PUBLICIDADE

Mudança para sistema mais líquido de preços é inevitável, diz Vale

Segundo diretor da mineradora, houve pressão de clientes para mudanças na precificação do minério de ferro

Por Daniela Milanese e da Agência Estado
Atualização:

LONDRES - O diretor de Minério de Ferro e Estratégia da Vale, José Carlos Martins, disse, nesta quarta-feira, 7, durante coletiva de imprensa após a apresentação do Vale Day, em Londres, que uma mudança do sistema de precificação do minério de ferro para um modelo mais líquido é inevitável neste momento. "Tivemos pressão dos clientes para mudar o sistema de preços", disse o executivo. Segundo ele, tanto as siderúrgicas da China quanto da Europa estão migrando para esse novo modelo, cujos contratos estão cada vez mais próximos no preço no mercado à vista.

PUBLICIDADE

A Vale está negociando com a Arcelor Mittal, um de seus maiores clientes, mudança no sistema de preços do minério de ferro. Diversas outras empresas que compram os produtos da mineradora já alteraram a forma de precificação, como a China Steel, em razão da cotação do minério no mercado à vista nos últimos meses.

"Estamos dando uma grande contribuição para os clientes. As usinas são as únicas clientes para o minério de ferro e precisamos ficar perto para ajudar com as suas necessidades", disse ele. No entanto, Martins lembra que esse modelo acaba com a previsibilidade do modelo anterior, que levava em consideração o preço do minério no mercado spot por um período de três meses, com um de defasagem.

Hoje, a Arcelor segue o sistema baseado no reajuste trimestral, com um mês de defasagem. As conversas caminham para que a empresa siga trimestre vigente - ou seja, o preço do mês da compra, um antes e um depois, com posterior ajuste, se necessário.

Martins afirmou que a Vale está abrindo mão da previsibilidade com esse novo sistema. Mas também está colaborando com seus clientes num momento de queda dos preços. Segundo ele, essa alteração "não será de graça". A empresa está impondo condições comerciais e afirmando aos clientes que, uma vez no novo sistema, não será possível voltar ao anterior. "Acreditamos que, assim, manteremos os volumes (de vendas) se movendo."

Martins destacou, entretanto, que a Vale está impondo condições para os clientes para que essa mudança seja feita. O executivo já havia afirmado em outra ocasião que o cliente que escolher pelo modelo em que os preços são mais próximos no mercado spot deverá se manter nele mesmo em período de alta.

Hoje, o sistema do trimestre vigente, já em prática com a China Steel, representa queda de 20% em relação aos valores praticados com a prática anterior (trimestral com defasagem). O executivo esclareceu que não concedeu um desconto à siderúrgica chinesa, mas sim alterou o esquema de precificação. O diretor da Vale disse ainda que não vê o minério sendo negociado em bolsa, como ocorre com as commodities, como o cobre. "É difícil estabelecer parâmetro para o minério", afirmou.

Publicidade

Europa

O executivo disse que a mineradora brasileira não vê entusiasmo com a demanda europeia no próximo ano. Ele lembrou que a produção de aço no continente não chegou a voltar aos patamares registrados antes da crise de 2008 e atualmente ainda acumula queda de 10%. "Não acho que a situação vai mudar muito em 2012, mesmo se os problemas forem resolvidos", disse.Ele destacou que as soluções adotadas pelos países europeus para solucionar a crise passam por medidas de austeridade fiscal, o que prejudica o crescimento econômico e, consequentemente, a demanda. O diretor de Finanças da Vale, Tito Martins, não acredita que o minério de ferro poderá ser cotado em bolsa de valores. Para ele, não se trata de um produto comparável, para o qual seja possível estabelecer parâmetros. "Não vejo isso acontecer", disse.

Portos chineses

Martins avalia que a adaptação dos portos chineses para receber os navios maiores da empresa leva tempo. "É preciso ser paciente", afirmou. A mineradora enfrenta dificuldades para entrar com navio na China. Segundo Martins, há uma série de regulações que precisam ser seguidas e nem todos os portos do país estão adaptados para receber navios grandes como os da Vale. É preciso, por exemplo, ter uma área de manobra suficiente. O executivo não quis estimar quanto tempo levará para o problema ser resolvido. Ele disse, entretanto, que existe uma tendência clara de uso de embarcações maiores para o transporte de minério. "É questão de tempo que esse tipo de navio seja mais usados na rota do Brasil para Ásia." Martins não acredita que a Vale errou ao adotar a estratégia de construir navios. Ele lembrou que, em 2008, a empresa perdeu dinheiro porque não existiam embarcações suficientes no mercado para transportar seus produtos.

(Colaborou Fernanda Guimarães)

(Texto atualizado às 14h55)

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.