Em meio à crise deflagrada após a delação do empresário Joesley Batista, um dos donos da companhia, a JBS S.A. informou ontem ao mercado que vai adotar um programa de venda de ativos. A meta é conseguir R$ 6 bilhões em recursos, que vão se somar ao montante de R$ 1 bilhão já anunciado na semana passada, resultante da venda das operações da empresa na Argentina, Paraguai e Uruguai.
O programa inclui a venda de participação acionária de 19,2% na Vigor Alimentos, de laticínios; de fatia da unidade de frango e processados na Irlanda, a Moy Park, bem como fazendas da Five Rivers Cattle Feeding nos Estados Unidos e Canadá.
Segundo o comunicado, o programa de desinvestimentos implicará na redução do endividamento líquido, fortalecendo a estrutura financeira. O projeto está sujeito à aprovação prévia do Conselho de Administração.
A proposta tende a ser amplamente debatida no colegiado, avaliou Paulo Rabello de Castro, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O BNDESPar, braço de investimento do banco, tem 20% da JBS.
Na saída de um evento, Rabello fez alguns comentários iniciais sobre a proposta, destacando que ainda não tinha sido oficialmente informado, mas considerava a iniciativa bem-vinda. “Como está passando por momento muito delicado, e nós somos acionistas extremamente relevantes, é o momento de unir esforços para defender empregos e o faturamento dessa empresa”, disse ele. Relatório do JPMorgan, assinado pelos analistas Pedro Leduc e Ian Luketic, considerou a proposta positiva. Segundo a dupla, aumentaria a posição de caixa em cerca de 50%, para um valor em torno de R$ 17 bilhões. Isso seria suficiente para que a empresa atinja suas necessidades de pagamento de dívidas de curto prazo, que somam por volta de R$ 18 bilhões. No entanto, a ação da empresa não refletiu essa percepção. Seguindo o movimento do mercado, que fechou em baixa, os papéis da JBS encerraram o pregão com queda de 5,35%.
Conversas. As negociações para a venda de boa parte dos ativos da J&F, holding que controla a JBS/Friboi, já estão avançadas, segundo duas fontes a par do assunto, que preferiram não se identificar. No caso da Eldorado, de celulose, a chilena Arauco e a Fibria são apontadas como favoritas para levar o ativo. A J&F confirmou na sexta-feira que mantém acordo de confidencialidade com chilena. Mas pessoas familiarizadas com a companhia dizem que conversas com a Fibria não estão descartadas. A Fibria não comentou.
A Moy Park, que estava dando início ao plano de expansão da JBS na Europa, é o ativo mais líquido a ser vendido, afirmam fontes. A chinesa WH, que controla a americana Smithfield Foods, e a gigante americana Tyson Foods são potenciais interessadas. Procuradas, não deram retorno até o fechamento desta edição.
Embora não esteja oficialmente à venda, a Alpargatas, fabricante das Havaianas, já está movimentando fundos de investimentos, como o Carlyle, a Tarpon e o Advent, conforme apurou o Estado. Em busca de ativos para fazer a sua estreia no Brasil, a gestora CVC também estaria analisando se Alpargatas e Vigor são bons alvos de investimento no País. Nenhum dos fundos comentou o assunto.
As negociações para venda dos ativos esbarram, contudo, no fato de os controladores não terem contratado banco para vender todos os seus negócios. São os casos da Eldorado e da Alpargatas, em que os próprios irmãos Joesley e Wesley estão à frente das conversas. Uma fonte ouvida pelo[BOLD] Estado[/BOLD], mas que não quis se identificar, afirmou que os empresários não costumavam fazer due dilligence (auditoria) para a compra de ativos. Agora, com as delações em curso e a pressa para vender, potenciais compradores temem que as negociações sigam os mesmos trâmites adotados pelos controladores do grupo.
Somente a Vigor tem o Bradesco e o Santander contratados para ser vendido. Esse ativo chegou a atrair o interesse da Pepsico e da mexicana Lala.
Segundo fontes, os irmãos Batista não terão dificuldade de vender esses ativos, mas não nos preços que pagaram antes. Pela Moy Park, o grupo pagou US$ 1,5 bilhão ao adquirir o negócio da Marfrig, em 2015. A Alpargatas foi comprada por R$ 2,7 bilhões. Na Eldorado, interessados falam que o negócio é avaliado entre R$ 9,8 bilhões e R$ 10,3 bilhões. No entanto, a dívida da companhia é de quase R$ 8 bilhões. /ALEXA SALOMÃO, FERNANDA NUNES, LUANA PAVANI, MÔNICA SCARAMUZZO, VINICIUS NEDER e WAGNER GOMES