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GE Celma aposta na Ásia para crescer

Empresa quer elevar a receita em 50% em cinco anos

Por Marina Gazzoni
Atualização:

Os clientes asiáticos são peça-chave para a GE Celma conseguir atingir a sua meta de elevar em 50% sua receita até 2020. As projeções de fabricantes como Boeing, Airbus e Embraer são unânimes ao apontar que a Ásia receberá a maior parte dos aviões entregues nos próximos 20 anos no mundo. A GE Celma quer participar desse movimento nas duas frentes – montando motores no Brasil para equipar aviões que serão vendidos às empresas asiáticas e, depois, trazendo os produtos de volta à serra fluminense para fazer a revisão periódica.

Só neste ano, a GE Celma pretende revisar 400 turbinas, 11% a mais que em 2014, superando a marca de uma por dia, e montar 55 unidades. Se cumprir a meta, deve fechar o ano com faturamento de US$ 1,5 bilhão. O dólar valorizado deve ajudar a empresa, que exporta 95% dos seus serviços. Em visita à fábrica, o Estado encontrou motores para revisão de empresas aéreas como Air India, Saudi Arabian e americana Atlas Air. 

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O grande trunfo da companhia para atrair clientes do mundo todo na área de revisão é mesmo a velocidade. As empresas aéreas precisam mandar um motor para revisão, em média, a cada quatro ou cinco anos de uso. “Agilidade é fundamental. Avião parado é receita perdida”, diz o presidente da GE Celma, Julio Talon. A retirada na porta do cliente também é essencial para conquistar as companhias aéreas estrangeiras. “Elas têm uma percepção de que é complicado exportar e importar para o Brasil. Por isso fazemos toda a logística de entrega e o desembaraço aduaneiro.”

A agilidade da GE Celma para revisar turbinas de avião é possível graças a um sistema operacional criado por seu antigo dono: o governo brasileiro. A empresa viveu sob o comando estatal por 26 anos, quando desenvolveu um esquema de operação vertical, capaz de reparar a maioria das peças dentro de casa. “Era difícil importar no Brasil e a palavra de ordem era soberania nacional. A verticalização da GE Celma é um resquício disso”, conta Talon, que entrou na empresa como estagiário em 1986.

O modelo verticalizado não é padrão na GE Aviation, nem na indústria. As outras oficinas da multinacional americana ajustam boa parte das peças das turbinas revisadas em empresas terceirizadas. Na prática, o vaivém da oficina para os fornecedores atrasa o processo e reduz a competitividade.

História. Antes da GE, a Celma teve outros quatro donos. A empresa, originalmente chamada de Companhia Eletromecânica Celma, nasceu em 1951 como fabricante de pequenos eletrodomésticos, especialmente ventiladores. Em 1957, começou a revisar turbinas de avião e foi comprada pela companhia aérea Panair. Com a falência da Panair em 1965, a oficina quase fechou, mas foi estatizada para salvar os empregos. Ficou sob a gestão do antigo Ministério da Aeronáutica até novembro de 1991, quando foi a segunda companhia privatizada pelo governo Collor, depois da Usiminas. 

Um consórcio formado por bancos, pela Andrade Gutierrez e pela americana GE, administrou a empresa até 1996, quando a GE comprou 100% da companhia e mudou seu nome para GE Celma. 

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Custos. Mesmo considerada um case de competitividade no grupo, a GE Celma não está imune ao custo Brasil. Só neste ano a conta de luz da fábrica aumentou 50% após os reajustes feitos no Rio. “É difícil explicar esse tipo de coisa para a matriz”, diz Talon. Segundo ele, a energia representa 2% do custo total da fábrica – o maior conta é a folha de pagamento, que consome metade das despesas.

O serviço de revisão de turbinas é essencialmente manual e depende de mão de obra qualificada. Um mecânico aeronáutico leva cerca de quatro anos para ser formado e precisa de registro na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para exercer a função. “Não temos como mexer nesse custo. Temos de reduzir todos os outros”, diz Talon.

Em troca, a GE Celma quer a colaboração da equipe para cortar custos e acelerar a operação. “Se reduzirmos o prazo em cinco dias dá para fazer mais com a mesma estrutura”, diz Talon.

Vitor Costa, da área de qualidade, pede aos mecânicos cuidado no manuseio das peças. "Só uma peça da turbina dá para comprar três Camaro amarelo", diz Foto:

No treinamento dos mecânicos, o inspetor de qualidade Vitor Costa pede o cuidado com o manuseio das peças. “Só uma peça custa R$ 623 mil. Dá para comprar três Camaro amarelo”, diz seu Vitinho, como é conhecido. Ele também pede precisão nos processos, para ele, a razão da agilidade da oficina. “O segredo é fazer certo na primeira vez. Se der errado, tem de recomeçar. Aí demora mais.”

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