O UP Group, uma cooperativa francesa que atua há 50 anos no setor de cartões de serviços e ocupa a terceira posição no ranking mundial do setor, acaba de estrear no País. Após seis meses de prospecção, a empresa comprou a Planvale, empresa nacional especializada na emissão de vales refeição, alimentação, combustíveis e transportes destinados a trabalhadores, além de recarga de créditos para transportes públicos e telefones celulares.
Com 130 funcionários e 700 mil cartões em circulação, a empresa brasileira faturou R$ 1,7 bilhão no ano passado . Por cláusulas contratuais o valor do negócio não pode ser revelado, segundo Luiz Eduardo Costa, sócio da Brasil Par Serviços Financeiros, empresa que assessorou a transação.
"Hoje a Planvale tem 1,5% do mercado brasileiro. A meta dos novos donos é ampliar essa fatia para 10% em três anos", diz Paulo Loffreda. Junto com Sérgio Mota, ele fundou a empresa em 1999. Os antigos proprietários continuarão no negócio até que seja designado o novo presidente. Depois disso, Loffreda e Mota prestarão consultoria no País por dois anos para o grupo francês que fatura € 5,8 bilhões por ano, ocupa a terceira posição no ranking mundial do setor, atrás Sodexo e da Ticket, e hoje está presente em 15 países.
A investida no Brasil ocorre após a empresa ter adquirido uma companhia do setor no México e sinaliza a intenção do grupo de expansão internacional. Segundo Loffreda, o Brasil é peça importante para o UP Group para enfrentar a concorrência da Sodexo. Isso porque o Brasil responde por cerca de 20% a 30% da receita da concorrente. O mercado de cartões de serviços movimenta mais de R$ 30 bilhões por ano no País, segundo fontes do mercado.
Mexida. Para Loffreda, com a entrada do UP Group, o mercado de cartões de serviços deve ter uma "mexida". De acordo com o ranking do Ministério do Trabalho e Emprego, três empresas - Alelo, Sodexo e Ticket - respondem por 82% do mercado. O restante está muito pulverizado e dividido entre mais de 60 empresas.
A consolidação deve se acelerar no setor, prevê Costa. Essa também é a avaliação de Ana Paula Tozzi, presidente da consultoria GS&AGR, braço da GS&MD. A consultora acredita que as empresas médias serão alvo de aquisições pelas gigantes por falta de fôlego financeiro.
É que desde janeiro deste ano, o setor de cartões de serviços, antes regulado pelo Ministério do Trabalho, passou para a esfera do Banco Central (BC). Isso porque, no entendimento do governo, essas empresas atuam como financeiras.
Até o ano passado, essas companhias recebiam o dinheiro das empresas contratantes e tinham cerca de 25 dias para pagar os estabelecimentos, como restaurantes, supermercados, postos de combustíveis, por exemplo. Nesse meio de tempo, conseguiam ganhar dinheiro com a receita financeira porque nem todos os trabalhadores que recebiam esses benefícios gastavam integralmente os créditos, explica a consultora.
A partir deste ano, no entanto, a regulamentação mudou. Gradualmente, as empresas de cartões de serviços terão que fazer um depósito no BC dos valores recebidos dos clientes ou aplicá-los em títulos públicos para garantir os vouchers emitidos. "Agora essas empresas terão que viver de taxas, o que pode não ser tão interessante", diz Ana Paula. Pelas novas regras, em cinco anos, todas as empresas do setor terão de depositar 100% dos valores carregados nos cartões no Banco Central. Na opinião dos especialistas, nem todas as empresas terão fôlego financeiro para se adaptar às mudanças.