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Novas montadoras podem rever investimentos no País, diz Miguel Jorge

Segundo o ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, mudanças anunciadas ontem pelo governo são 'estranhas e desnecessárias'

Por Anne Warth e da Agência Estado
Atualização:

O ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Miguel Jorge disse nesta sexta-feira, 16, que as medidas anunciadas pelo governo que beneficiam a produção nacional de veículos são estranhas e desnecessárias. Na avaliação dele, a decisão pode afastar as montadoras que planejavam investir e construir novas fábricas no País. "Acredito que a indústria brasileira não precisa disso. A parcela dos veículos importados nas vendas no País é pequena", afirmou, ressaltando que a maioria dos veículos importados vendidos no País vem do Mercosul e do México, com os quais o Brasil possui acordos. "Isso vai desestimular a entrada de novas fábricas no Brasil. Eu, se fosse presidente de uma montadora que estava para entrar no País, reveria minha posição", acrescentou. De acordo com o ex-ministro, é difícil para uma montadora recém-instalada no País iniciar a produção local com alto conteúdo local de peças. "É absolutamente natural que as fábricas novas iniciem a produção com baixo conteúdo local. Desenvolver fornecedores e peças é uma tarefa que leva tempo." O ex-ministro, que também foi vice-presidente de Assuntos Corporativos e Recursos Humanos da Volkswagen do Brasil por dez anos, disse que há peças que são comuns a todos os veículos, como bateria, pneu e radiador, mas que as mais importantes, como motor e câmbio, são mais difíceis para desenvolver. Na avaliação de Miguel Jorge, faltou conhecimento do governo sobre o processo de produção das fabricantes de veículos. "Se a intenção era aumentar o conteúdo local, o melhor seria fazer contratos com as novas montadoras com um compromisso de aumento bastante rápido de conteúdo local, com prazos definidos", afirmou. "O governo teve a melhor das intenções, mas precisaria de mais informações sobre o método de produção de veículos e um aprofundamento das discussões, inclusive envolvendo os trabalhadores, o que não aconteceu." Miguel Jorge também criticou a manutenção do sistema de cobrança do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), a partir das cilindradas. Quando ainda era ministro, ele encomendou ao Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) um estudo para desenvolver um programa de certificação e identificar os modelos de carros que consumiam menos combustível e emitiam menos poluentes. A ideia, segundo ele, era que a nova política industrial incluísse uma mudança sobre a tributação do IPI, que hoje incide sobre as cilindradas. "A ideia era fazer com que o carro mais eficiente e menos poluente pagasse menos imposto. Senão, qual o estímulo para a montadora desenvolver uma tecnologia mais moderna?", disse. "Essa seria uma política industrial de verdade, porque estimula as empresas a melhorar seus produtos. Mas, aparentemente, essa ideia foi engavetada." Ele questionou ainda o argumento de que as montadoras teriam se recusado a repassar uma eventual redução de IPI para o consumidor e que, por essa razão, o governo mudou de ideia e adotou as medidas anunciadas ontem (15). "Eu acho muito difícil isso ter acontecido. As montadoras estão vendendo bem, e elas não recebem o IPI, que é automaticamente repassado ao governo", afirmou. "Com a eventual saída do IPI, a redução teria impacto no preço, a não ser que as montadoras se apropriassem de uma margem de lucro maior via IPI. Mas, nos últimos 20 anos, sempre que houve redução de IPI, o preço ao consumidor caiu. Não acredito que as montadoras tenham mudado tanto de posição em relação a isso." Para o ex-ministro, as medidas podem ser questionadas na Justiça e na Organização Mundial do Comércio (OMC). "É muito difícil e complicado para o governo, com a quantidade de modelos que existem hoje no mercado, calcular o conteúdo local de cada um", afirmou. "Eu, se fosse um dos atingidos, contestaria as medidas na OMC." Na avaliação dele, porém, as medidas não devem resultar em um atraso tecnológico dos carros produzidos no País. "Hoje podemos importar todos os processos tecnológicos. Fazemos carros de alta qualidade e isso não vai mudar."