importantes processos de expansão do grupo.

Saída de Hallack veio após vendas de ativos importantes da Camargo Corrêa Foto: Silvana Garzaro/Estadão

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Em comunicado, a companhia afirmou que está intensificando “a transição para um novo modelo de governança corporativa com foco prioritário na gestão de portfólio de investimentos com ótica de longo prazo e fortalecimento da atuação em sistema colegiado”.

O processo que está transformando o conglomerado de empresas da Camargo Corrêa numa holding de investimentos começou há pouco mais de um ano, quando as três filhas e genros do empresário Sebastião Camargo passaram o comando dos negócios à terceira geração da família, que está no conselho de administração. O conselho, que era presidido por Hallack, é composto por três netos de Sebastião Camargo, pelos maridos de duas de suas netas e por um executivo de confiança da família.

“A integração da terceira geração ao comando da holding é o caminho natural e resultado de um planejamento de longo prazo. Tenho confiança de que a Camargo Corrêa seguirá trilhando um caminho de renovado sucesso”, afirmou Hallack, em nota.

No novo modelo que está sendo construído pelos herdeiros da família, há pouco espaço para apego a empresas e negócios, que podem ser passados para a frente diante de boas propostas. O caso mais recente foi da participação de 23% da Camargo na CPFL, que foi negociada para o grupo chinês State Grid, por R$ 5,85 bilhões. Um cheque alto e irrecusável, diante dessa nova fase do grupo.

No fim do ano passado, o conglomerado também já tinha se desfeito da Alpargatas. O grupo vendeu por R$ 2,7 bilhões a dona da marca Havaianas para a holding J&F, da família Batista. Esses recursos deram um colchão de liquidez para empresa, ajudando a abater parte de seu pesado endividamento.

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O grupo também tinha saído em busca de um investidor, no fim do primeiro semestre de 2015, para sua divisão de cimentos, que representa 42,5% de seu faturamento – em 2015 a receita líquida foi de R$ 21,4 bilhões.

Com pesadas dívidas, a Camargo tentou vender uma participação minoritária da empresa, com o objetivo de levantar ¤1 bilhão que seriam usados para abater dívidas. Houve propostas do exterior, mas nenhuma chegou ao valor que o grupo queria, apurou o Estado. Chegou-se a cogitar abrir mão do controle para atrair um acionista internacional, mas essa ideia está suspensa, por enquanto.

Mudança de rumo. Depois dos envolvimentos nas operações Lava Jato e na Castelo de Areia, a família passou a discutir a saída do setor de construção, principalmente das obras públicas. Ainda não há consenso, mas a proposta do momento é reduzir o tamanho da construtora e concentrar sua atuação em obras privadas. A construtora passa também por mudanças de gestão. O executivo Artur Coutinho deixa o cargo e passa o bastão para Décio Amaral, a partir de 1º de setembro.

O conglomerado tem em suas mãos negócios uma participação na CCR, concessionária de rodovias, considerada “joia da coroa” e que não está à venda, segundo fontes.

Segundo fontes ouvidas pelo Estado, a família quer se desvincular dos recentes escândalos e tem estimulado internamente programas de denúncias anônimas contra corrupção.