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Múltis investem em automação para ganhar escala e reduzir contratações

Com o real valorizado e os custos com mão de obra em alta, multinacionais investem em processos automatizados para ganhar competitividade sem aumentar o número de funcionários

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Por Fernando Scheller
Atualização:

Investir no Brasil, em tempos de desaceleração dos mercados maduros, é prioridade para as gigantes multinacionais. No entanto, operar localmente é considerado caro em relação a outros mercados - fator evidenciado pelo dólar baixo. Para ganhar mercado no País sem estourar o orçamento, as companhias têm atacado o dispêndio excessivo com mão de obra. A ordem é ganhar escala investindo em mais tecnologia e evitando contratações.

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A alemã Basf é uma das gigantes internacionais que se debruçam sobre a tarefa com mais afinco. Os planos para a empresa no País estão fortemente baseados em automação. Prestes a liberar seu maior investimento no País em décadas - uma unidade de fabricação de ácido acrílico, no polo de Camaçari, na Bahia -, a companhia já decidiu que, caso o investimento saia, a ordem é reduzir a contratação de mão de obra ao mínimo necessário. Executivos da empresa disseram ao Estado que, para liberar dinheiro na matriz, é preciso mostrar que o projeto terá tecnologia e automação como forças motrizes.

Essa lógica também será aplicada à operação de tintas da Basf no País - a empresa é dona da marca Suvinil, líder de mercado no País, há mais de 40 anos. A Suvinil, com sede em São Bernardo do Campo (SP), tem a meta de aumentar a produção em 15% até 2013 - para um total de 300 milhões de litros - sem a necessidade de contratar um único funcionário de chão de fábrica. Nos próximos dois anos, os investimentos devem ficar concentrados somente em automação.

Segundo Antonio Carlos Lacerda, vice-presidente sênior da Basf para a América do Sul, a empresa vai implantar 17 projetos de revisão de processos na unidade do ABC Paulista com a meta de manter o número de funcionários em 1.260. "O foco do investimento vai mudar consideravelmente. Contratar está caro - é preciso investir em automação", diz o executivo. "E sempre dá para automatizar mais um pouco."

O investimento da matriz na Suvinil será de R$ 150 milhões de 2008 a 2013. Mas o perfil da aplicação mudou: em 2008 e 2009, a empresa aumentou seu quadro para expandir a produção em 10%. Agora, com uma meta mais ambiciosa, fará uma cruzada contra a ineficiência: a ordem, além de eliminar contratações, é cortar as horas extras pela metade.

Segundo Lacerda, a intervenção humana será mantida apenas onde for essencial. Assim, ganha-se espaço para contratações em áreas como a de pesquisa e desenvolvimento, que hoje tem 200 profissionais, mas sempre busca de talentos. "Temos sempre um banco de 15 engenheiros em vista, por causa da rotatividade grande."

Automação. A americana 3M também aposta na automação para fugir do custo da mão de obra. Segundo o diretor de operações industriais da companhia, Afonso Chaguri, a empresa conseguiu, nos últimos três anos, um avanço de 10% a 15% da produtividade em suas diferentes fábricas sem aumentar o número de funcionários. "Substituímos linhas semiautomáticas por totalmente automáticas. Ganhamos velocidade de resposta, qualidade e cortamos custos."

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A automação, de acordo com o executivo, é uma arma para a empresa se proteger da invasão de importados. Embora a 3M produza de tecnologia de ponta, a companhia se preocupa em fornecer opções mais baratas para combater a concorrência chinesa. "Ano a ano, o Brasil tem perdido competitividade em relação às outras subsidiárias. Felizmente, o motor do crescimento da 3M no Brasil é o mercado interno."

Para o economista Ernesto Lozardo, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), não há expectativa de redução de custos de contratação no País. "No ano que vem, está previsto reajuste de 14% no salário mínimo." Ele diz que usar a mão de obra com parcimônia é hoje um fator de sobrevivência. O economista lembra que não se trata apenas de uma questão de quantidade: "Em muitos casos, como o da engenharia, não existem profissionais disponíveis no mercado."

Dentro deste cenário, até empresas de serviços, que dependem de capital intelectual, buscar economizar mão de obra. Durante a inauguração do novo laboratório de pesquisa da IBM no País, no fim de junho, o presidente da operação local, Ricardo Pelegrini, disse que o País só consegue projetos porque entrega o mesmo trabalho com um menor número de funcionários.

"Não pedimos a contratação de pessoas (para um determinado trabalho), focamos o custo total", explicou Pelegrini. Segundo ele, enquanto a subsidiária indiana pode se dar ao luxo de separar 20 profissionais para um trabalho, o Brasil terá que cumprir a tarefa com 15 pessoas. "Temos que superar uma condição adversa com produtividade."

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